Anjo Torto
eu sou o que invoca
o que provoca
e incorpora
desconcentra
desconforta
desconstrói
e desconcerta
eu sou o que interpreta
representa
o que inventa
e desafora
o Anjo Torto
graças a Zeus
a pedra e ao Machado de Xangô
a Capitã do Mato Caipora
me xinga de poeta enganador
mal sabe ela
que eu sou da reza
que o homem que se preza
nunca se escraviza
com chicote de feitor
Artur Gomes
O Poeta
Enquanto Coisa
https://www.facebook.com/poetaenquantocoisa
Fricção
quem passou a língua
mas coxas da Caipora?
me pergunta Federico Baudelaire
cheirando as Flores d0 Mal
no Sarau de EuGênio Mallarmè
Gigi então invoca
a Dona Santa Federika
que baixa na mesma hora
- ora bolas fui eu
com minha língua de faca
cortei a cara da vaca
a começar pelas coxas
depois subi pelo corpo
até o buraco da boca
e meti a língua na língua
e na suruba das línguas
a dela mordendo a minha
a minha mordendo a dela
a Arte então se revela
não existe Arte sem língua
nem Teatro sem linguagem
a Arte é uma grande suruba
e o resto mais é pura paisagem
Federika Bezerra
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no poema o que ficou?
para Cesar Augusto de Carvalho
no poema ficou caco de vidros
azulejando nos azuis
no poema ficou o corte mais aberto
o sangue mais secreto
tanto mal secando blues
no poema ficou a língua cega
a faca desdentada
a fome afiada onde era mel agora é
pus
no poema ficou o obsceno não sagrado
o beijo ensanguentado
o abstrato do concreto
no poema ficou um objeto
um soneto esfacelado
um hiato no decreto
no poema ficou mais um retalho
mais um trapo do espantalho
nesse circo abjeto
mo poema ficou o sangue amargo
numa noite quase nada
num curral analfabeto
no poema ficou a escuridão
nuvens de cinzas
onde antes era luz
no poema eu fiquei de pé quebrado
no velório esquartejado
nessa terra de tanta cruz.
Artur Gomes
para o livro inédito:
O Homem Com A Flor na Boca
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Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
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