durante a viagem olhava a
paisagem através da janela árvores montanhas casas abandonadas gado bovino
ferro velho onde foi que não estive neste país mal assombrado tenho a leve
sensação que o outono nunca vai chegar o patriarca nem vem vindo e um morcego
continua na porta principal na entrada da cidade minha avó xingava que fugia do
curral e minha mãe nunca mais me esperou desde o dia em que me fui embora e o
02 não é apenas um traficante de joias no lado b da nossa história
a paisagem vista durante a viagem na janela mexeu com as
minhas unhas sujas de louca nem era nova granada de espanha nem canção de
milton nascimento ouvia caetano cantando " o haiti é aqui' e pensava o dia
que o genocida vai me olhar com seus olhos ensandecidos detrás das grades na
papuda
no princípio era fábula depois veio o verbo logo depois a ficção
e aí começou a invenção bem depois das sagaranagens antes fulinaimargens depois
das fulinaimânicas atrás das fulinaímicas nem circo nem tarde de mímica apenas
alguma paisagem na janela da viagem quando lia o lado b me transmutando em
alquimia
Artur Kabrunco
Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim
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Alô São Paulo!
Impactado com a leitura do livro Lado
B, do meu querido amigo Cesar Augusto de Carvalho
- lembrando que o lançamento será nesta próxima segunda-feira 26 em Sampa -
imperdível!
a beleza atiça
até a vossa santidade
que vai à missa.
Dudu Galisa
Imagem: Amel B.
Solilóquios
De tanto ficar consigo
dispensou as palavras
Bastavam-lhe os gestos
(batuta invisível)
a orquestrar o silêncio
Dalila Teles Veras
[retratos falhados]
eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro do meu centro
este poema me olha
*
Paulo Leminski
Posso
até usar de diplomacia com quem tenho relações difíceis. Mas não sou
dissimulado. Digo o que penso, mas só para quem percebo que está preparado para
ouvir. Faço merda, falo besteira. Não sou modelo a ser seguido nas redes
sociais (facebook, instagram, x, e essas coisas todas). Não sei o que é
"msg no direct" e não me interessa saber. Gosto de escrever poesia e
gosto mais ainda de viver a poesia que escrevo. "As pessoas que eu amo, eu
amo bastante", como já escreveu o poeta. E também, como já disse o outro
poeta, "distraídos venceremos".
Ademir Assunção
Certidão de óbito
Os ossos de nossos antepassados
colhem as nossas perenes lágrimas
pelos mortos de hoje.
Os olhos de nossos antepassados,
negras estrelas tingidas de sangue,
elevam-se das profundezas do tempo
cuidando de nossa dolorida memória.
A terra está coberta de valas
e a qualquer descuido da vida
a morte é certa.
A bala não erra o alvo, no escuro
um corpo negro bambeia e dança.
A certidão de óbito, os antigos sabem,
veio lavrada desde os negreiros.
Conceição Evaristo
oculta em desencanto
inaudível em meu ouvido
não há cor por tanto pranto
não há grito sem ruído
vejo a espinhosa folhagem
contorcer-se em rebeldia
no concreto mais selvagem
a mais bruta poesia
e o mau cheiro defluindo
o aroma da liberdade
é sujo e escuro o que sinto
eiva a flor por entre grades
(Jorge Ventura)
Sarau Campos VeraCidade
Torquato Leminski 80
Dia 15 de Março 19h - Palácio da Cultura – Campos dos Goytacazes-RJ
música teatro poesia
mesa de bate-papo :um olhar sobre a cidade no que
foi o que é e o que pode ser.
Participações:
Sylvia Paes + Fernando Rossi + Carol Poesia + Clara Abreu +
Jonas Menezes + Thais Fajardo + Marcelo Perez + Jonas Meneses + Simone
Jardim + Projeto GOTTA -
produção
e direção: Artur Gomes e Clara Abreu
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https://coletivofulinaimadecultura.blogspot.com/
ENSAIO
SOBRE AS MANHÃS
A porta do fim dá num beco inusitado,
repleto de recomeços.
Ninguém descobre o frescor do chão
desabitado,
enquanto o medo jura seus infernos!
Mas se a vida chama e o sujeito mete a cara,
não há terror que o aterre em jardim morto.
Movem-se as horas de infinito e novidades,
que não cabem nas compotas das certezas.
O vento descabela de improviso as folhas,
forrando de beleza o caminhar
(e há dor na rebentação dos ramos).
Os dias são bichos indomados,
sem nome e classificação:
ninguém se socorre do sofrer por adivinhação,
nem pondo tranca nos abraços.
A vida entra em qualquer gruta
e cata o ente debaixo de pedra,
quando cisma de ensinar pelo padecer.
Também o sol invade o olho agoniado,
devolve o infeliz ao sonho,
e transforma em liquidez seu sangue
coagulado.
O certo é que nunca se sabe o que a manhã
assina:
e a sorte é o não saber!
Carmen
Moreno
Livro “Sobre o Amor e Outras Traições”, Editora
Patuá.
ENRAIVECIDA NA FURIA DO SEXO (Rabid, 1977) | Direção: David Cronenberg
Legendado no youtube: https://youtu.be/UU35GxkZ_VM
Sem sombra de dúvida, é o melhor título em português que
um filme já ganhou no Brasil. Enraivecida na Fúria do Sexo, tradução para
Rabid, que seria apenas, simplesmente, “Raiva”. Genial.
Deveriam dar um prêmio para o sujeito que bolou esse nome! Fora isso, David Cronenberg rodar um filme de uma garota, vivida pela então atriz pornô hardcore Marilyn Chambers, que tem uma vagina mutante no sovaco, a qual ela usa para matar suas vítimas durante o ato sexual, chupar seu sangue e transmitir um vírus que dá início a um surto de raiva na cidade de Montreal, é mais genial ainda.
Como sabemos, o rei do horror venéreo em seu segundo
trabalho volta a provar porque o cinema de terror dele é calcado no fetiche
pela carne, desejo sexual e perversão humana e o descontrole da ciência e
medicina, e neste caso em específico, quase uma visão premonitória do efeito
devastador que se abateria na sociedade com o final do hedonismo dos anos 70 e
a explosão da Aids na década seguinte. Afinal, a trama principal resume-se ao
contágio de uma doença sexualmente transmissível, mesmo que não praticada do
modo bíblico, transmitida então por uma mulher, algo completamente fora dos
padrões cinematográficos da época, sedenta por sangue, que irá se desencadear
em uma epidemia de raiva fora de controle, onde os homens, vítimas fáceis e
falhas como são, são regredidos a um estado animalesco de brutalidade, servindo
apenas como agente disseminador do vírus, e morrendo logo em seguida, após
transmiti-lo pela saliva.
Esse órgão mutante foi resultado de uma experiência
plástica mal sucedida, quando Rose (Chambers) e seu namorado, Hart (Frank
Moore) sofrem um terrível acidente de moto. Hart apenas tem leves ferimentos
nas mãos, mas Rose fica parcialmente queimada e desfigurada, e atendida pelo
Dr. Keloid (Howard Ryshpan), pois o acidente ocorre bem em frente à sua
clínica, o médico a vê como cobaia perfeita para um tratamento experimental de
implante de enxertos neutros de pele. Rose então se torna a incubadora deste
vírus e ao escapar da clínica começa sua caça aos homens, dando início a
epidemia que gerará uma série de medidas de saúde pública com o governo
iniciando uma campanha de vacinação e quarentena militar na cidade. Como de se
esperar, Enraivecida na Fúria do Sexo, assim como o cinema de Cronenberg é
travestido de alguns pontos curiosos.
Primeiramente é válida a tremenda coragem e ousadia de um jovem cineasta, que após tomar pau da crítica puritana canadense, julgando seu filme de estreia, Calafrios, como “pornográfico” e de mau gosto, resolveu retomar ao tema, porém em uma escala superior e com maior refino técnico e orçamento, e escolher uma atriz pornô como protagonista e sambar na cara da sociedade criando um modo de contágio realmente pornográfico.
Segundo é a quase sempre violência gráfica constante em
sua obra. Com a frieza de um cirurgião, Cronenberg se afasta limpamente de
qualquer emoção e apenas explora o gore de modo impassível, tanto na
transmissão da doença, quanto no ataque dos infectados com suas mordidelas e
nas resoluções da autoridade para resolver o problema. Culpa mesmo, só de Hart,
o responsável indireto pelo acidente de moto e no estado atual de sua namorada,
e nos momentos de redenção da protagonista, raros e rápidos, mesmo tendo se
tornado uma predadora de homens como uma hospedeira de um agente
biológico/patológico que quer se reproduzir, assim como a própria natureza
humana. E falando de natureza humana, assim como George A. Romero fez em seu O
Exército do Extermínio, há todo um discurso como subtexto referente ao comportamento
humano (leia-se hostil), tanto dos civis quanto dos militares, em como lidar
com essa crise. A cena final exprime perfeitamente o que quero dizer aqui.
Fora isso, há, por que não, um paralelo ao cinema zumbi, até do próprio Romero, de que segundo opiniões de altas autoridades científicas, devemos deixar qualquer moral ou religiosidade de lado, e em nome da autopreservação, simplesmente exterminar os infectados, sendo entes queridos ou não.
Como curiosidade em uma cena onde Rose está passando pela
cidade, em frente a um cinema há o pôster do filme Carrie de Brian De Palma. E
Sissy Spacek era a primeira opção de Cronenberg para o papel da protagonista. O
produtor executivo Ivan Reitman (diretor de Os Caça-Fantasmas) quem sugeriu ao
diretor o nome de Marilyn Chambers para aumentar o sex appeal. E se não fosse a
moçoila, nunca ganharíamos o título de Enraivecida na Fúria do Sexo no país,
para capitalizar em cima do nome da atriz pornô. Boa, Reitman! Boa,
Cronenberg!
minha
canção do exílio
é a canção de quem
anda perdida
vagando triste e a esmo
no caminho não existe
sabiá, palmeiras e
assentado em
minha alma - mandacaru
há um carcará
seu canto fétido
rapina desgraçada
roubou a pouca carne que
me resta, ossos expostos
não permita o dianho que eu definhe
e minha vida chegue ao fim
sem que eu volte para o eu
que anda perdido de mim
Simone Bacelar
guarde suas energias
para o sarau
não gaste todas neste carnaval
Anjo Torto
quando nasci Torquato Neto
veio ler a minha mão
tinha chegado de Teresina
com uma garrafa de cajuína
e um livro na outra mão
me disse aberto e franco
com um poema entre os dentes
vá bicho!
não tenha medo do inferno
seja um poeta moderno
cheire as flores do mal
que a poesia de Baudelaire
vai te salvar no final
Artur Gomes
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TANKA para Torquato
lua escarlate –
não ter medo do inferno
é um dever do poeta.
tremeluz o vaga-lume,
anjo torto navilouco.
*
Ruisu Ukezara ルイス受け皿 (1962/2017) psicografado por Ziul Serip.
Agora
não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início;
agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam assim:
do precipício:
a guerra acabou
quem perdeu agradeça
a quem ganhou.
não se fala. não é permitido
mudar de idéia. é proibido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos
está vetado qualquer movimento
do corpo ou onde que alhures.
toda palavra envolve o precipício
e os literatos foram todos para o hospício.
e não se sabe nunca mais do fim. agora o nunca.
agora não se fala nada, sim. fim, a guerra
acabou
e quem perdeu agradeça a quem ganhou.
Agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios.
Você não tem que me dizer
O número do mundo deste mundo
Não tem que me mostrar
A outra face
Face ao fim de tudo
Só tem que me dizer
O nome da república ao fundo
O sim do fim
Do fim de tudo
E o tem do tempo vindo;
Não tem que me mostrar
A outra mesma face ao outro mundo
(não se fala. não é permitido:
mudar de idéia. É proibido
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos
está vetado qualquer movimento
Torquato Neto
deve ser a irmã da cinderela
mas se não for é ela
.
o
corpo
não
mente
todo
poema
é
politica
mente
impo
tente
os
poetas
super
estimam
a poesia
os
domingos
minguam
entre
coxas -
moças
os
poetas
se
masturbam
o
corpo
insiste
( de cristais
escuros e
flácidos
rochedos
a cor da
água ao
sangrar teu
fogo
ao dar casa
à dor do
gozo )
romper urgente
hímen - cidade
incitar acinte
encetar açoite
os
poetas
se
congratulam
contentes
o
mercado
existe
impor poemas
putrefatos
amar o
tédio
e os
ermos
espaços
os domingos
estão
extintos
o corpo
não
sente
toda dor
está
estetica
mente
do
ente
sincronizar
semáforos
entronizar
áporos
o
poema
não
basta
e
a
besta
exige
o fim
do
ferro
fabril
da
formiga
sobre
a
farra
febril
da
cigarra
garbo gomes
Arte:
Imagem Merz
32 A. A imagem
da cereja
Kurt Schwitters
1921
— em Curitiba, Paraná
o dia ao findar
contempla a minha tristeza
como uma vazante
repleta de cicatrizes
que estão sempre supurantes
© Renata
Cordeiro
Arte: "Ondas ao Pôr do Sol" de Rotaru
Dragos
A POESIA FICARÁ
mesmo
que para sempre eu passe
haverá
haverá casais
aos
beijos às margens do sena
pescadores
esparsos beira
pomba
e ao largo do tejo
esse
o fonema o dilema
passo
a passo descompassado
eu
passo para sempre eu passo
e
passamos rumo ao esquecimento
que
importa o poema febre fugaz
–
peça passe compasso de passagem –
se
o pôr do sol sempre brilhará
magnífico
no palco de ipanema
pôr
do sol que se esvai no céu e some
e
apaga no quadro as minas-montanhas
e
só sobra o poema feito poesia
homero ronsard shakespeare whitman
pessoa poe rimbaud baudelaire eliot
resta
a poesia drummond cabral camões
a
poesia ficará
anos
muitos anos passados
e
esse beijo à beira-sena
à
beira-pomba beira-tejo
mãos
mãos se enlaçando
namorados
à beira rio
séculos
séculos depois
sobrarão
avencas acácias
e
o forte aroma das magnólias
Ronaldo Werneck
Cataguases, maio 2020
Publicado na
Coletânea
“Conexões Atlânticas”,
Lisboa, outubro de
2020
Clara Abreu – Atriz e co-produtora do Sarau
Campos VeraCidade
Início da carreira no âmbito teatral em 2013, aos
15 anos, pelo Curso Livre de Teatro na cidade de Campos dos Goytacazes, onde no
mesmo ano já integro um espetáculo e início minha participação em eventos
artísticos-culturais da cidade, com indicações significativas no ano seguinte
no FESTIM (Festival de Teatro Infantil) realizado no Teatro Trianon.
Algumas premiações fizeram parte desta trajetória
como Melhor Texto Original e indicação ao de Melhor Atriz, ambos pelo SATED, no
Teatro de Bolso Procópio Ferreira.
Os trabalhos mais recentes preencheram a
programação deste Teatro, bem como casas de cultura independentes da cidade, a
Bienal etc.
Hoje, licenciana em Teatro pelo Instituto Federal
Fluminense e com objetivo latente em proporcionar um acesso mais democrático ao
Teatro indo em escolas e comunidades da Região afim de levar discussões como a
Violência Contra a Mulher com a esquete autoral DANINHA, em parceria com a
Patrulha Maria da Penha.
veja toda programação no blog
https://coletivomacunaimadecultura.blogspot.com/
meta metáfora no poema meta
como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico plumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste
como
alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em plumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece
Artur Gomes
Juras
Secretas
Editora
Penalux - 2018
www.secretasjuras.blogspot.com
Due progetti
collaborativi. "Ryosuke Cohen BrainCells/Fractal portrait project - Studio
d'arte il Graffiacielo, a cura di Maya
Lopez Muro. E un add&pass
ricevuto da Lancillotto Bellini
e inviato a Dania Gentili
Dois projetos colaborativos. «Ryosuke Cohen
BrainCells/Fractal portrait project - Skyscraper art studio, editado por Maya
Lopez Muro . E um add&pass
recebido por Dania Gentili
e enviado para Lancillotto Bellini
"Viver é um descuido prosseguido".
Sigo à risca. Me descuido e vou...
Quebro a cara. Quebro o coração.
Tropeço em mim. Me atolo nos cinco sentidos.
Viver não é perigoso? Então, com sua licença!
Não tenho medo. Nasci assim.
Encantada pela vida. O sertão é dentro da gente.
Ah, como não? Aqui tudo é achado.
Somos ferro e fogo. Perigo nunca falta!
Sertão é igual coração.
Se quiser, que venha armado! Tudo é igual.
Aqui se vive. Aqui se morre. Dentro e fora da
gente.
Confusão demais em grande demasiado sossego."
Guimarães Rosa
A
música Construção, do Chico Buarque, e os corpos que não importam
A música "Construção", do Chico Buarque,
é uma das canções mais bem elaboradas do cancioneiro brasileiro e sua letra é
uma das mais importantes e atuais, porque retrata a crudelidade do capitalismo
selvagem e seletivo, as afecções dos corpos - os "anormais" - :
negros, negros de periferia, mulheres, mulheres negras e de periferia, PcDs,
LGBTQIA+, idosos, pessoas com nanismo, mães solo, grávidas etc., seus
dispositivos de controle, os micropoderes, a desimpôrtancia de um corpo
inserido na "humanidade?", toda essa compreensão clássica do homem e
a construção de subjetividades, que essa antropologia clássica do homem não dá
conta, somente uma sociologia e antropologia filosófica são capazes de pensar e
problematizar tais assuntos, assuntos, aliás, explorados por Michel Foucault
[Vigiar e Punir] e, recentemente, por Judith Butler [Corpos que importam - os
limites discursivos do "sexo"] e Ailton Krenak [O amanhã não está à
venda] Aqui, na letra de "Construção", do Chico, o corpo do operário
da construção civil, ao cair por acidente de trabalho, atrapalha o tráfego,
ninguém se comove com aquele corpo, logo passa a ser inútil para o capitalismo,
porque não mais produz.
Dudu Galisa
Dentaduras
duplas!
Inda não sou bem velho
para merecer-vos...
Há que contentar-me
com uma ponte móvel
e esparsas coroas.
(Coroas sem reino,
os reinos protéticos
de onde proviestes
quando produzirão
a tripla dentadura,
dentadura múltipla,
a serra mecânica,
sempre desejada,
jamais possuída,
que acabará
com o tédio da boca,
a boca que beija,
a boca romântica?...)
Resovin! Hecolite!
Nomes de países?
Fantasmas femininos?
Nunca: dentaduras,
engenhos modernos,
práticos, higiênicos,
a vida habitável:
a boca mordendo,
os delirantes lábios
apenas entreabertos
num sorriso técnico
e a língua especiosa
através dos dentes
buscando outra língua,
afinal sossegada...
A serra mecânica
não tritura amor.
E todos os dentes
extraídos sem dor.
E a boca liberta
das funções poético-
sofístico-dramáticas
de que rezam filmes
e velhos autores.
Dentaduras duplas:
dai-me enfim a calma
que Bilac não teve
para envelhecer.
Desfibrarei convosco
doces alimentos,
serei casto, sóbrio,
não vos aplicando
na deleitação convulsa
de uma carne triste
em que tantas vezes
me eu perdi.
Largas dentaduras,
vosso riso largo
me consolará
não sei quantas fomes
ferozes, secretas
no fundo de mim.
Não sei quantas fomes
jamais compensadas.
Dentaduras alvas,
antes amarelas
e por que não cromadas
e por que não de âmbar?
de âmbar! de âmbar!
feéricas dentaduras,
admiráveis presas,
mastigando lestas
e indiferentes
a carne da vida!
Carlos Drummond de Andrade
CAPTURA IDENTITÁRIA?
Ganimedes
Obra do artista Alexandre Mury
No Brasil, o acumulo de grandes riquezas alimentam as desigualdades.
Um mundo mais justo e menos desigual é possível,
mas para isso é necessário quebrar os monopólios e taxar os super ricos!
E você, o que acha?
As Cousas do mundo
Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa,
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
Gregório de Matos
“Gil,
meu irmão, faz 71 anos. Toda música que consigo produzir se deve a tê-lo
encontrado em 1963. Nunca cheguei (nem imaginei chegar) aos pés dele. Escolhi
essa foto que eu adoro e porque é no meu ap de Sampa, em 1968, e estamos com as
roupas que usamos na noite em que cantei ‘É proibido proibir’ e ele, ‘Questão
de ordem’. Minha roupa é toda de plástico. E tem um quadro de Vellame na
parede”,
Caetano Veloso.
Arte de Rua em meio aos escombros
*
*
A garota do seu sonho
À casa é sua
Você pode abrir a janela
Olhar para lua
Você pode pensar nela
e que ela estava quase nua
Dra. Gabriella
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