poema para o povo
em tempo de abertura
quando você descobrir
que no meu quarto moram
exilados e subversivos,
perceberá o perigo
de dormir comigo
numa cama fria de uma Frei Caneca
ou se mandar de vez
para a esquerda de Jesus!
quando das grades,
paredes e muros
descobrir amor,
o povo estará liberto
e poderá seguir: Fidel
Guevara Pabblo Neruda ou
Luther King
- sem precisar pedir esmola –
basta lembrar
que o aborto
da manhã perdida
é uma menina-nua
in-consciente e tesa
e para o que já foi deposto:
mais vale o céu
a estrela
o mar,
que o punhal ou sabre,
ou mesmo a bomba sábia
que de uma vez arrasa
mas não basta por si só
pois se os sinais dos templos
ainda não ruíram
é porque alguma coisa ainda existe
por detrás das crenças
ou mesmo desse Deus
em quem acreditamos
e para o que foi detido:
mais vale a terra
o trigo
o grão
que a navalha ou corda –
que amarra
prende
e corta
mas não basta
não reforça
e nem destrói
tudo de uma vez
- porque renasce e continua ...
e para a morte :
não é preciso golpes
nem estrelas
nem estradas
e para o povo
não é preciso o golpe
nem promessas
nem palavras
é preciso pão
Artur Gomes
na coletânea Ato 5
Coleção UNIVERSO
Campos dos Goytacazes-RJ – 1979
Obs.: este poema foi o vencedor do III Festival de Poesia Falada de Campos, na época realizado pelo Departamento Municipal de Cultura, que tinha em sua direção o saudoso poeta e jornalista Prata Tavares
Em 1980 fui levado por Osório Peixoto, para participar da Semana de Cultura no SESC da Tijuca, que era coordenado pelo professor Ivan Cavalcanti Proença. Quando no palco, terminei de falar este poema, fui conduzido para uma sala, por um soldado da PF para um interrogatório que durou mais ou menos umas 6 horas. Só fui liberado na madrugada quase ao raiar de um novo dia depois daquela noite escura. Tinha uma namorada na época, de nome Maria Helena, estudante do Colégio Benetti, onde Ivan Proença era o responsável pela cadeira de cultura popular, e a noite me levou para um bate papo com sua turma sobre O Boi-Pintadinho, livro que havia acabado de lançar.
canção de amor por um pedaço de LatinoAmérica
em parceria com Kapi
ao ver-te assim Nicarágua
em migalhas
mutilada –
quisera dar-te um leito
um prato
um peito
quisera ter-te
dentro dos poemas
fora das calçadas
fora dos caixotes
quisera como gente
quisera dar-te tanto
amanhecer de esperanças
sem fantasmas
sem trincheiras
quisera ter-te agora
ao redor da minha mesa
ver e ter teus passos
a caminho de resgates
que não fossem incertezas
quisera dar-te em sangue
tudo o que não comes
pois só pode saciar-te
em pratos que não são teus
pois os teus, eu sei
são restos
de rostos transfigurados
e sombras e madrugadas
e mortos em estilhaços
todos velados sem lençóis
quisera dar-te
qualquer coisa, amiga!
e que fosse fogo, força
e fé com finalidade
de estancar o que for preciso
e re-forçar os essenciais
quisera dar-te
uma estrada estreita
imensamente escassa
de rajadas e execuções
completamente ampla
de mentes novas
e humanas definições
quisera dar-te em sonhos
o que tiveste m pesadelo...
e plantar sobre o teu solo
outra América Central
com uma dose dupla
de antídotos capazes
contra as garras da discórdia
que se instalou sob os teus pés
e não seria preciso
que necessariamente fosse
uma estrada comprida
uma bonita estrada
caminho ao infinito
mas justamente fosse
uma humana estrada
para amparar-te agora
quisera dar-te um atalho
que fosse teu agasalho
para o refúgio dos homens
de todo pavor e medo
mas é possível que ainda
um mundo novo estabeleça
e estou quase certo
que ele por ti re-nasça
e aí então esta estrada
será possível entregar-te
com girassóis nas janelas
sem tanques
sem estilhaços
apenas humanas janelas
de corações
pernas
e braços
para proclamar o amor presente
e o ponto final da ditadura
amanhecer à luz do sol
e somente re-nascer
essa luz de liberdade
PONTAL
(a Ana Augusta Rodrigues)
aqui
onde rio e mar
se beijam
aqui no fim do mundo
onde terra e céu
se abraçam
num ato sexual
aqui
no fim do dia
um barco preso na corda
um peixe preso no anzol
a terra varrida ao vento
casas varridas ao temporal
aqui
no mesmo teto
pássaros sobre os calcanhares
homens sobre os girassóis
onde rio e mar se beijam
re-nascem nossos filhos
quando terra e céu
se abraçam
sem ter nem mãe nem pais
onde o seu refúgio
é nu meu peito aflito
e a minha solidão
nuteu corpo é
paz
Ai-5
(a todo homem que faz
do teu suor o nosso pão
de cada dia)
falo como se fôssemos
animais sem pastos
fartos de dor
famintos de ilusões
como se fôssemos
fantasias já usadas
gastas
e sem aproveitamento
em outros carnavais
como se fôssemos
a febre que não mata
o ódio que não falta
em cada quarto ou corpo
como armação tombada
favela por assalto tomada
de enchente de polícia e marginais
falo como se fôssemos
a grande queda
e o re-construir dos passos
após raízes descobertas
e um retomar de vozes
e palavras
encobertas por punhais
de um mesmo assassinato
como se fôssemos
500 mil barrigas
grávidas de fome
falo como se fôssemos
a vontade prenhe nos pulsos
e o nó cego na garganta
a corda em cada esperança
e um farejar de becos
com ratos, sem saídas
como se avistasse o mar
mesmo cravado em terra
como se fosse o céu
poeira pó e chão
como se ver morrer Maria
fosse nos matar de alucinação
falo como se fôssemos
apenas morte –
suave-mente
como se não passássemos
de apenas mundo
e através do parto
não nascesse o homem
mas gerasse o medo
falo como se tudo ou nada
não fosse...
ficasse
eternidade não existisse
prevalecesse
e a farejar os becos
não estivessem ratos
mas o próprio século
falo da favela onde nós moramos
como se não fôssemos, mas éramos
quando Maria-amiga não morreu de susto
mas morreu de tédio, nessa cidade inteira
onde nós vivemos como se não éramos
mas fôssemos uma família à mínguas
a so-correr dos custos e se perder dos gestos
sem poder conter ou controlar no peito
a invasão de asfalto em nosso mesmo sangue
falo como se a porta dos seus olhos
fosse o ventre desse sol
como se o céu da sua boca
fosse sinal de nossa vida
e não existissem entradas
nem fosse preciso saídas
e não houvesse tantos cortes
tem tantas almas feridas
como se abrir fosse fechar
como se chorar fosse sorrir
como se matar não fosse morrer
como se crescer não fosse matar
como se a pessoa encantada
levasse o povo no dorso
para um país consciente
e não houvesse paredes
grades – prisões ou muros
e um Jesus de carne e osso
sangrasse em pão sobre o presente
e abrisse em portas pro futuro
quanto ao poema sujo
que a nossa vida escreve
pode gerar a flor
dentro esse mesmo pântano
como se fosse escuridão
a doce e plena claridade
obs.: Em 1977 no livro Além da Mesa Posta, em um texto escrito por Orávio de Campos Soares, ele profetiza que, até então, minha poesia mística simbolista, ainda iria se debruçar sobre o social, o político. Nos poemas dessa coletânea Ato 5 publicada em 1979, começo a dar os primeiros passos nesse sentido. Em 1978 no poema Canta Cidade Canta, vencedor do II Festival de Poesia Falada de Campos, acredito que esta meta já estava traçada de forma talvez, até, inconscientemente, porque sempre gostei de afirmar que em mim, a poesia, nasce do impulso, flui, sem muito planejamento, é fruto do instante, do Estado de Poesia. Em 1980, com o Boi-Pintadinho, a profecia do Orávio se concretiza, pois nele a minha voz poética está totalmente afiada para cantar os horrores das nuvens de chumbo que pairou sobre o Brasil de 1964 a 1985, e que, infelizmente, estamos novamente com elas sobre nossas cabeças.
PRIMEIRO AMOR
montado no sol a pino
no pasto do céu em chamas
eu cavaleiro menino
enlouqueci na sua cama
VOO SELVAGEM
II
meu coração galopa
pelo campo à fora
no dorso dos poemas
na pele das esporas
III
diante da cerca
estão os bois
saciando o sexo:
corpos sob o sol
selvagens & parceiros
guiados pelo odor
amando pelo cheiro
CORAÇÃO CIVIL
meu coração vadio
quando está no cio
faz comício em seu quintal
vai pro bar e bebe o rio
e canta um hino nacional
FRUTAS FARTAS
no vermelho dos morangos
marron dos sapotis
na pele das romãs
carne das goiabas
polpa das amoras
licor das melancias
bunda das maçãs
pelos das mangas
e tropical abacaxi
no gosto que elas tem de beijo
e jeito que elas tem de sexo
penetro os dentes mordendo
chupando dragando em ti
a terra das frutas na boca
arando o vale das coxas
com o caule da minha espada
no pomar dar tuas pernas
eu planto a língua molhada
Artur Gomes
Suor & Cio –
MVPB – Edições 1985
RETÓRICA
salve lindo pendão
que balança
entre as pernas
abertas da paz
tua nobre sifilítica
herança
dos rendez-vous
de impérios atrás
TROVA
MEU coração
é tão hipócrita
que não janta
e
mais imbecil
que ainda canta:
ou
viram no Ipiranga
às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta
TERCEIRO MUNDO
sonho rola no parque
sangue ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
muito menos com punk
meu vídeo letal é baiafro
com ódio mortal de yanque
1º DE ABRIL
telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite
uma estrela ainda brigava
contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos
esperei-te 20 anos
até hoje não viste à minha porta
TROPICALIZANDO
o poeta esfrangalha a bandeira
rasga o sol
tropical bananeira
na geléia geral brasileira
o céu de abril
não é de anil
nem general é my brazyl
II
minha verde amarela
esperança
portugal já vendeu
para a frança
e o coração latino
balança:
entre o mar
de dólar do norte
e o chão
dos cruzeiros do sul
III
o poeta estraçalha
a bandeira
raia o sol marginal
quarta-feira
nessa porra estrangeira
e azul
que á muito índio dizia:
- foi gringo que trouxe no cu –
HERÓI NACIONAL
meu coração marçal tupã
sangra tupi & rock and roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tuponambá
samba jongo maculelê
maracatu boi-bumbá
a veia de curumim
é coca cola e guaraná
RELATÓRIO
I
na sala ficaram cacos de pratos
espalhados pelo chão. pedaços do corpo retidos
entre o corredor, após o interrogatório.
um cheiro forte de pólvora e mijo
misturados a dois ou três dias sem banho
depois de feito sexo
só o fogo da verdade exalando odor e raiva
quando em verde, conspiravam contra nós
em são cristóvão o gasômetro vomitava
um gás venoso nos pulmões já cancerados
nos quartéis da cavalaria
II
eu me lembro
o sentimento era náuseas, nojo, asco
quando as botas do carrasco
bateram nos meus ombros com os cascos
jamais me esqueci o nome do bandido
escondido atrás dos tanques
e se chamavam:
Dragões da Independência
e a gente ali na inocência
comendo estrumes. engolindo em seco
as feridas provocadas por esporas
aguentando o coice, o cuspe
e
a própria ira
dos animais de fardas
batendo patas sobre nós.
III
com a carne em postas sobre a mesa
o couro cru, o coração em desespero,
o sangue fluindo pelos poros, pelos pulsos
eu faço aqui
meditações sobre o presente
re cri ando
meu futuro
tendo o corpo em cada porta
e a cara em cada furo
tentando soerguer
as condições pra ser humano
visto que tornou-se urbno
e re-par-tiu
se
em mil pedaços
visto que do sobre-humano
restou cabeça pés e braços
Artur Gomes
Couro Cru & Carne Viva
1987
Obs.: Em 1983, eu crio o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira, ainda trabalhando como linotipista na Oficina de Artes Gráficas da então, Escola Técnica Federal de Campos, ao mesmo tempo que cooptava alunos para subverterem comigo, a ordem natural das coisas na Oficina de Teatro. Com a Mostra. comecei a ter contato, com a maioria dos poetas brasileiros contemporâneos, vivos ou não. E a partir de então, pude constatar, que os poetas buscavam outros experimentos, não estavam mais satisfeitos com o verbo. Comecei a testemunhar uma grande profusão de Poesia Postal, Poema Processo, Poesia Concreta, Poesia Visual, e até alguns experimentos com audiovisual. Por encontrar profundas afinidades, debrucei sobre a obra de 3 grandes poetas: Torquato Neto, Paulo Leminski e Oswald de Andrade. E foi fundamental, a orientação para essas leituras, que tive do meu saudoso e inesquecível mestre Uilcon Pereira, que tive a felicidade de conhecer e desfrutar dos seus conhecimentos. Acredito, que, as experiências com a própria vida, as leituras, reflexões e buscas de novos caminhos para a escrita, tenha me levado a escrever o que está escrito lavrado em Suor & Cio e Couro Cru & Carne Viva, muito bem analisados em seus prefácios por Uilcon Pereira e Arthur Soffiati, respectivamente. Neles, tem início na minha lavra poética, as malandragens do poeta, os experimentos de linguagem, com metáforas, metonímias, meta-linguagem, de forma concisa, enxuta, visceral, onde o erótico o satírico o sarcástico começam a fazer parte da escrita desse ser iconoclasta.
só a antropofagia nos salva : socialmente religiosamente
politicamente
Oswald
de Andrade
antropofágica
mente vamos comer 22
com uma câmera nas mãos
um poema na cabeça
vamos filmar o poema
antes que desapareça
nathalia osório
nem sei quando te olhei a primeira vez
com esse olhar de capitu
mas já estava lá entre o sangue
a carne a pele os músculos
travegava na paisagem
como quem descasca uma manga
e despe até o caroço
era 5 horas da tarde de sol e árvores
de um dia que não sei qual era
mas já estava lá entre as retinas
a íris flor de lótus lírios
e o mar entre os cabelos
não eram ondas magnéticas
elétrica sinergia entre dois corpos animais
fôssemos cavalos aranhas mesmo
peixes
mas estava lá trêmula indecisa
e só falava entre os lábios
palavras que nem eu mesmo decifrava
quando toquei tuas mãos pela primeira vez
Artur
Gomes
Baudelíricas Baudeléricas
sequestro teu corpo poema
na sala de entrada do cinema
o corpo eu levo para cama
o poema grafito
nos lençóis de Iracema
te convido para uma viagem antropomágica
aqui
https://www.facebook.com/studiofulinaima
Revirando a Tropicália
Semana 22 - 100 Anos Depois
“Alegria é a provados 9
A massa ainda comerá os biscoitos finos que fabrico”
Oswald de Andrade
Você tem fome de quê
Você tem sede de quê
Eu tenho sede fome de V(L)ER
com uma câmera nas mãos
um poema na cabeça
vamos filmar o poema
antes que desapareça
Em São Paulo uma menina
me chamou de SerAfim
por saber que poesia
é tudo que transa em mim
E ainda uma outra
me chamou de desvairado
por saber que concretismo
anda sempre do meu lado
Foi então que em Teresina
me chamaram de Torquato
ao perceberem minha boca
com esse meu vapor barato
E uma outra feminina
me chamou de Faustino
por re-V(L)ER no meu poema
esse sotaque feminino
No Recôncavo da Bahia
bem no centro o reconvexo
foi tamanha a alegria
quando fiz primeiro sexo
Uma garota sensual
me pediu par ler Leminski
quando viu meu visual
no poema de Kandinski
E encontrei fulinaíma
no universo paralelo
pra revirar um céu de anil
desse país verde amarelo
Revirando a tropicalha
pelo avesso do avesso
foi tamanha a CarNAvalha
que perdi meu endereço
Fui parar em Ipanema
num 1º de Abril
quando assisti pelo cinema
a pátria mãe que nos pariu
Fui pro morro da Mangueira
Re-inventei Parangolé
por entender que esse brasil
ainda vai ficar de pé .
Artur Gomes
O Homem Com A Flor Na Boca :
Deus Não Joga Dados
www.arturfulinaima.blogspot.com
Poéticas 2021
Sagaranagens Revisitada
quanto mais me fragmento
ainda mais me multiplico
diamante de porto rico
em são sebastião do sacramento
ando distante dos teus olhos
Isadora atravessa a rua
vestida de transparência
quando passo saio desta cidade
a cidade não sai de mim
há 25 anos brincamos
de Riobaldo Diadorim
moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
Clarice a mulher que come livros
Isadora a que namora
nesta vida Severina
um drummundo como sócio
devorar é minha sina
profanar o meu negócio
poesia
objeto estranho
feito de chumbo
antimônio estanho
poesia é meta física
meta quântica
itaipu é o paraíso
que restou da mata atlântica
ela me chega assim bailarina
como uma tarde de música
envolta em física quântica
etérea qual labirinto
para dizer o que sinto
e desvendar teu endereço
procuro em teu livro secreto
palavras que não conheço
libertinagem
para Manuel Bandeira
in memória
esse mar de vinho
me incendeia nas madrugadas
de Bento – pulsar entre dois corpos
em altas ondas sacrossantas
na kamasutra
do altar no centro
no papel de guardanapo
escrevi bolero blue
enquanto bebia o conhac
na boca da musa azul
estava já no quarto do hotel vinocap pronto para me jogar nos braços de morfeu – o telefone toca – vai dormir¿ - sim, tem outra coisa pra fazer¿ - tem. estou te esperando na cidade alta 6 anos de metáforas de fogo não podem permanecer impunes. o meu acróstico em BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas, foi arrancado por mãos ciumentas. mas o beijo que guardo em minha boca, a saliva que quando em minha língua, a aranha ostra que guardo entre as coxas na pulsão de te engolir inteiro de mim ninguém arranca de mim ninguém tira .
Ato 5
o Grupo Uni-Verso, depoisde publicar quatro livros de seus fundadores, Prata Tavares, Elizabetch Flach, Amélia Maria Alves e Luiz Sérgio Azevedo dos Santos, além de co-editar a novela “Os Anõezinhos Eram Nuvens”, do padre Antonio Ribeiro do Rosário, parte para uma nova experiência, lançando este Ato 5, de cinco poetas voltados para a poesia participante.
Este Ato 5, é inverso a outros atos que aprendemos a repudiar. Ou melhor é em verso. O título está profundamente vinculado às atividades teatrais de todos os cinco (autores atores de textos dramáticos): (Jão Vicente Alvarenga, Kapi, Artur Gomes, Orávio de Campos e Prata Tavares) e representa, ainda , um espetáculo poético em cinco quadros distintos. Cada um com sua voz própria.
Esta é uma antologia inicial. A abertura de um novo processo criador. Dependendo da receptividade do público, outras antologias, serão publicadas. De poesia, de contos, de novelas, de teatro, de ficção em geral.
É uma arrancada para outros cometimentos. Uma abertura a novas oportunidades criadoras de nossa gente. O resto é o que você vai ler.
Prata Tavares.
Obs.: Amara Prata Tavares, além de poeta e jornalista, e um dos fundadores do Grupo Uni-Verso, foi por muitos anos Diretor do Departamento Municipal de Cultura, durante todo o período do governo de Zezé Barbosa. Em 1977 criou o I Primeiro Festival de Poesia Falada, de Campos dos Goytacazes-RJ, que foi sempre realizado no Teatro de Bolso, até meados da década dos anos de 1980. Infelizmente, a ingrata o levou antes que pudesse realizar o seu grande sonho de publicar outras antologias pelo Grupo Uni-Verso.
POESIA
I
chegas a mim
como uma égua assanhada
não quer saber do meu carinho
só quer saber de ser trepada
II
eu te penetro
em nome do pai
do filho
do espírito santo
amém
não te prometo
em nome de ninguém
outros leitores
que já teceram alguma escrita
sobre a poética de Artur Gomes
Suor & Cio – Artur Gomes
A cor da pele, à flor da pele, tecido da pele, à flor da terra.
É o livro de Artur Gomes:
Suor & Cio, reconduz o homem a terra. Resgata o seu suor de homem e cio da terra. É tanto amor e o tanto amar homem terra homem.
Artur tem muito da característica de João Cabral, quando fala da terra, mundo: muito de Ledo Ivo na capacidade de reunir palavras e dizer algo, que as vezes, gostaríamos de gritar com todas as forças.
Poeta de fôlego de gato. Artur é uma das grandes expressões da atual poesia brasileira.
Hugo Pontes
Poços de Caldas-MG – 17 junho 1987
Poesia tropical, bagaço, engenherotrismo. É o novo livro de poemas de Artur Gomes, “Suor & Cio”, recém-lançado pela MVPB-Edições. O poeta funde um caldo de Brasil em versos densos e cabralinos. Tem gosto de melaço, textura de pele feminina roçando céus de bocas.
“Suor & Cio” condensa uma década de trabalho poético intenso e renovador de Artur Gomes. A eterna contradição entre o encurralado homem urbano e as delícias do pé no chão. O bom selvagem palpitando na jugular, forçando abertura da gravata do burocrata de Ipanema ou da corda no pescoço da malandro da Rocinha. É suor e cio mesmo. Mulheres e Mulheres passeiam pelo livro, figuras suaves como convém ao neolirismo, e o erotismo inevitável, neste tempos de tesão grandes e em série.
É uma boa ler a poesia de Artur Gomes numa tarde ensolarada de verão e depois guardá-la ao alcance da mão.
Sua poesia desperta toda a crocrodilice que a selva de pedra encerrou numa caixinha preta.
Pra conferir, o endereço para pedidos é: Rua Gomes Carneiro, 131801 – Ipanema – Rio de Janeiro – Cep 22071-800
Eloésio Paulo dos Reis
Alfenas – MG – outubro 1985
Obs.: este endereço acima foi meu lugar de repouso entre 1983 a 1987.
Under ground poemas mágicos Artur Grande sois Torquato Neto. Eu de Marte comemos o resto. Aplausos.
PS informo sua participação na caminhada poética Recife na minha voz.
Ayrton Santha Agatha
Recife – Setembro – 1986
O CORPO DA POESIA
para Artur Gomes
I
Seu semântico
sêmen
quântico
seu semeio
sêmen
esteio.
nos aceiros
assim e
pinci
pau
mente
assados.
nas moendas
assim
e parti
cu
lar
mente
assadas.
II
seu pênis poético
(caneta tinteiro
lápis grafite)
é tênis
atlético
a cada passada
por toda calçada
por todos os Campos
&
campus.
seu gozo é pôr
prazer.
III
E se a terra é escrava
a mulher é companheira
e se todas duas suam,
gemem, sabem
da rija verga da cana,
só você pode fazer
com cada uma
uma mágica
e tê-las como fecundas,
frutas, fibras, forças, fadas
e não só vê-las (solvê-las) absurdas,
frias, frágeis, soturnas, apáticas.
IV
É que o corpo da poesia
tem em si suor & cio
tem assim toque macio
e braveza de enxurrada.
Marco Valença
Itapuã – Salvador – Bahia
05 setembro – 1985
COM OS PÉS NO CHÃO
Atenção, você está diante de um bom poeta. Aqui a poesia é marca da vida. Da minha, da tua e da nossa vida. Nada de dar costas à realidade como fizeram os parnasianos de ontem e depois. Nada de escamoteá-la sob o delírio da transcendência, como fizeram os simbolistas. Nada subjugá-la a formalismos falsamente vanguardistas. Esta é, sim, uma poesia de testemunho de indignação e de amor a arte e ao ser humano. Suas vertentes? Poderíamos situá-las mais distantes em Castro Alves com seu ímpeto participante. Mais perto, nas tendências duradouras do modernismo brasileiro: Oswald de Andrade, com a irreverência e o humor; em Carlos Drummond de Andrade e especialmente em Manuel Bandeira, através do solidário envolvimento com o cotidiano.
“veja bem na minha língua as labaredas do inferno e só use o meu poema com a força de quem xinga”.
Adverte o poeta no conjunto intitulado “ O Dia em que o meu cavalo resolveu pintar as cores da bandeira”. A consciência de cidadão do terceiro mundo, da dependência econômica e do aviltamento cultural, impregna a palavra poética. O poema é dividido em vários segmentos, que podem também ser apreciados individualmente, em suas nuances formais e semânticas. No todo se destacam a insubmissão à tirania, à múltipla ironia, e o apelo a autenticidade.
Leia os poemas como quem ouve ou até mesmo em voz alta – você vai ter agradáveis surpresas. Há efeitos de ritmos e de sonoridade que assim se percebem melhor. Eles se associam a uma forte identidade do poeta com a cultura popular, presente também nos outros livros de sua autoria, sobre tudo O Boi-Pintadinho (1980) e Suor & Cio (1985). Sem esquecer de Jesus Cristo Cortador de Cana, todo escrito em linguagem de cordel (1979). Esta identidade com o popular se estende ao cotidiano. Em torno das palavras que o nomeiam ocorre uma certa ruptura da ordem, um certo embaralhar de sentidos que configuram bem a realidade urbana e a sua “desordem” reinante.
Tem a ver também, obviamente, com o contra-senso das situações, a exemplo da paisagem do Rio., carregada simultaneamente de poesia e de dramática miséria humana.
Por isso diz o poeta pungente:
“não bastaria toda poesia”
E o que mais é preciso? Ora, é necessário por os pés no chão, ser solidário, acreditar na força d palavra, carregá-la de sentido humano e batalhar pela sua justa partilha. Isso vem fazendo Artur Gomes, numa trajetória consistente, marcada por um lúcido compromisso som a poesia e com a sua difusão.
Ilha de Santa Catarina, 03 de junho – 1987
Alcides Buss- poeta e professor da Universidade Federal de Santa Catarina-SC
Artur Gomes
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