terça-feira, 29 de março de 2022

demarcação é uma questão de justiça



DEMARCAÇÃO É UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA –

Wilson Coêlho

Há que se pensar um Brasil nunca pensado antes. Para se fazer do Brasil um país soberano, as pautas dos indígenas, dos quilombolas e da reforma agrária são prioritárias e urgentes e, obviamente, vêm com um atraso de mais de cinco séculos, desde a invasão dos colonizadores. E como dizia Enrique Dussel, não foi um descobrimento, mas um "encobrimento do outro", sem nenhum respeito ou consideração à alteridade. Por esse motivo e por tantos outros, não há espaço de conciliação no inconciliável. Apesar de ter me referido a três prioridades, agora vou me ater à primeira e mais urgente, a questão indígena. Em próximos momentos exploro os quilombolas e a reforma agrária.

Retomando o tema indígena: Demarcação já! A terra aos seus legítimos donos. Conforme o IBGE, desde 1872, houve 11 Censos no Brasil e, o mais recente foi realizado em 2010, o que significa, para muitos pesquisadores e formuladores de políticas públicas, que alguns dados brasileiros estão desatualizados em mais de uma década. Mas de acordo com esse último Censo, de 2010, a população indígena no Brasil era de aproximadamente 817 mil pessoas, organizadas em 270 etnias falantes de 180 línguas distintas e quase 100 dialetos. Mas voltando aos primórdios, segundo dados publicados pela Funai, a população indígena em 1500 era de aproximadamente 3.000.000 habitantes divididos entre 1.000 povos diferentes, sendo que aproximadamente 2.000.000 estavam estabelecidos no litoral do país e 1.000.000 no interior. Esses dados provam o quanto desses povos foram exterminados e como até hoje esse projeto genocida continua em voga. E o genocídio não se limita apenas à questão do extermínio físico, mas também o da memória.
É muito comum qualquer idiota se referir a uma atitude insana como "programa de índio", ou mesmo, até com pessoas consideradas cultas se referirem ao Tupiniquim como algo depreciativo. Em 2010, estive em Roraima e fiz contato com Yanomami, Macuxi, Wapichana, Igaripó e Wai-wai. Muitos jovens/adolescentes Macuxi estavam vivendo e trabalhando entre os chamados civilizados ou, conforme Darcy Ribeiro, "sifilizados". O mais deprimente é que muitos deles não queriam ser reconhecidos como indígenas, pois no processo de "educação/alfabetização, em todos os livros, eles eram interpretados como idiotas, como "sem cultura". Essa é a arma do colonizador, depreciar o colonizado para que até ele mesmo seja condicionado a aceitar essa criminosa justificativa dos dominantes.

Mas quando me refiro à demarcação, significa o reconhecimento dos legítimos donos da terra. Uma área ocupada pelos indígenas não dever ser considerada propriedade do estado brasileiro, mas um território dessas nações que ali vivem.

Os territórios indígenas devem ser respeitados como pertencentes às nações que os ocupam. Nenhum garimpeiro, latifundiário ou qualquer aventureiro deveria adentrar a esses territórios sem permissão, sem um "passaporte". Nem o presidente da república que, se quisesse entrar, deveria estabelecer uma relação diplomática entre nações.

Quando os portugueses chegaram aqui, olharam para esses povos e os chamaram de índios e, depois, fizeram uma cerca em volta deles e batizaram a terra de Brasil. Mas eles não tem nada a ver com isso. Eles não são índios e nem brasileiros. Eles são povos, nações, com língua, história e cultura, cada um com sua interpretação de mundo, sua cosmogonia.
Demarcação já e respeito a esses povos originários e que, graças a eles, o Brasil não se transformou num Saara, pois são os grande defensores e preservadores da natureza.

A demarcação não se trata de uma dádiva divina ou um favor do governo, mas uma questão de justiça e de humanidade.


FulinaímaMultiProjetos

o homem com a flor na boca

 


Passaporte para uma viagem ao desconhecido

Novo e-Book do poeta Artur Gomes já está na fita, clica baixa gratuitamente e lê:
https://jidduksonline.com.br/ornitorrincobala-arturgomes.../


cacomanga

na roça desde cedo comecei a escavar palavras e separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de milho para os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não dependo de mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada capinei a liberdade e descobri que ditadura é uma palavra que não cabe nunca mais

 Do livro Pátria A(r)mada

www.arturgumesfulinaima.blogspot.com

Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 – whatsapp

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com

segunda-feira, 28 de março de 2022

PoÉticas Fulinaímicas

 


No próximo dia 9 estarei em Campos autografando meus livros Juras Secretas e O Poeta Enquanto Coisa na festa de aniversário de um grande amigo parceiro, dos tempos em que no Estado do Rio de Janeiro, havia Festivais de Música em cidades como Campos, São Fidélis, Itaocara, Macaé, Miracema, Santo Antônio de Pádua e por aí vai.

Lei mais no blog

https://coletivomacunaimadecultura.blogspot.com/2022/03/o-poeta-enquanto-coisa.html

 Nessa noite o meu amigo estará lançando o seu primeiro CD, onde estou presente em duas parcerias: Águas Claras e Qualquer Luz. Um outro grande parceiro Paulo Ciranda, também está nesse CD, com Estrelas. Tenho certeza que será uma grande surpresa os meios musicais  Campistas.

 Clic no link para ler o e-book O Homem Com A Flor Na Boca – de Artur Gomes produzido por Jiddu Saldanha

 https://jidduksonline.com.br/wp-content/uploads/2021/08/O-HOMEM-COM-A-FLOR-NA-BOCA-OU-O-POETA-ENQUANTO-COISA-ARTUR-GOMES-2021-POESIA.pdf



algas se decompondo

 

pisei em algas podres

ontem nas areias de Manguinhos

queimaram as solas dos meus pés

peixes morrem envenenados

nem precisam comê-las

o calor nas águas provocados

pela decomposição se incumbe

de mata-los

 

Artur Gomes Fulinaíma

www.fulinaimargem.blogspot.com

 

 ontem gargaú

hoje buena

vida plena

nas asas da poesia

algaravia em meu pedal

estrada que vai dar no mar

estou me guardando para o carnaval

 

Federico Baudelaire

www.fulinaimacentrodearte.blogspot.com







por onde andará macunaíma

 

era uma vez um mangue

por onde andará macunaíma

na sua carne no seu sangue

 

na medula no osso

será que ainda existe

algum vestígio de Macunaíma

na veia do seu pescoço?

 

Artur Fulinaíma

www.coletivomacunaima.blogspot.com



o poeta

 

antes um tigre

me enfiava as patas

me doía

 

ontem o poeta

me enfiava a língua

enquanto eu chupava

ele me lambia

 

Rúbia Querubim

www.ciadesafiodeteatro.blogspot.com



 

O LEÃO

 

em meu peito há um leão que urge

mas eu lhe digo: — fique quieto leão!

e no segundo seguinte que surge

não me seguro diante do não

e o cutuco no coração para que ruge

e lhe digo novamente — fique quieto leão!

 

e o leão, agora bravo,

não me escuta diante do maltrato

e lhe digo gentilmente: — fique calmo leão!

 

só que sempre em frente ao perigo eminente

sei muito bem aquilo que fatigo por contente...

 

próximo ao poente, camuflado entre a giesta

o rei da floresta, carente de afago e amigo

organiza a seresta do estrago comigo...

 

em recuo arrependido eu me digo:

— não se cutuca o leão!

você nunca aprende esta lição

 

 Jéssica Iancoski



o amor

uma galocha velha

se embrenhando em terra de mato, rio de gente

que eu nunca tiro

 

tiro!

 

e cuido dos pés

indeterminadamente

enquanto reedito

os mapas

 

Clara Baccarin



 

 

Coador de café

 

café coado na calcinha

com cheiro que vem de Fescênia

e deixa o poeta tonto, tonto

da cafeína e do cio da menina

talvez seja o cheiro de torrado

a fazer o poeta espirrar

sacas e sacas de grãos

com o cheiro daquele lugar

a mãe costumava dizer:

“cuidado com aquelas garotas

que costumam coar café na calcinha

dessas não consegue se escapar

nem pela porta da cozinha”

mas conselho foi feito para não seguir

e o poeta foi atrás de outras minas

o coitado virou refém do café

e do coador em formato de calcinha.

 

Linaldo Guedes




Fulinaíma MultiProjetos

www.fulinaimamultiprojetos.blogspot.com

quarta-feira, 23 de março de 2022

pastores e bispos evangélicos - a desgraça do país

 


hoje amanheci puta da vida com as notícias que li ontem sobre o que acontece no MEC nesse país de merda dominado por milicianos bandidos pastores e bispos escrotos. Lá pelos idos dos anos 80 Leonel de Moura Brizola, a hora que evangélicos entrarem na política vai ser a desgraça do país. Taí o resultado, eles estão espalhados por todos os recantos do país saqueando à mão armada o gigante adormecido

 

Rúbia Querubim

A canhota capixaba

www.personasarturianas.blogspot.com


terça-feira, 22 de março de 2022

Projeto Arte Cultura - ONG Beija Flor

 




Projeto Arte Cultura

Oficina de Teatro

 grupos com 20 alunos tendo como público alvo estudantes e moradores de Gargaú em geral

Grupo 1 – Idade de 10 a13 anos

Dia Quarta-Feira – Horário – De 15 às 17h

Grupo 2 – Idade de 14 anos em diante

Dia – Sábado – Horário – Das 10 às 1h

 A Oficina de Teatro abordará em seus primeiros passos as questões do Corpo e da Fala, levando cada aluno a procurar o seu melhor equilíbrio com a sua voz e o seu movimento corporal.

 Esta Oficina também abordará Fotografia e Produção Cine Vídeo levando cada aluno a experimentar uma atividade que melhor caiba em sua sensibilidade

Além dessas Oficinas citadas acima, o Projeto Arte Cultura na Ong Beija-Flor oferecerá também uma Oficina de Leitura de Poesia  dirigida por Joilson Bessa da Silva, ator e professor integrante do Coletivo Macunaíma de Cultura



                      Projeto Arte Cultura

      Oficina de Teatro

 FICHA De Inscrição

 

Nome_________________________

Endereço_____________________________________________________

 

e-mail_________________________

Celular­­_________________________

 

Assinatura______________________

 

Artur Gomes

Fulinaíma MultiProjetos

fulinaima@gmail.com

(22)99815-1268 – whatsapp



Nação Goytacá

domingo, 20 de março de 2022

navio negreiro



Navio Negreiro
Castro Alves

I

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................

Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.

II

Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.

Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!

O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!

Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...

III


Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...

V

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...

Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...

VI

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
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COMENTÁRIO
O Navio Negreiro é um dos poemas mais significativos do romantismo brasileiro. Enquanto outros poetas como Gonçalves Dias, tomam o índio como herói, Castro Alves tomou o negro, nada estético, tido como de casta inferior na sociedade, sem nenhum valor mítico.

O índio foi um herói bem mais fácil de ser forjado, pois existia apenas como mito, não participava da sociedade e tinha valor heróico, por causa da sua tradição guerreira. Assim, o negro, em Castro Alves, é quase sempre um mulato com feições e sensibilidade de um branco. O amor é tratado como um encantamento da alma e do corpo e não mais como uma esquivança ou desespero ansioso dos primeiros romances.

A temática social abordada por Castro Alves, explicitada na denúncia dos horrores da escravidão e na luta pela sua abolição, difere por completo dos tópicos recorrentes na fase do Ultra-Romantismo ou "Mal do Século", representados por poemas que abordam, num universo de pessimismo e angústia, os seguintes aspectos: individualismo, solidão, melancolia, frustração e morte.
Um dos mais conhecidos poemas da literatura brasileira, O Navio Negreiro – Tragédia no Mar foi concluído pelo poeta em São Paulo, em 1868. Quase vinte anos depois, portanto, da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos, de 4 de setembro de 1850. A proibição, no entanto, não vingou de todo, o que levou Castro Alves a se empenhar na denúncia da miséria a que eram submetidos os africanos na cruel travessia oceânica. É preciso lembrar que, em média, menos da metade dos escravos embarcados nos navios negreiros completavam a viagem com vida.

Composto em seis partes, o poema alterna métricas variadas para obter o efeito rítmico mais adequado a cada situação retratada. Assim, inicia-se com versos decassílabos que representam, de forma claramente condoreira, a imensidão do mar e seu reflexo na vastidão dos céus.

INSTITUTO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO ELISA VALLS
Língua Portuguesa Profª. Rosane R. Gelati 




fedra


onde não tenho o que quero
procuro
mesmo na escuridão do tempo
não tenho contra/tempo
em minha mente
quando a faca entre/dentes
corta a traça que consome
qualquer tempo em desatino
e a raça do meu nome
abre as portas do destino


Federika Bezerra

www.personasarturianas.blogspotcom





algumas coisas no face não são para entender. o que é um atentado contra segurança por exemplo? será que estamos cercados de terroristas por aqui? qual a verdadeira razão de bloquear uma conta, ou bloquear uma postagem aqui com essa alegação? ou será que ainda estamos vivendo na era do sexos dos anjos. Digo isso porque a conta do meu amigo Oswald de Andrade foi bloqueada e ele não consegue reavê-la, e o motivo: um poema erótico. 



Brazílica Pereira


neste país de fogo & palha
se falta lenha na fornalha
uma mordaz língua não falha
cospe grosso na panela
da Imperial tropicanalha

não me metam nestes planos
verdes/amarelos
meu dentes vãos/armados
nem foices nem martelos

meus dentes encarnados
alvos brancos belos
já estão desenganados
desta sopa de farelos


uma faca só lâmina
para João Cabral de Melo Neto

uma faca só lâmina
tritura o intestino fino
corrói intestino grosso
mastiga a lama do osso
nessa noite cabralina.



sabrina

teu olho de lamparina
incendeia
toda noite severina



Mulher
meu poema
se completa em teu vestido
roçando a tua carne no algodão tecido


Porto Viejo

aqui o ar é estranho
o amor não tem tamanho
e posso comer o que não vejo

 

SubVersão


salve lindo
pendão que balança
entre as pernas abertas da paz
trua nobre sifilítica herança
dos rendez-vous de Impérios atrás.


quem tem sangue na veia
nem guaiamum nem caranguejo
mas também sente essa dor.
a saliva do desejo
em tua língua meu amor
e que a lama desse mangue
possa parir alguma flor


 

poÉtika 68

era para ser assim como se foice
no papel de seda era língua e sangue
unhas muitos dedos dentes
nos teus céus de boca

era assim como se fosse
meus olhos no cinema
nos teus olhos presos
e o destino do poema teus lábios indefesos

 do livro O Poeta Enquanto Coisa

www.secretasjuras.blogspot.com


Artur Gomes

CarNAvalha Gumes – 1985

www.fulinaimagem.blgospot.com



há muito tempo que este país não tá pra peixe

naquela tarde era fim de ano. cantávamos Caetano em Teresina a cajuína era pouca. raspamos o tacho e não era mole a rapa dura. Olga me abriu o Magma um Mar de larvas de fogo. em cada palavra/poema de sete letras. em cada poema sete cabeças no jogo. levamos flores ao túmulo do poeta da tropicália. Medeiros não se conteve chorou a dor dos aflitos. e para aliviar o seu pranto berrou o poema: 


COGITO

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.

Torquato Neto 



espinha de peixe com farinha

naquela tarde em Teresina quando perdemos Tom Jobim, cantamos a Garota de Ipanema e o poema atravessou o cemitério com todo mistério que a tarde então continha. Marciely ainda não era a minha. o mar mora pra lá muito pra lá da cajuína. bebemos o gosto do caju sal/preso na língua e a saliva era só sal não tinha peixe no poema alguma espinha e a farinha que Luisa misturou na tapioca.




jura secreta 41

mastigo o coração do vampiro
dentro da noite relâmpago

não tenho sangue de cristo
nem sei a bela onde a/mora

se eu te comer é metáfora
se te devorar é agora




Artur Gomes Gumes

www.fulinaimagens.blogspot.com



alfândega

em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam May doida cigana
que me deixou no desconforto


nação

não me canso
sempre penso
sempre digo

uma nação só será uma nação
quando a sua população
deixar de olhar seu próprio umbigo



Teatro/Absurdo

ela me chegou oferecendo
o que de mais secreto
e mais sagrados
havia debaixo dos seus planos

mas não tenho 20 anos
só de teatro tenho mais
e dificilmente me engano

quero mais o absurdo
a entrega o corpo/aberto
o teatro mais concreto

e isso: ela nem passou por perto


Federico Baudelaire

www.personasarturianas.blogspot.com



outono

ontem contando estrelas
o amor latia
sob um céu de nada
na cama um vento limpo
e o sol ardia na madrugada



indigNação

meu coração é par/tido
desde que incestaste o golpe
e não é de hoje
não me engano
que esse seu plano
urgido no calabouço
cassaram meus 20 anos
quando por baixo dos panos
botaste a grana no bolso
do puto que te bancou


dadaísta

dou a quem eu quiser
e roubo de quem tem
para me dar
não sou de dizer amém
muito menos de me culpar

eu dou a quem eu quiser
e roubo de quem
tem para me dar
o desejo muito além
do além mar

todo beijo
que uma boca
sabe dar



Intervenções

de Privacidade

se eu invadir teu prato
é porque tenho fome
se invadir teus olhos
é por querer bebê-los
se invadir teus pelos
é por querer comê-los
se invadir teu corpo
é porque desejo
se invadir teu beijo
a vontade é mato



Gigi Mocidade

www.personasarturianas.blogspot.com




toda palavra é um risco

ando espantada com a morte
em sua toga preta

a cara é do capeta
os olhos do cão curisco

toda palavra é um risco
toda palavra é cilada

o estrume com a mão armada
mata somente por vício



democracia

enquanto os canalha na TV
dão descarga no teu nome
na latrina do despejo

inteira te desejo

não assim
:
despentelhada
avacalhada
esquartejada
estuprada

e servida como puta
no banquete dos fascistas
que pensam ser os donos
da verdade absoluta.



Delação

enquanto isso no Recife
em frente do espelho
olho Pernambuco
no filme que passou
morte e vida severina
na calada da metáfora
a traição me esfaqueou


Federika Lispector

www.personasarturianas.blogspot.com



BraziLírica

para Uilcon Pereira in memória

salve salve a metáfora anárquica
res-publicana brazilirica
assombradado seja o poder da ficção
meu coração é vermelho
nunca foi verde/amarelo
minha faca tem dois gumes

não tem neves
não tem cunha
não tem mello

no circo tem marmellada
às 8 horas da noite
com a massa tele guiada

Artur Gomes
BraziLírica Pereira: A Traição das Metáforas

Sarau Campos VeraCidade

Sarau Campos VeraCidade   Dia 15 de Março 19h - Palácio da Cultura - música teatro poesia   mesa de bate-papo :um olhar sobre a cidade no qu...