segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

múltiplas poéticas


durante a viagem olhava a paisagem através da janela árvores montanhas casas abandonadas gado bovino ferro velho onde foi que não estive neste país mal assombrado tenho a leve sensação que o outono nunca vai chegar o patriarca nem vem vindo e um morcego continua na porta principal na entrada da cidade minha avó xingava que fugia do curral e minha mãe nunca mais me esperou desde o dia em que me fui embora e o 02 não é apenas um traficante de joias no lado b da nossa história


a paisagem vista durante a viagem na janela mexeu com as minhas unhas sujas de louca nem era nova granada de espanha nem canção de milton nascimento ouvia caetano cantando " o haiti é aqui' e pensava o dia que o genocida vai me olhar com seus olhos ensandecidos detrás das grades na papuda


no princípio era fábula depois veio o verbo logo depois a ficção e aí começou a invenção bem depois das sagaranagens antes fulinaimargens depois das fulinaimânicas atrás das fulinaímicas nem circo nem tarde de mímica apenas alguma paisagem na janela da viagem quando lia o lado b me transmutando em alquimia

Artur Kabrunco  

Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

leia mais no blog https://arturgumes.blogspot.com



*

Alô São Paulo!

Impactado com a leitura do livro Lado B, do meu querido amigo Cesar Augusto de Carvalho - lembrando que o lançamento será nesta próxima segunda-feira 26 em Sampa - imperdível!


a beleza atiça
até a vossa santidade
que vai à missa.

Dudu Galisa

Imagem: Amel B.


                       Solilóquios

De tanto ficar consigo
dispensou as palavras

Bastavam-lhe os gestos
(batuta invisível)
a orquestrar o silêncio

Dalila Teles Veras
[retratos falhados] 


eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro do meu centro
este poema me olha
*
                                                   Paulo Leminski


Posso até usar de diplomacia com quem tenho relações difíceis. Mas não sou dissimulado. Digo o que penso, mas só para quem percebo que está preparado para ouvir. Faço merda, falo besteira. Não sou modelo a ser seguido nas redes sociais (facebook, instagram, x, e essas coisas todas). Não sei o que é "msg no direct" e não me interessa saber. Gosto de escrever poesia e gosto mais ainda de viver a poesia que escrevo. "As pessoas que eu amo, eu amo bastante", como já escreveu o poeta. E também, como já disse o outro poeta, "distraídos venceremos". 

 

                                         Ademir Assunção 


Certidão de óbito

Os ossos de nossos antepassados
colhem as nossas perenes lágrimas
pelos mortos de hoje.

Os olhos de nossos antepassados,
negras estrelas tingidas de sangue,
elevam-se das profundezas do tempo
cuidando de nossa dolorida memória.

A terra está coberta de valas
e a qualquer descuido da vida
a morte é certa.
A bala não erra o alvo, no escuro
um corpo negro bambeia e dança.
A certidão de óbito, os antigos sabem,
veio lavrada desde os negreiros.

Conceição Evaristo


  oculta em desencanto

               inaudível em meu ouvido

             não há cor por tanto pranto

                  não há grito sem ruído

 

              vejo a espinhosa folhagem

                contorcer-se em rebeldia

              no concreto mais selvagem

                    a mais bruta poesia

 

                  e o mau cheiro defluindo

                     o aroma da liberdade

                é sujo e escuro o que sinto

                eiva a flor por entre grades

 

                        (Jorge Ventura)



Sarau Campos VeraCidade

     Torquato Leminski 80

 Dia 15 de Março 19h - Palácio da Cultura – Campos dos Goytacazes-RJ

música teatro poesia

mesa de bate-papo :um olhar sobre a cidade no que foi o que é e o que pode ser.

Participações:

Sylvia Paes + Fernando Rossi + Carol Poesia + Clara Abreu + Jonas Menezes + Thais Fajardo + Marcelo Perez + Jonas Meneses + Simone Jardim  + Projeto GOTTA -

produção e direção: Artur Gomes e Clara Abreu

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https://coletivofulinaimadecultura.blogspot.com/


ENSAIO SOBRE AS MANHÃS

A porta do fim dá num beco inusitado,
repleto de recomeços.
Ninguém descobre o frescor do chão desabitado,
enquanto o medo jura seus infernos!
Mas se a vida chama e o sujeito mete a cara,
não há terror que o aterre em jardim morto.
Movem-se as horas de infinito e novidades,
que não cabem nas compotas das certezas.
O vento descabela de improviso as folhas,
forrando de beleza o caminhar
(e há dor na rebentação dos ramos).
Os dias são bichos indomados,
sem nome e classificação:
ninguém se socorre do sofrer por adivinhação,
nem pondo tranca nos abraços.
A vida entra em qualquer gruta
e cata o ente debaixo de pedra,
quando cisma de ensinar pelo padecer.
Também o sol invade o olho agoniado,
devolve o infeliz ao sonho,
e transforma em liquidez seu sangue coagulado.
O certo é que nunca se sabe o que a manhã assina:
e a sorte é o não saber!

Carmen Moreno  
Livro “Sobre o Amor e Outras Traições”, Editora Patuá.


 ENRAIVECIDA NA FURIA DO SEXO (Rabid, 1977) | Direção: David Cronenberg

Legendado no youtube: https://youtu.be/UU35GxkZ_VM


Sem sombra de dúvida, é o melhor título em português que um filme já ganhou no Brasil. Enraivecida na Fúria do Sexo, tradução para Rabid, que seria apenas, simplesmente, “Raiva”. Genial.

 Deveriam dar um prêmio para o sujeito que bolou esse nome! Fora isso, David Cronenberg rodar um filme de uma garota, vivida pela então atriz pornô hardcore Marilyn Chambers, que tem uma vagina mutante no sovaco, a qual ela usa para matar suas vítimas durante o ato sexual, chupar seu sangue e transmitir um vírus que dá início a um surto de raiva na cidade de Montreal, é mais genial ainda.


Como sabemos, o rei do horror venéreo em seu segundo trabalho volta a provar porque o cinema de terror dele é calcado no fetiche pela carne, desejo sexual e perversão humana e o descontrole da ciência e medicina, e neste caso em específico, quase uma visão premonitória do efeito devastador que se abateria na sociedade com o final do hedonismo dos anos 70 e a explosão da Aids na década seguinte. Afinal, a trama principal resume-se ao contágio de uma doença sexualmente transmissível, mesmo que não praticada do modo bíblico, transmitida então por uma mulher, algo completamente fora dos padrões cinematográficos da época, sedenta por sangue, que irá se desencadear em uma epidemia de raiva fora de controle, onde os homens, vítimas fáceis e falhas como são, são regredidos a um estado animalesco de brutalidade, servindo apenas como agente disseminador do vírus, e morrendo logo em seguida, após transmiti-lo pela saliva.


Esse órgão mutante foi resultado de uma experiência plástica mal sucedida, quando Rose (Chambers) e seu namorado, Hart (Frank Moore) sofrem um terrível acidente de moto. Hart apenas tem leves ferimentos nas mãos, mas Rose fica parcialmente queimada e desfigurada, e atendida pelo Dr. Keloid (Howard Ryshpan), pois o acidente ocorre bem em frente à sua clínica, o médico a vê como cobaia perfeita para um tratamento experimental de implante de enxertos neutros de pele. Rose então se torna a incubadora deste vírus e ao escapar da clínica começa sua caça aos homens, dando início a epidemia que gerará uma série de medidas de saúde pública com o governo iniciando uma campanha de vacinação e quarentena militar na cidade. Como de se esperar, Enraivecida na Fúria do Sexo, assim como o cinema de Cronenberg é travestido de alguns pontos curiosos.


 Primeiramente é válida a tremenda coragem e ousadia de um jovem cineasta, que após tomar pau da crítica puritana canadense, julgando seu filme de estreia, Calafrios, como “pornográfico” e de mau gosto, resolveu retomar ao tema, porém em uma escala superior e com maior refino técnico e orçamento, e escolher uma atriz pornô como protagonista e sambar na cara da sociedade criando um modo de contágio realmente pornográfico.


Segundo é a quase sempre violência gráfica constante em sua obra. Com a frieza de um cirurgião, Cronenberg se afasta limpamente de qualquer emoção e apenas explora o gore de modo impassível, tanto na transmissão da doença, quanto no ataque dos infectados com suas mordidelas e nas resoluções da autoridade para resolver o problema. Culpa mesmo, só de Hart, o responsável indireto pelo acidente de moto e no estado atual de sua namorada, e nos momentos de redenção da protagonista, raros e rápidos, mesmo tendo se tornado uma predadora de homens como uma hospedeira de um agente biológico/patológico que quer se reproduzir, assim como a própria natureza humana. E falando de natureza humana, assim como George A. Romero fez em seu O Exército do Extermínio, há todo um discurso como subtexto referente ao comportamento humano (leia-se hostil), tanto dos civis quanto dos militares, em como lidar com essa crise. A cena final exprime perfeitamente o que quero dizer aqui.

 Fora isso, há, por que não, um paralelo ao cinema zumbi, até do próprio Romero, de que segundo opiniões de altas autoridades científicas, devemos deixar qualquer moral ou religiosidade de lado, e em nome da autopreservação, simplesmente exterminar os infectados, sendo entes queridos ou não.


Como curiosidade em uma cena onde Rose está passando pela cidade, em frente a um cinema há o pôster do filme Carrie de Brian De Palma. E Sissy Spacek era a primeira opção de Cronenberg para o papel da protagonista. O produtor executivo Ivan Reitman (diretor de Os Caça-Fantasmas) quem sugeriu ao diretor o nome de Marilyn Chambers para aumentar o sex appeal. E se não fosse a moçoila, nunca ganharíamos o título de Enraivecida na Fúria do Sexo no país, para capitalizar em cima do nome da atriz pornô. Boa, Reitman! Boa, Cronenberg! 


minha canção do exílio
é a canção de quem
anda perdida
vagando triste e a esmo

no caminho não existe
sabiá, palmeiras e
assentado em
minha alma - mandacaru
há um carcará

seu canto fétido
rapina desgraçada
roubou a pouca carne que
me resta, ossos expostos

não permita o dianho que eu definhe
e minha vida chegue ao fim
sem que eu volte para o eu
que anda perdido de mim

Simone Bacelar



                    guarde suas energias

para o sarau

não gaste todas neste carnaval 


Anjo Torto

 

quando nasci Torquato Neto

veio ler a minha mão

tinha chegado de Teresina

com uma garrafa de cajuína

e um livro na outra mão

me disse aberto e franco

com um poema entre os dentes

vá bicho!

não tenha medo do inferno

seja um poeta moderno

cheire as flores do mal

que a poesia de Baudelaire

vai te salvar no final

 

Artur Gomes

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https://fulinaimagens.blogspot.com/


TANKA para Torquato

lua escarlate –
não ter medo do inferno
é um dever do poeta.
tremeluz o vaga-lume,
anjo torto navilouco.
*
Ruisu Ukezara ルイス受け皿 (1962/2017) psicografado por Ziul Serip.


Agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início;
agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam assim:
do precipício:
a guerra acabou
quem perdeu agradeça
a quem ganhou.
não se fala. não é permitido
mudar de idéia. é proibido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos
está vetado qualquer movimento
do corpo ou onde que alhures.
toda palavra envolve o precipício
e os literatos foram todos para o hospício.
e não se sabe nunca mais do fim. agora o nunca.
agora não se fala nada, sim. fim, a guerra
acabou
e quem perdeu agradeça a quem ganhou.
Agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios.
Você não tem que me dizer
O número do mundo deste mundo
Não tem que me mostrar
A outra face
Face ao fim de tudo
Só tem que me dizer
O nome da república ao fundo
O sim do fim
Do fim de tudo
E o tem do tempo vindo;
Não tem que me mostrar
A outra mesma face ao outro mundo
(não se fala. não é permitido:
mudar de idéia. É proibido
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos
está vetado qualquer movimento

Torquato Neto

 


deve ser a irmã da cinderela

mas se não for é ela


.
o
corpo
não
mente
todo
poema
é
politica
mente
impo
tente

os
poetas
super
estimam
a poesia

os
domingos
minguam
entre
coxas -
moças

os
poetas
se
masturbam
o
corpo
insiste

( de cristais
escuros e
flácidos
rochedos
a cor da
água ao
sangrar teu
fogo
ao dar casa
à dor do
gozo )

romper urgente
hímen - cidade
incitar acinte
encetar açoite

os
poetas
se
congratulam
contentes
o
mercado
existe

impor poemas
putrefatos
amar o
tédio
e os
ermos
espaços

os domingos
estão
extintos

o corpo
não
sente
toda dor
está
estetica
mente
do
ente

sincronizar
semáforos
entronizar
áporos

o
poema
não
basta
e
a
besta
exige

o fim
do
ferro
fabril
da
formiga
sobre
a
farra
febril
da
cigarra

garbo gomes

Arte:
Imagem Merz
32 A. A imagem
da cereja

Kurt Schwitters
1921 

— em Curitiba, Paraná




o dia ao findar
contempla a minha tristeza
como uma vazante

repleta de cicatrizes
que estão sempre supurantes

© Renata Cordeiro
🌹
Arte: "Ondas ao Pôr do Sol" de Rotaru Dragos


   A POESIA FICARÁ

 

mesmo que para sempre eu passe

haverá haverá casais

aos beijos às margens do sena

pescadores esparsos beira

pomba e ao largo do tejo

esse o fonema o dilema

passo a passo descompassado

eu passo para sempre eu passo

 

e passamos rumo ao esquecimento

que importa o poema febre fugaz

– peça passe compasso de passagem –

se o pôr do sol sempre brilhará

magnífico no palco de ipanema

pôr do sol que se esvai no céu e some

e apaga no quadro as minas-montanhas

 

e só sobra o poema feito poesia

homero ronsard shakespeare whitman

pessoa poe rimbaud baudelaire eliot

resta a poesia drummond cabral camões

 

a poesia ficará

anos muitos anos passados

e esse beijo à beira-sena

à beira-pomba beira-tejo

mãos mãos se enlaçando

namorados à beira rio

séculos séculos depois

sobrarão avencas acácias

e o forte aroma das magnólias

 

Ronaldo Werneck

 Cataguases, maio 2020

Publicado na Coletânea

 “Conexões Atlânticas”,

Lisboa, outubro de 2020


Clara Abreu – Atriz e co-produtora do Sarau Campos VeraCidade

Início da carreira no âmbito teatral em 2013, aos 15 anos, pelo Curso Livre de Teatro na cidade de Campos dos Goytacazes, onde no mesmo ano já integro um espetáculo e início minha participação em eventos artísticos-culturais da cidade, com indicações significativas no ano seguinte no FESTIM (Festival de Teatro Infantil) realizado no Teatro Trianon.

Algumas premiações fizeram parte desta trajetória como Melhor Texto Original e indicação ao de Melhor Atriz, ambos pelo SATED, no Teatro de Bolso Procópio Ferreira.

Os trabalhos mais recentes preencheram a programação deste Teatro, bem como casas de cultura independentes da cidade, a Bienal etc.

Hoje, licenciana em Teatro pelo Instituto Federal Fluminense e com objetivo latente em proporcionar um acesso mais democrático ao Teatro indo em escolas e comunidades da Região afim de levar discussões como a Violência Contra a Mulher com a esquete autoral DANINHA, em parceria com a Patrulha Maria da Penha.

veja toda programação no blog
https://coletivomacunaimadecultura.blogspot.com/


meta metáfora no poema meta

como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico plumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste

como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em plumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece

 

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

www.secretasjuras.blogspot.com 


 

Due progetti collaborativi. "Ryosuke Cohen BrainCells/Fractal portrait project - Studio d'arte il Graffiacielo, a cura di Maya Lopez Muro. E un add&pass ricevuto da Lancillotto Bellini e inviato a Dania Gentili

Dois projetos colaborativos. «Ryosuke Cohen BrainCells/Fractal portrait project - Skyscraper art studio, editado por Maya Lopez Muro . E um add&pass recebido por Dania Gentili e enviado para Lancillotto Bellini



"Viver é um descuido prosseguido".
Sigo à risca. Me descuido e vou...
Quebro a cara. Quebro o coração.
Tropeço em mim. Me atolo nos cinco sentidos.
Viver não é perigoso? Então, com sua licença!
Não tenho medo. Nasci assim.
Encantada pela vida. O sertão é dentro da gente.
Ah, como não? Aqui tudo é achado.
Somos ferro e fogo. Perigo nunca falta!
Sertão é igual coração.
Se quiser, que venha armado! Tudo é igual.
Aqui se vive. Aqui se morre. Dentro e fora da gente.
Confusão demais em grande demasiado sossego."

Guimarães Rosa


A música Construção, do Chico Buarque, e os corpos que não importam

A música "Construção", do Chico Buarque, é uma das canções mais bem elaboradas do cancioneiro brasileiro e sua letra é uma das mais importantes e atuais, porque retrata a crudelidade do capitalismo selvagem e seletivo, as afecções dos corpos - os "anormais" - : negros, negros de periferia, mulheres, mulheres negras e de periferia, PcDs, LGBTQIA+, idosos, pessoas com nanismo, mães solo, grávidas etc., seus dispositivos de controle, os micropoderes, a desimpôrtancia de um corpo inserido na "humanidade?", toda essa compreensão clássica do homem e a construção de subjetividades, que essa antropologia clássica do homem não dá conta, somente uma sociologia e antropologia filosófica são capazes de pensar e problematizar tais assuntos, assuntos, aliás, explorados por Michel Foucault [Vigiar e Punir] e, recentemente, por Judith Butler [Corpos que importam - os limites discursivos do "sexo"] e Ailton Krenak [O amanhã não está à venda] Aqui, na letra de "Construção", do Chico, o corpo do operário da construção civil, ao cair por acidente de trabalho, atrapalha o tráfego, ninguém se comove com aquele corpo, logo passa a ser inútil para o capitalismo, porque não mais produz.

 

Dudu Galisa 


 

Dentaduras duplas!
Inda não sou bem velho
para merecer-vos...
Há que contentar-me
com uma ponte móvel
e esparsas coroas.
(Coroas sem reino,
os reinos protéticos
de onde proviestes
quando produzirão
a tripla dentadura,
dentadura múltipla,
a serra mecânica,
sempre desejada,
jamais possuída,
que acabará
com o tédio da boca,
a boca que beija,
a boca romântica?...)

Resovin! Hecolite!
Nomes de países?
Fantasmas femininos?
Nunca: dentaduras,
engenhos modernos,
práticos, higiênicos,
a vida habitável:
a boca mordendo,
os delirantes lábios
apenas entreabertos
num sorriso técnico
e a língua especiosa
através dos dentes
buscando outra língua,
afinal sossegada...
A serra mecânica
não tritura amor.
E todos os dentes
extraídos sem dor.
E a boca liberta
das funções poético-
sofístico-dramáticas
de que rezam filmes
e velhos autores.

Dentaduras duplas:
dai-me enfim a calma
que Bilac não teve
para envelhecer.
Desfibrarei convosco
doces alimentos,
serei casto, sóbrio,
não vos aplicando
na deleitação convulsa
de uma carne triste
em que tantas vezes
me eu perdi.

Largas dentaduras,
vosso riso largo
me consolará
não sei quantas fomes
ferozes, secretas
no fundo de mim.
Não sei quantas fomes
jamais compensadas.
Dentaduras alvas,
antes amarelas
e por que não cromadas
e por que não de âmbar?
de âmbar! de âmbar!
feéricas dentaduras,
admiráveis presas,
mastigando lestas
e indiferentes
a carne da vida!

Carlos Drummond de Andrade  






CAPTURA IDENTITÁRIA?

Ganimedes

Obra do artista Alexandre Mury


 No Brasil, o acumulo de grandes riquezas alimentam as desigualdades.


Um mundo mais justo e menos desigual é possível, mas para isso é necessário quebrar os monopólios e taxar os super ricos!

E você, o que acha?


As Cousas do mundo

Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa,
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.


Gregório de Matos 


“Gil, meu irmão, faz 71 anos. Toda música que consigo produzir se deve a tê-lo encontrado em 1963. Nunca cheguei (nem imaginei chegar) aos pés dele. Escolhi essa foto que eu adoro e porque é no meu ap de Sampa, em 1968, e estamos com as roupas que usamos na noite em que cantei ‘É proibido proibir’ e ele, ‘Questão de ordem’. Minha roupa é toda de plástico. E tem um quadro de Vellame na parede”,

 

Caetano Veloso.


Arte de Rua em meio aos escombros 

*


*


A garota do seu sonho 


À casa é sua
Você pode abrir a janela
Olhar para lua
Você pode pensar nela
e que ela estava quase nua

Dra. Gabriella Oliveira [2024] - Todos os direitos reservados














 

 

Sarau Campos VeraCidade

Sarau Campos VeraCidade   Dia 15 de Março 19h - Palácio da Cultura - música teatro poesia   mesa de bate-papo :um olhar sobre a cidade no qu...