domingo, 26 de setembro de 2021

Psicótica 67

 


Artur Gomes, um poeta campista no palco da memória

                                                                 por Deneval Siqueira

 Artur Gomes é poeta de longa ancestralidade e forte techné, e sempre nos brinda com sua poíesis de tom ritmado na pesada musicalidade de herança oral. Campista goitacá, em breve, lançará, O Poeta enquanto Coisa, cuja Psicótica – 67 transcrevo abaixo.

 Psicótica – 67

 com os dentes cravados na memória

não frequento academias

físicas – e muito menos literárias

minha palavra avária

está à beira do precipício


nem sei porque não continuei

internado no hospício

onde choques elétricos 

         aconteciam as tantas

no manicômio Henrique Roxo

na cidade de Campos dos Goytacazes

nas mil e umas noites

               de orgias satanases 


onde a medicina psiquiátrica

era exercida por capatazes

     de médicos açougueiros

e um anjo Capixaba de nome Vespasiano

                   não resistiu ao estado de surto

entrou curto circuito 

explodiu a cabeça contra a parede


e nenhum jornal da feracidade

                       noticiou o suicídio

a morte da esperança

nessa trágica história 

que eu trago acesa na lembrança

com os dentes cravados na memória

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

https://www.facebook.com/poetaenquantocoisa

 

Tendo como marca registrada da sua obra o palimpsesto e o intratexto, onde se confundem a voz do eu-lírico, refundado na memória dos jornais, do noticiário policialesco, na jornada absurda da crueldade a la Antonin Artaud e salpicada de telurismo, sua poética vem sobressaltar os menos avisados.

 

Retomando alguns traços de Jorge de Lima e Ana Cristina César, não fica no passado mnemônico, pois seu traço lírico principal é do poeta memorialista cultural e telúrico, de perfil universalista, pois joga com o absurdo e com a persona teatral, desfazendo-se da loucura qualquer que seja, pois trabalha a arte do poema com desvario lírico musical a la Bethoven, a la Wagner, compondo uma ópera do absurdo nas memórias subjacentes.

 

O percurso de Artur Gomes é muito interessante e enriquece a historiografia dos poetas brasileiros contemporâneos, assim como Adriano Moura, Flávia D’Ângelo, entre outros não publicados ainda.

 Vale a conferida. Estamos todos aguardando o livro de poemas O Poeta Enquanto Coisa (2020) , título que sugere a materialização da memória no poema, de grau cabralino, e que segundo o autor-poeta “o instante que nos obriga a ser memorialistas”. Certo. A memória não perdoa, ela finca a faca no peito do leitor, sem sangue, mas cheia de feridas.

 Deneval Siqueira

Pós-Doutor e professor Titular de Teoria e História Literária - Centro de Ciências Humanas e Naturais

Programa de Pós-graduação em Letras - Doutorado e Mestrado em Estudos - Literários da UFES

Artur Gomes

www.fulinaimagem.blogspot.com  

Fulinaíma MultiProjetos

portalfulinaima@gmail.com

(22)99815-1268 – whatsapp

EntreVistas

www.arturgumes.blogspot.com

Studio Fulinaíma Produção Audiovisual

https://www.facebook.com/studiofulinaima


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