segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

múltiplas poéticas

Sarau Campos VeraCidade

Torquato Leminski 80

 Dia 15 de Março 19h - Palácio da Cultura - música teatro poesia

mesa de bate-papo :um olhar sobre a cidade no que foi o que é e o que pode ser.

Participações: Sylvia Paes + Fernando Rossi + Carol Poesia + Clara Abreu + Jonas Menezes + Thais Fajardo + Onalita Tavares Benvindo + Valdiney Mendes 

 produção e direção: Artur Gomes e Clara Abreu

Direção: Artur Gomes 


por uma vida com mais poesia, arte e cultura

                                  Tchello d´Barros

 


Valdir Rocha 
*
Cinzia Farina 

Assionara Souza. Ótima poeta, sutil, hábil com as palavras e com uma percepção extraespecial. Infelizmente, nos deixou precocemente. Mas, felizmente, a poeta e editora Silvana Guimarães vem fazendo um trabalho fundamental para que as obras deixadas por Assionara não se percam. E o poeta e professor Marcelo Sandmann também. Escritos como este não podem ser deixados num canto:

 

                       Ademir Assunção

*****

A nova geração

Ora, a nova geração é exatamente

Isso que você está vendo

Carradas de ansiolíticos e fones de ouvido

Descarregando músicas melancólicas

A mão charmosa de onde pende

Um cigarro (filtro vermelho)

Depois, aquela festa na casa do novo melhor amigo

Faz tempo que a gente não se vê, hein?

Tem pó?!

O papo em torno da nova temporada

Daquela série imperdível

Semana passada o casal mais sensacional separou-se

E agora ela exibiu na página

Um depoimento de rasgar o coração

É bom mesmo que ele suma por um tempo

E volte com um trabalho original

A nova geração arrasta a ressaca

Dentro de um Uber

Ou mesmo naquela linha que sai do centro

E percorre toda a parte parda da cidade

Descendo no terminal

Entrando numa casa onde vive

A mãe e talvez um pai tão iguais

Tranca-se num quarto bagunçado, acende um baseado

E lê aquele poema em que o Bukowski escracha

– Foda-se a nova geração!

 

https://nervolirico.blogspot.com/2022/04/5-poemas-de-instrucoes-para-morder.html?fbclid=IwAR29BqQYcEHmAdIWVwGUptgR8VYbQ_xPrHnhRkkbdDRypWts3eMQPPxBgbE



 Necessito o êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Me adapto a mim mesma.

                                                   (Anais Nin)


Ponto G

uma vulva risonha
e
folhas rasuradas da bíblia voam para o firmamento

um céu com rubor
molha o útero carente
do corpo sedento
da criação exultante do divino

crianças correm no parque
folhas de outono se despedem
é o calor molhado da genitália feminina
em súplicas

quero mais!

ventre livre
algemas roubadas
saindo do velório
das represálias

gemidos de prazer
se apossam de seres voláteis
libertos em grunhidos

que gritam
estou na fase oral
quero chupar!

 

Luiza Silva Oliveira 


boca do inferno

 

por mais que te amar

seja uma zorra

eu te confesso amor pagão

não tem de ter perdão pra nós

eu quero  mais é teu pudor de dama

despetalando em meus lençóis

 

e se tiver que me matar que seja

e se eu tiver que te matar que morra

 

 em cada beijo

que te der amando

só vale o gozo

quando for eterno

infernizando os céus e santificando

                                a boca do inferno

 

Artur Gomes

Suor & Cio – MVPB Edições – 1985

www.secretasjuras.blogspot.com


Escrevo porque preciso. Ainda que não ganhasse, com muito orgulho, o parco dinheirinho que recebo, escreveria. Tenho a sorte de conseguir sobreviver apenas do que escrevo. Considero quase um feito. Escrever é minha arte, é minha terapia, é minha vida. Disfarçando bem ou mal, escrevo sobre mim. Refletindo sobre o que vejo, também escrevo sobre mim. Não há escapatória. Agora preparo livro novo de poemas. É um momento de que gosto muito. Escolher o que entra, criar coisa nova, envergonhar-me de um ou outro poema que sai cabisbaixo. Terminar um poema ou letra de música me faz sentir vivo. Escrevo porque preciso.

 

Mauro Santa Cecília


 
"Reggie"

Acrylic & permanent markers on canvas

                                  Jean-Michel Bsquiat 


 ''Que demônio benévolo é esse

que me deixou assim envolto em mistério,
em silêncio, em paz e perfumes?''

                  Charles Baudelaire
 


poema concreto

                           Augsuto de Campos 


QUARTO DE DESPEJO

.

Ao retornar depois de quase um ano ao meu quarto na casa do Aleixo, em Nova Era (MG), tive uma surpresa. Assim que sentei na cama, ouvi um bater de asas sobre a minha cabeça e vi um sabiá laranjeira que havia entrado por uma fresta do telhado. O pássaro pousou em um caibro de sustentação da cobertura, deu três graciosos pulinhos e depois se aconchegou em um ninho de gravetinhos. Nem se importou com a minha presença, mas ficou me observando atentamente enquanto eu, com mínimos movimentos para não espantá-lo, tentava registrar tudo com a câmera do meu celular. Minutos depois pousou na madeira outro sabiá com um inseto que entregou no bico da sua esposa, que imediatamente foi alimentando os filhotinhos no fundo do ninho. Mas antes ele olhou para a sua amada, depois olhou pra mim, e imagino que deve ter lhe pedido para justificar a presença de um estranho no quarto do casal. Observei que ele saiu e voltou ainda diversas vezes para trazer comida. Mas algumas vezes ele saía e voltava sem trazer nada no bico. E ficava me olhando, desconfiado. Não sei se desconfiado mais de mim, da companheira, ou de ambos na mesma medida. Saía e retornava. Quando ele saiu pela décima vez, levantei lentamente da cama para não espantar a mamãe e saí do quarto, pensando onde eu iria dormir, depois de ter sido sutil e deliciosamente despejado da minha casa e do meu quarto por aquele casal de passarinhos.

.

Aleixo, Nova Era(MG), em algum dia quando a minha mãe era viva, um dia que já me fugiu da memória. A casa, apesar de ainda estar de pé no mesmo lugar, pra mim já não mais existe.

 

Remisson Aniceto 


DO MEU LIVRO INÉDITO
 "A ARTE DE MATAR"/SALGADO MARANHÃO.

*

Acalanto

digo a você, o vento é a respiração ofegante de deus

de quando em quando tudo exaspera
a noite tem seus anseios
mesmo quando deito meu devaneio
e desligo o celular e cerro as cortinas e deixo a pia limpa e apago as velas e verifico as portas e escovo os dentes

os ritos não mentem

mas se puder durmo ouvindo chet baker

e digo a você , de quando em quando, tudo alivia

a suavidade de deus nenhum:

tem voz macia

e canta

Daniella Guimarães de Araújo


SANGRIA

Minha vida
corre entre o não é nunca
e o pode ser que seja
um dia.
Entre o solavanco do pânico
e o deslizar da calmaria.
Meu coração vive aos trancos...
Quando pega, naquela banguela
tem que tomar cuidado
com os barrancos.
Ele anda cansado
de saltar, de pular
de andar, de correr
de se mostrar, de se esconder
anda cansado, até de bater.
Minha alma
Ahh! Essa é a única
que me salva.
Quando à noite
chego esgotado
dentro de mim
ela me traz
o aroma daquele vinho bom
a lembrança de poesias
escritas em papel de pão.
Começo a sorrir
e como sempre faço
afasto para bem longe
o verbo desistir.
Minha alma
me inflama e renova minha sede.
Não existe prisão
para quem voa
e ninguém sangra atoa.
Quando chego à noite
dentro de mim
minha alma
me deixa o mantra
para o próximo dia
as vezes vinho do bom
em outras vezes
sangria.

Jorge Mizael
Foto : br.pinterest.com 


Éramos um amor escorraçado
Mergulhados em lama-desejos
Voando libertos
Esgarçados em avessos-encontros
Lambendo em entranhas-gatos
As húmidas carnes.

MARKO Andrade - O POETA MORTO
FOTO DE Roger Hitz


O ÚLTIMO MOICANO

Que o mercado editorial hoje em dia cria mil maneiras para vender livros, todos sabemos. Todos, menos um escritor como Harris Shaw.

Ele publicou o último livro há quarenta anos, "Outono atômico", que virou best seller, e acabou de pôr o ponto final num novo romance. Harris está velho. Ainda usa máquina de escrever e vive sozinho numa casa com seu gato.

Lucy Stanbridge é uma jovem editora em apuros. Sua editora, que ela herdou do pai Joseph e que publicou o primeiro livro de Harris Shaw, vai mal das pernas. Ela precisa acertar num autor que venda bastante.

Garimpando o portfólio dos escritores da editora, descobre Harris Shaw e o fato de que ele havia assinado um contrato fazia algum tempo, mas não entregou o livro.

Lucy e sua assistente procuram Harris, que reluta mas termina entregando o romance que acabara de concluir, "O futuro é pornográfico", que pode repetir o sucesso do primeiro livro e salvar a editora.

Só que Lucy não contava com o temperamento rabugento de Harris e seu ódio ao mundo.

Depois de muita insistência, ele aceita fazer a turnê de lançamento do novo livro. Harris, porém, não segue o figurino. É um provocador que chega a urinar nos próprios livros em público. São exatamente essas suas provocações que catapultam a fama do autor à frente do interesse pelo livro. Puro espírito dos nossos tempos.

(Numa cena emblemática, um sujeito presente ao lançamento quer saber de Lucy se a editora também confeccionara camisas de divulgação do livro.)

A relação difícil entre Harris e Lucy é o objeto do filme da Netflix "Best sellers: a última turnê", de Lina Roessler. O filme revela na verdade uma espécie de sátira ao mercado atual dos livros e suas estratégias de venda. Diz Lucy (Aubrey Plaza) numa cena: "O conteúdo é tão importante quanto a divulgação."

Harris (Michael Caine, em grande atuação) é totalmente alheio a essa nova realidade. Mas com suas performances escrachadas ganha seguidores nas redes sociais. Nem assim afrouxa sua postura destrutiva. "Cristo também tinha seguidores. Não acabou bem para ele", rumina.

Por trás desse pessimismo de Harris se oculta um drama familiar. O filme então incorpora essa outra história em que se evidenciará o passado de Harris.

"Best sellers: a última turnê" se vale da posição insólita de Harris Shaw para criticar a pura mercantilização da literatura. Lá pelas tantas, Lucy desabafa com sua assistente: "Não preciso de lemas, preciso vender livros."

Como diria Kurt Vonnegut, em seu romance "Matadouro-Cinco": "É assim mesmo."

 

Paulo Lima 


TEU LEME

guardo
teu gesto
em minhas
íntimas
letras

estou nu
em teu
rosto
lírico

mergulho
como quem
acredita
no mar
como
parceiro

porque
meu espanto
eu encontro
em teus
versos
apaixonados

Marco Guayba


TEMPLARIUM.


do carbono doméstico
ao asfalto de uma estrada
que asfixia a permanência
de um mesmo lugar que sonha
agarrando as distâncias numa mochila
os desvios que fogem com o sol nas costas
rumos que escondem o que nos habita
no tempo estéril das sombras
que jamais abandonam nas beiras a noite
nas asas
se manifestam no transe atávico
de uma viagem que alucina a alma
estupefata

 

Adilson Alchuiy



*

A imagem da criança, músico, chorando foi classificada como uma das fotografias mais emocionantes da história moderna.

Esta foto foi tirada de um menino brasileiro de 12 anos (Diego Frazzo Torkato), tocando violino no funeral do seu professor que o resgatou do ambiente de pobreza em que vivia.

Nesta imagem, a humanidade fala com a voz mais forte do mundo:
"Cultive amor e bondade em uma criança para semear as sementes da compaixão. E só então você vai construir uma grande civilização, uma grande nação”.

Fotógrafo: Marcos Tristão

Texto: Instituto Educacional Arancuã


 

Eu não me tornei louco, nem me tornei herói
porque o amor que eu tinha pela minha mulher
e pelos meus filhos fundiu-se,
não à coragem orgânica, física,
que poderia tornar-se fanática,
mas, com a coragem da consciência política,
que é uma outra forma de loucura e de heroísmo,
nem sempre reconhecida pelos homens.

Benedicto Monteiro

#benedictomonteiro100anos

#centenáriobenedictomonteiro


“(...)Leva-me e deixa-me só. Na singeleza

De apenas existir, sem vida externa.

E que nos escuros claustros do poema,

Eu encontre afinal minha certeza.”

 

Hilda Hilst

In 'Roteiro do Silêncio'


Estrela Da Tarde

 

"Era a tarde mais longa de todas as tardes

Que me acontecia

Eu esperava por ti, tu não vinhas

Tardavas e eu entardecia

Era tarde, tão tarde, que a boca

Tardando-lhe o beijo, mordia

Quando à boca da noite surgiste

Na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhamos tardamos no beijo

Que a boca pedia

E na tarde ficamos unidos ardendo na luz

Que morria

Em nós dois nessa tarde em que tanto

Tardaste o sol amanhecia

Era tarde demais para haver outra noite

Para haver outro dia

Meu amor, meu amor

Minha estrela da tarde

Que o luar te amanheça

E o meu corpo te guarde

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza

Se tu és a alegria ou se és a tristeza

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites

Que me adormeceram

Dos noturnos silêncios que à noite

De aromas e beijos se encheram

Foi a noite em que os nossos dois

Corpos cansados não adormeceram

E da estrada mais linda da noite

Uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite

Nos aconteceram

Era o dia da noite de todas as noites

Que nos precederam

Era a noite mais clara daqueles

Que à noite amando se deram

E entre os braços da noite de tanto

Se amarem, vivendo morreram

Meu amor, meu amor

Minha estrela da tarde

Que o luar te amanheça

E o meu corpo te guarde

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza

Se tu és a alegria ou se és a tristeza

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza

Eu não sei, meu amor, se o que digo

É ternura, se é riso, ou se é pranto

É por ti que adormeço e acordo

E acordado recordo no canto

Essa tarde em que tarde surgiste

Dum triste e profundo recanto

Essa noite em que cedo nasceste despida

De mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo

Para quem se quer tanto."

 

José Carlos Ary dos santos


"não se desespere menina

tudo em você se deu tarde

nenhum ciclo se rompeu

num piscar de asas

foi preciso lutas e hibernações

para que outras peles

te cobrissem a alma

 

como é difícil aceitar o curso

de ser outra

 

não se desespere

vendo as primaveras transcorridas

o tempo indo ligeiro

e ainda assim

seus passos distraídos...

 

a vida

(em pequenas bolhas que estouram

quase sem ruídos)

está sendo destilada

no íntimo

 

você se detém nas páginas de um livro

porque os parágrafos tocam fundo

e olhos novos sempre penetram

por instantes eternos

e tudo leva anos, meses em você

sempre assim tem sido

para poder nascerem sentidos

que revigoram o viver"


Clara Baccarin


PRIMEIRO POEMA lido do novo livro de Rodrigo Garcia LopesO Enigma das Ondas. A viagem apenas começou

                                  Ademir Assunção



mamãe macunaíma

https://www.facebook.com/cacosdecogumelosazuis

foto: Artur Gomes


Nas praias que são o rosto branco das amadas mortas

Deixarei que o teu nome se perca repetido

Mas espera-me

Pois por mais longos que sejam os caminhos

Eu regresso. 

 

Sophia de Mello Breyner Andressen


 

Que eu não seja tua terra hostil
nem o capim onde sossegam
manhãs vagabundas de geada
por teu ser.

Virá um tempo em que te lembrarás
de sorrir de novo
um tempo em que te recordarás de ti mesmo.

Hão-de amanhecer dias e gritar odores
para que tenhas tempo de saborear todas as loucuras
todos os becos de nós.

Célia Moura 
imagem: Antoine de Villiers painting


deus caminha sobre meu dorso

deus deitou-se junto a mim
por alguns instantes
e me olhou os olhos
ciente do que dissipa
minha revolta

deus é sábio
não quer que eu destrua a margem
que me envolve

e com o olhar
olhar de deus que nada fala
me disse coisas insanas
e ri desarmada

em três frases não faladas
ele me explicou sobre suas pegadas na areia
e me disse que castelos de areia desmoronam na primeira onda brava

deus escreve certo por linhas imaginarias
imprecisas, pontilhadas
por isso ele tatuou nas minhas costas
suas pegadas
seu verbo sobre eternidade

ergueu-se e foi ser deus em seu dia de deus
e me deixou dormir
na mansidão de uma paisagem costeira

Rosa

 

Rosangela Ataide


cinco poemas cínicos

não faça.
o corpo quebra
a fome dobra

entre o nada
e o que sobra
o poema
não cabe

antes
limpe o céu
toda tarde
perca tempo
enquanto pode

não seja.
o gozo escorre
o sangue explode

não chove sobre
os leopardos
os elefantes
são de plástico

entre o fim
e o que ainda
canta
gesta - se
um gesto
de festa
um júbilo
súbito

não force.
a noite é lenta
a dor é alívio
sempre

chove apenas
sobre as magras
couves - flores
do quintal

apenas
partos perversos
perfuram abscessos

não faça.
não seja
mais um

antes
suje a água
mostre a língua

entre
restos de ruínas
e ruído algum

***************************************

se o poema não cala
a esmo dizer o mesmo

mesmo a dor sempre vendo
os belos olhos não sangram

mesmo o verso vil sendo
os rostos moços não rosnam

se o poema não fere
tudo igual permanece

se nunca suja tua pele
sempre em nada desfere

mesmo o corpo extinto
ou o colapso estando

o falso gozo dos pássaros
os fossos cheios de flores

a carne nunca escura
os poemas sempre lindos

mesmo a morte quando
abre o último rasgo

se o verso não perfura
não haverá espasmo

a esmo dizer o mesmo
se o poema não for

dos acertos perfeitos
o mais feio dos erros

***************************************

futuras práticas dissociativas

descer na escala social
cultivar verrugas e olheiras
depredar cidades inteiras
ferir o fluxo verbal
incitar catástrofes
expandir presságios
vender repolhos e bananas
violentar versos indefesos
descer na escala social
castrar novilhos ao luar
conquistar cicatrizes
catalisar catarses
opor princípios
evadir - se discreto
perder todas as lutas
matar todas as normas
descer na escala social
confabular com as moscas
agir ébrio
gozar quieto
desistir sempre
insinuar - se insano
amar mulheres sujas
plantar cebolas e aspargos
parir poemas mortos
descer na escala social
reinvidicar o direito
de ser
inútil


Intertexto :
Junkman' s Obbligato de
A Coney Island of Mind, 1958
Lawrence Ferlinguetti

***************************************

um quarteto de passos
( pós - Torquato )

primeiro passo
desocupar rápido
esse espaço.

não há como
se virar.

encaixotados
germinam
tumores.

segundo passo
invadir vasto
teu corpo -
ócio
vazio ósseo.

não há poesia
se faltar.

a feliCidade é
uma fábrica
de horrores.

terceiro passo
sentir tátil
a físsil
forma fóssil
do salto.

não há como
se calar.

escorrem
gritos
das gretas.

quarto passo
coma meus
olhos
esqueça.

Intertexto:
Poemas
Torquato Neto

***************************************

o poema será
sempre pouco
se não encontrar
no teu
o meu corpo


garbo gomes
2023 / 2024

Arte :
Henri Matisse
Woman in a
purple coat
( 1937 ) 

— em União da Vitória


olha a metáfora clara
as vezes mesmo quando digo
não consigo dizer tudo
quase sempre viro gema mudo

baby me diz
que vai ser feliz
quando eu disser tudo
o que tenho para dizer
do outro lado da luz
embora já tenha dito
uma porção de coisas raras
baby ainda me declara
que quer mais
antes da quinta feira
na hora do por do sol

minha musa
tem um jeito
de fernanda takai
do pato fu
não lhe disse que sou poeta
mas ela encontrou meu nome
encravado na carne
do azulejo azul
enquanto me embriagava
ouvindo gal cantando um blues

mamãe mamãe não chora
a vida é assim mesmo fui embora

Artur Gomes

leia mais no blog
https://fulinaimagens.blogspot.com/

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