Sarau Campos VeraCidade
Torquato Leminski 80
Dia 15 de Março 19h - Palácio da Cultura - música teatro poesia
mesa de bate-papo :um olhar sobre a cidade no que foi o que é e o que pode ser.
Participações: Sylvia Paes + Fernando Rossi + Carol Poesia + Clara Abreu + Jonas Menezes + Thais Fajardo + Onalita Tavares Benvindo + Valdiney Mendes
produção e direção: Artur Gomes e Clara Abreu
Direção: Artur Gomes
por uma vida com mais poesia, arte e
cultura
Tchello d´Barros
Assionara Souza. Ótima poeta, sutil, hábil com as
palavras e com uma percepção extraespecial. Infelizmente, nos deixou
precocemente. Mas, felizmente, a poeta e editora Silvana Guimarães vem fazendo
um trabalho fundamental para que as obras deixadas por Assionara não se percam.
E o poeta e professor Marcelo Sandmann também. Escritos como este não podem ser
deixados num canto:
Ademir Assunção
*****
A nova geração
Ora, a nova geração é exatamente
Isso que você está vendo
Carradas de ansiolíticos e fones de ouvido
Descarregando músicas melancólicas
A mão charmosa de onde pende
Um cigarro (filtro vermelho)
Depois, aquela festa na casa do novo melhor amigo
Faz tempo que a gente não se vê, hein?
Tem pó?!
O papo em torno da nova temporada
Daquela série imperdível
Semana passada o casal mais sensacional separou-se
E agora ela exibiu na página
Um depoimento de rasgar o coração
É bom mesmo que ele suma por um tempo
E volte com um trabalho original
A nova geração arrasta a ressaca
Dentro de um Uber
Ou mesmo naquela linha que sai do centro
E percorre toda a parte parda da cidade
Descendo no terminal
Entrando numa casa onde vive
A mãe e talvez um pai tão iguais
Tranca-se num quarto bagunçado, acende um baseado
E lê aquele poema em que o Bukowski escracha
– Foda-se a nova geração!
Necessito o êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Me adapto a mim mesma.
(Anais Nin)
Ponto G
uma vulva risonha
e
folhas rasuradas da bíblia voam para o firmamento
um céu com rubor
molha o útero carente
do corpo sedento
da criação exultante do divino
crianças correm no parque
folhas de outono se despedem
é o calor molhado da genitália feminina
em súplicas
quero mais!
ventre livre
algemas roubadas
saindo do velório
das represálias
gemidos de prazer
se apossam de seres voláteis
libertos em grunhidos
que gritam
estou na fase oral
quero chupar!
Luiza Silva Oliveira
boca do
inferno
por mais que te amar
seja uma zorra
eu te confesso amor pagão
não tem de ter perdão pra nós
eu quero mais é teu
pudor de dama
despetalando em meus lençóis
e se tiver que me matar que seja
e se eu tiver que te matar que morra
em cada beijo
que te der amando
só vale o gozo
quando for eterno
infernizando os céus e santificando
a boca do
inferno
Artur
Gomes
Suor & Cio – MVPB Edições – 1985
www.secretasjuras.blogspot.com
Escrevo porque preciso. Ainda que
não ganhasse, com muito orgulho, o parco dinheirinho que recebo, escreveria.
Tenho a sorte de conseguir sobreviver apenas do que escrevo. Considero quase um
feito. Escrever é minha arte, é minha terapia, é minha vida. Disfarçando bem ou
mal, escrevo sobre mim. Refletindo sobre o que vejo, também escrevo sobre mim.
Não há escapatória. Agora preparo livro novo de poemas. É um momento de que
gosto muito. Escolher o que entra, criar coisa nova, envergonhar-me de um ou
outro poema que sai cabisbaixo. Terminar um poema ou letra de música me faz
sentir vivo. Escrevo porque preciso.
Mauro Santa Cecília
Acrylic & permanent markers on canvas
Jean-Michel
Bsquiat
''Que demônio benévolo é esse
que me deixou assim envolto em mistério,
em silêncio, em paz e perfumes?''
Charles Baudelaire
poema concreto
Augsuto de Campos
QUARTO DE DESPEJO
.
Ao retornar depois de quase um ano ao
meu quarto na casa do Aleixo, em Nova Era (MG), tive uma surpresa. Assim que
sentei na cama, ouvi um bater de asas sobre a minha cabeça e vi um sabiá
laranjeira que havia entrado por uma fresta do telhado. O pássaro pousou em um
caibro de sustentação da cobertura, deu três graciosos pulinhos e depois se
aconchegou em um ninho de gravetinhos. Nem se importou com a minha presença,
mas ficou me observando atentamente enquanto eu, com mínimos movimentos para
não espantá-lo, tentava registrar tudo com a câmera do meu celular. Minutos
depois pousou na madeira outro sabiá com um inseto que entregou no bico da sua
esposa, que imediatamente foi alimentando os filhotinhos no fundo do ninho. Mas
antes ele olhou para a sua amada, depois olhou pra mim, e imagino que deve ter
lhe pedido para justificar a presença de um estranho no quarto do casal.
Observei que ele saiu e voltou ainda diversas vezes para trazer comida. Mas
algumas vezes ele saía e voltava sem trazer nada no bico. E ficava me olhando,
desconfiado. Não sei se desconfiado mais de mim, da companheira, ou de ambos na
mesma medida. Saía e retornava. Quando ele saiu pela décima vez, levantei
lentamente da cama para não espantar a mamãe e saí do quarto, pensando onde eu
iria dormir, depois de ter sido sutil e deliciosamente despejado da minha casa
e do meu quarto por aquele casal de passarinhos.
.
Aleixo, Nova Era(MG), em algum dia
quando a minha mãe era viva, um dia que já me fugiu da memória. A casa, apesar
de ainda estar de pé no mesmo lugar, pra mim já
não mais existe.
Remisson Aniceto
Acalanto
digo a você, o vento é a respiração ofegante de
deus
de quando em quando tudo exaspera
a noite tem seus anseios
mesmo quando deito meu devaneio
e desligo o celular e cerro as cortinas e deixo a
pia limpa e apago as velas e verifico as portas e escovo os dentes
os ritos não mentem
mas se puder durmo ouvindo chet baker
e digo a você , de quando em quando, tudo alivia
a suavidade de deus nenhum:
tem voz macia
e canta
Daniella Guimarães de Araújo
SANGRIA
Minha vida
corre entre o não é nunca
e o pode ser que seja
um dia.
Entre o solavanco do pânico
e o deslizar da calmaria.
Meu coração vive aos trancos...
Quando pega, naquela banguela
tem que tomar cuidado
com os barrancos.
Ele anda cansado
de saltar, de pular
de andar, de correr
de se mostrar, de se esconder
anda cansado, até de bater.
Minha alma
Ahh! Essa é a única
que me salva.
Quando à noite
chego esgotado
dentro de mim
ela me traz
o aroma daquele vinho bom
a lembrança de poesias
escritas em papel de pão.
Começo a sorrir
e como sempre faço
afasto para bem longe
o verbo desistir.
Minha alma
me inflama e renova minha sede.
Não existe prisão
para quem voa
e ninguém sangra atoa.
Quando chego à noite
dentro de mim
minha alma
me deixa o mantra
para o próximo dia
as vezes vinho do bom
em outras vezes
sangria.
Jorge Mizael
Foto : br.pinterest.com
Éramos um amor escorraçado
Mergulhados em lama-desejos
Voando libertos
Esgarçados em avessos-encontros
Lambendo em entranhas-gatos
As húmidas carnes.
MARKO Andrade - O POETA MORTO
FOTO DE Roger
Hitz
O ÚLTIMO MOICANO
Que o mercado editorial hoje em dia cria mil
maneiras para vender livros, todos sabemos. Todos, menos um escritor como
Harris Shaw.
Ele publicou o último livro há quarenta anos,
"Outono atômico", que virou best seller, e acabou de pôr o ponto
final num novo romance. Harris está velho. Ainda usa máquina de escrever e vive
sozinho numa casa com seu gato.
Lucy Stanbridge é uma jovem editora em apuros. Sua
editora, que ela herdou do pai Joseph e que publicou o primeiro livro de Harris
Shaw, vai mal das pernas. Ela precisa acertar num autor que venda bastante.
Garimpando o portfólio dos escritores da editora,
descobre Harris Shaw e o fato de que ele havia assinado um contrato fazia algum
tempo, mas não entregou o livro.
Lucy e sua assistente procuram Harris, que reluta
mas termina entregando o romance que acabara de concluir, "O futuro é
pornográfico", que pode repetir o sucesso do primeiro livro e salvar a
editora.
Só que Lucy não contava com o temperamento
rabugento de Harris e seu ódio ao mundo.
Depois de muita insistência, ele aceita fazer a
turnê de lançamento do novo livro. Harris, porém, não segue o figurino. É um
provocador que chega a urinar nos próprios livros em público. São exatamente
essas suas provocações que catapultam a fama do autor à frente do interesse
pelo livro. Puro espírito dos nossos tempos.
(Numa cena emblemática, um sujeito presente ao
lançamento quer saber de Lucy se a editora também confeccionara camisas de
divulgação do livro.)
A relação difícil entre Harris e Lucy é o objeto
do filme da Netflix "Best sellers: a última turnê", de Lina Roessler.
O filme revela na verdade uma espécie de sátira ao mercado atual dos livros e
suas estratégias de venda. Diz Lucy (Aubrey Plaza) numa cena: "O conteúdo
é tão importante quanto a divulgação."
Harris (Michael Caine, em grande atuação) é
totalmente alheio a essa nova realidade. Mas com suas performances escrachadas
ganha seguidores nas redes sociais. Nem assim afrouxa sua postura destrutiva.
"Cristo também tinha seguidores. Não acabou bem para ele", rumina.
Por trás desse pessimismo de Harris se oculta um
drama familiar. O filme então incorpora essa outra história em que se
evidenciará o passado de Harris.
"Best sellers: a última turnê" se vale
da posição insólita de Harris Shaw para criticar a pura mercantilização da
literatura. Lá pelas tantas, Lucy desabafa com sua assistente: "Não
preciso de lemas, preciso vender livros."
Como diria Kurt Vonnegut, em seu romance
"Matadouro-Cinco": "É assim mesmo."
Paulo Lima
TEU LEME
guardo
teu gesto
em minhas
íntimas
letras
estou nu
em teu
rosto
lírico
mergulho
como quem
acredita
no mar
como
parceiro
porque
meu espanto
eu encontro
em teus
versos
apaixonados
Marco Guayba
TEMPLARIUM.
do carbono doméstico
ao asfalto de uma estrada
que asfixia a permanência
de um mesmo lugar que sonha
agarrando as distâncias numa mochila
os desvios que fogem com o sol nas costas
rumos que escondem o que nos habita
no tempo estéril das sombras
que jamais abandonam nas beiras a noite
nas asas
se manifestam no transe atávico
de uma viagem que alucina a alma
estupefata
Adilson Alchuiy
A imagem da criança, músico, chorando foi classificada como uma das
fotografias mais emocionantes da história moderna.
Esta foto foi tirada de um menino brasileiro de 12
anos (Diego Frazzo Torkato), tocando violino no funeral do seu professor que o
resgatou do ambiente de pobreza em que vivia.
Nesta imagem, a humanidade fala com a voz mais
forte do mundo:
"Cultive amor e bondade em uma criança para
semear as sementes da compaixão. E só então você vai construir uma grande
civilização, uma grande nação”.
Fotógrafo: Marcos Tristão
Texto: Instituto
Educacional Arancuã
Eu não me
tornei louco, nem me tornei herói
porque o amor que eu tinha pela minha mulher
e pelos meus filhos fundiu-se,
não à coragem orgânica, física,
que poderia tornar-se fanática,
mas, com a coragem da consciência política,
que é uma outra forma de loucura e de heroísmo,
nem sempre reconhecida pelos homens.
Benedicto Monteiro
#benedictomonteiro100anos
#centenáriobenedictomonteiro
“(...)Leva-me e deixa-me só. Na
singeleza
De apenas existir, sem vida externa.
E que nos escuros claustros do poema,
Eu
encontre afinal minha certeza.”
Hilda Hilst
In 'Roteiro do Silêncio'
Estrela Da Tarde
"Era a tarde mais longa de todas
as tardes
Que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas
Tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca
Tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste
Na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhamos tardamos no
beijo
Que a boca pedia
E na tarde ficamos unidos ardendo na
luz
Que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto
Tardaste o sol amanhecia
Era tarde demais para haver outra
noite
Para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a
tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as
noites
Que me adormeceram
Dos noturnos silêncios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite
Uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só
noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a
tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, ou se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste
despida
De mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto."
José Carlos Ary dos santos
"não se desespere menina
tudo em você se deu tarde
nenhum ciclo se rompeu
num piscar de asas
foi preciso lutas e hibernações
para que outras peles
te cobrissem a alma
como é difícil aceitar o curso
de ser outra
não se desespere
vendo as primaveras transcorridas
o tempo indo ligeiro
e ainda assim
seus passos distraídos...
a vida
(em pequenas bolhas que estouram
quase sem ruídos)
está sendo destilada
no íntimo
você se detém nas páginas de um livro
porque os parágrafos tocam fundo
e olhos novos sempre penetram
por instantes eternos
e tudo leva anos, meses em você
sempre assim tem sido
para poder nascerem sentidos
que revigoram o viver"
PRIMEIRO POEMA lido do novo livro de Rodrigo Garcia Lopes, O Enigma das Ondas. A viagem apenas começou
Ademir Assunção
mamãe macunaíma
https://www.facebook.com/cacosdecogumelosazuis
foto: Artur Gomes
Nas praias que são o rosto branco das amadas mortas
Deixarei que o teu nome se perca repetido
Mas espera-me
Pois por mais longos que sejam os caminhos
Eu regresso.
Sophia de Mello
Breyner Andressen
Que eu não seja tua terra hostil
nem o capim onde sossegam
manhãs vagabundas de geada
por teu ser.
Virá um tempo em que te lembrarás
de sorrir de novo
um tempo em que te recordarás de ti mesmo.
Hão-de amanhecer dias e gritar odores
para que tenhas tempo de saborear todas as loucuras
todos os becos de nós.
Célia Moura
imagem: Antoine de Villiers painting
deus caminha
sobre meu dorso
deus deitou-se junto a mim
por alguns instantes
e me olhou os olhos
ciente do que dissipa
minha revolta
deus é sábio
não quer que eu destrua a margem
que me envolve
e com o olhar
olhar de deus que nada fala
me disse coisas insanas
e ri desarmada
em três frases não faladas
ele me explicou sobre suas pegadas na areia
e me disse que castelos de areia desmoronam na
primeira onda brava
deus escreve certo por linhas imaginarias
imprecisas, pontilhadas
por isso ele tatuou nas minhas costas
suas pegadas
seu verbo sobre eternidade
ergueu-se e foi ser deus em seu dia de deus
e me deixou dormir
na mansidão de uma paisagem costeira
Rosa
Rosangela Ataide
cinco poemas cínicos
não faça.
o corpo quebra
a fome dobra
entre o nada
e o que sobra
o poema
não cabe
antes
limpe o céu
toda tarde
perca tempo
enquanto pode
não seja.
o gozo escorre
o sangue explode
não chove sobre
os leopardos
os elefantes
são de plástico
entre o fim
e o que ainda
canta
gesta - se
um gesto
de festa
um júbilo
súbito
não force.
a noite é lenta
a dor é alívio
sempre
chove apenas
sobre as magras
couves - flores
do quintal
apenas
partos perversos
perfuram abscessos
não faça.
não seja
mais um
antes
suje a água
mostre a língua
entre
restos de ruínas
e ruído algum
***************************************
se o poema não cala
a esmo dizer o mesmo
mesmo a dor sempre vendo
os belos olhos não sangram
mesmo o verso vil sendo
os rostos moços não rosnam
se o poema não fere
tudo igual permanece
se nunca suja tua pele
sempre em nada desfere
mesmo o corpo extinto
ou o colapso estando
o falso gozo dos pássaros
os fossos cheios de flores
a carne nunca escura
os poemas sempre lindos
mesmo a morte quando
abre o último rasgo
se o verso não perfura
não haverá espasmo
a esmo dizer o mesmo
se o poema não for
dos acertos perfeitos
o mais feio dos erros
***************************************
futuras práticas dissociativas
descer na escala social
cultivar verrugas e olheiras
depredar cidades inteiras
ferir o fluxo verbal
incitar catástrofes
expandir presságios
vender repolhos e bananas
violentar versos indefesos
descer na escala social
castrar novilhos ao luar
conquistar cicatrizes
catalisar catarses
opor princípios
evadir - se discreto
perder todas as lutas
matar todas as normas
descer na escala social
confabular com as moscas
agir ébrio
gozar quieto
desistir sempre
insinuar - se insano
amar mulheres sujas
plantar cebolas e aspargos
parir poemas mortos
descer na escala social
reinvidicar o direito
de ser
inútil
Intertexto :
Junkman' s Obbligato de
A Coney Island of Mind, 1958
Lawrence Ferlinguetti
***************************************
um quarteto de passos
( pós - Torquato )
primeiro passo
desocupar rápido
esse espaço.
não há como
se virar.
encaixotados
germinam
tumores.
segundo passo
invadir vasto
teu corpo -
ócio
vazio ósseo.
não há poesia
se faltar.
a feliCidade é
uma fábrica
de horrores.
terceiro passo
sentir tátil
a físsil
forma fóssil
do salto.
não há como
se calar.
escorrem
gritos
das gretas.
quarto passo
coma meus
olhos
esqueça.
Intertexto:
Poemas
Torquato Neto
***************************************
o poema será
sempre pouco
se não encontrar
no teu
o meu corpo
garbo
gomes
2023 / 2024
Arte :
Henri Matisse
Woman in a
purple coat
( 1937 )
— em União da Vitória
olha a metáfora
clara
as vezes mesmo quando digo
não consigo dizer tudo
quase sempre viro gema mudo
baby me diz
que vai ser feliz
quando eu disser tudo
o que tenho para dizer
do outro lado da luz
embora já tenha dito
uma porção de coisas raras
baby ainda me declara
que quer mais
antes da quinta feira
na hora do por do sol
minha musa
tem um jeito
de fernanda takai
do pato fu
não lhe disse que sou poeta
mas ela encontrou meu nome
encravado na carne
do azulejo azul
enquanto me embriagava
ouvindo gal cantando um blues
mamãe mamãe não chora
a vida é assim mesmo fui embora
Artur Gomes
leia mais no blog
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