quarta-feira, 29 de setembro de 2021

dandara

 


Quando entramos o quarto era um breu Dandara acendeu a vela na mesinha ao lado da cama desnudou-se abriu as janelas os pelos desalinhados pelo vento por alguns instantes pensei estar diante da musa elétrica de Bento

 

Artur Gomes

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Artur Gomes

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delíricas

 

corpo em trânsito

 

em São Paulo uma menina

me chamou de SerAfim

por saber que poesia

é tudo que transa em mim

 

e ainda uma outra

me chamou de desvairado

por saber que concretismo

anda sempre do meu lado

 

foi então que em Teresina

me chamaram de Torquato

ao perceberem minha boca

com esse meu vapor barato

 e uma outra feminina

me chamou de Faustino

por re-V(L)ER no meu poema

esse  sotaque feminino

 

no Recôncavo baiano

bem no centro o reconvexo

rasguei todos meus planos

quando fiz primeiro sexo

 

numa feirinha de verdura

uma linda criatura elegante sensual

me pediu pra ler Leminski

quando viu meu visual

no poema de Kandinsky

 

 e encontrei fulinaíma

no universo paralelo

pra revirar o céu de anil

desse país verde amarelo

 revirando a tropicalha

pelo avesso do avesso

foi tamanha a CarNAvalha

que perdi meu endereço

 

fui parar em Ipanema

num 1º de Abril

quando assisti pelo cinema

a pátria mãe que  me pariu

 

fui pro morro da Mangueira

re-inventar Parangolé

por entender que esse brasil

                ainda vai ficar de pé .

 

                                                      Federico Baudelaire

                                            O homem com a flor na boca

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Artur Gomes

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domingo, 26 de setembro de 2021

Juras Secretas de Um Trovador contemporâneo

 


Juras secretas de um trovador contemporâneo

 

“Só uma palavra me devora / Aquela que meu coração não diz”.

 Esses versos de Jura secreta, canção de autoria da compositora brasileira Sueli Costa e Abel Silva, conhecida por grande parte do público pela passionalidade interpretativa da cantora Simone, pluraliza-se e faz emergir Juras secretas, décimo terceiro livro do poeta Artur Gomes.

 Não que haja intertextualidade explícita entre a canção e os poemas do livro, mas denota o intertexto como uma das principais marcas do poeta, recurso presente em seus livros anteriores.

 Em SagaraNagens Fulinaímicas (2015), já se percebia um Artur Gomes um pouco distinto da ferocidade de crítica política predominante, por exemplo, em Couro Cru & Carne Viva (1987). Em Juras secretas, o poeta assume de vez sua faceta lírica, e é essa que pontua as cem “juras” que preenchem o miolo do livro.

                                                     Jura secreta 45

 por enquanto

vou te amar assim em segredo

como se o sagrado fosse

o maior dos pecados originais

e minha língua fosse

só furor dos Canibais

 E é com furor canibalesco que se nota, na tessitura poética de muitos versos, o poeta que se dedica também à leitura da literatura e de outras artes. Antropofágico, herdeiro de Oswald Andrade e do Tropicalismo, a língua do poeta devora tudo que o coração não diz para permitir que a poesia o diga. Hilda Hilst, Portinari, Glauber Rocha, são signos que denotam o repertório de um leitor-espectador de várias linguagens e que não esconde essas influências. Porém sua poesia não é enciclopédica.

 As alusões promovem efeitos sonoros e imagéticos que contribuem para o desenvolvimento de uma estilística pessoal e funcional.

                                   Jura secreta 13

 quantas marés endoidecemos

e aramaico permaneço doido e lírico

em tudo mais que me negasse

flor de lótus flor de cactos flor de lírios

ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse

Hilda Hilst quando então se me amasse

pulsando em nós salgado mar e Olga risse

ardendo  em nós flechas de fogo se existisse

por onde quer que eu te cantasse ou Amavisse

 Artur Gomes é um dos poucos poetas que mantém viva a tradição da oralidade. Participa de vários encontros Brasil afora recitando seus versos como um trovador contemporâneo. Nota-se, na estrutura musical de sua poesia e nas imagens que cria, uma obra que se materializa por completo quando dita em voz alta. Mas mesmo no silêncio do quarto, da sala, da praia ou no barulho do carro, trem ou metrô; a poesia de Juras secretas oferece viagens estéticas aos que sabem que a poesia não está morta como andam pregando por aí.

                                                         Jura secreta 43

com os seus dentes de concreto

São Paulo é quem me devora

e selvagem devolvo a dentada

na carne da rua Aurora

 

Adriano Carlos Moura

Mestre em Cognição e Linguagem (Uenf).

Professor de Literatura do IFF –

Doutorem Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora-MG

Se o sorriso da Monalisa
 é um enigma o rosto de Clarice 
também é

 Como não amanhecer feliz quando ao acordar damos de olhos com um recado desses em nossa caixa de mensagens, vindo da minha querida/amada amiga Angélica Rossi lá de Bento Gonçalves, cidade onde escrevi a maioria dessas Juras Secretas.

“É muito mas muito cheia de tudo de bom tua obra

Adorei - Até já mandei uns trechos pra uns amigos

Muito legal mesmo. Nunca deixe que as críticas apaguem a sua essência.. A noite Te mando

A minha jura preferida. Quem é a Clarice?

Fiquei curiosa pra ver como é seu rosto. E como Ela é. Que legal... me chamou a atenção a tal Clarice.

Porque não conseguia imaginá-la

Então é por isso...

Um pouco de muitas mulheres”

 A Clarice, que Angélica Rossi se refere é uma personagem presente na minha poesia em vários momentos multi/facetada em diversas mulheres que admiro. Essa exatamente está na

                                      Jura Secreta 72.

Clarice dorme em minha mãos

a carne trêmula depois do beijo

na maçã que hoje comemos

agora sonha tudo aquilo

que Baudelaire lhe prometeu

quando amanhece

os olhos dela quanto dia

que o dia de ontem não comeu


                                                                           Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

a dor do ciúme

érika era o azul

entre a serra e o vinhedo

a jura secreta

na carne das vinículas

nosso segredo sagrado

por entre as vinhas de Bento

o beijo quase rasgado

dentro das taças de vinho

e tanto amor prometemos

em rendas brancas de linho

érika era o azulzinho

por entre as tranças do vento

bebendo meu desalento

no interior da cozinha

e a mãe sôfrega na cama

ardendo no seu queixume

pensando luxúria do amor

vertendo a dor do ciúme

 

Federico Baudelaire

https://www.facebook.com/federicoduboi


                               BraZilianas 2019

 

não sei se piso terra firme

ou me afogo em pantanais

nem sei se lanço meu barco na tormenta

ou se me atiro contra o cais

no Mar de Lama inverteu-se a hierarquia

trepar na goiabeira é muito pouco

culpa do tao do Satanás

e no brasil jesus cristo é muito louco

e um capitão manda agora em generais

Artur Gomes

O Homem Com A Flor Na Boca

https://www.facebook.com/ohomemcomaflornaboca

 Marcante na medida necessária sempre que leio uma Jura, sinto-me degustando uma bebida diferente, como se estivesse em débito com algo ou com alguém, minha consciência fala abertamente sobre os causos que tomam conta. Um livro para se ler nas horas de reflexão, de desejo, de vontade, e claro, sobretudo, nas inquietações. Um livro excelente para ser lido ao som de Erik Satie ou Beethoven.

 Vítor Lima

Próximo Parágrafo


Artur Gomes

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tempo poético

 


                                     tempo poético

 

o tempo

é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no in/cons/ciente

o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem 
caminho de pedras 
o cenário
vale dos vinhedos

o tempo
guardo em segredo
como uma jura secreta
na íris dos olhos dela
na face oculta da noite
na retidão clara do dia
como um concha na areia

o tempo

mar de espumas
sargaço algas noturnas 
a carne do corpo também 
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2020

Disponível para compra em

https://www.editorapenalux.com.br/loja/o-poeta-enquanto-coisa


me emocionei ontem no Sarau Atemporal, com uma maravilhosa leitura feita com esse meu Tempo Poético  pelo grande amigo poeta e ator Dan Juan  Nissaa Cohen



 devorável


não fosse o amor jura secreta

com esse poema em linha ereta

mais uma vez te venho
porque não fosse essa flecha
que me acerta o peito
teu coração me devora
e me desfaz a pétala
no coração do  colibri
velocidade  beija-flor
tire o seu pircing do caminho
que eu quero te penetrar

 com meu amor


EuGênio Mallarmè




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live em homenagem a Antônio Cícero

No próximo dia 23 às 16:hs à convite da minha amiga  Renata Barcellos BarcellArtes  estaremos nessa live em homenagem a memória de  Antônio ...