por Ademir Assunção 
TERRA DE SANTA CRUZ 
ao batizarem-te deram-te o nome
posto que a tua profissão 
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
 ouro prata
rios peixes 
minas mata
deixar que os abutres 
devorem-te na carne
o derradeiro verme.
salve lindo pendão que balança
entre as pernas abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendez-vous de impérios atrás.
meu coração é tão hipócrita que não janta
e mais imbecil que ainda canta
ouviram no ipiranga às margens plácidas
uma bandeira arriada 
num país que não levanta.
telefonaram-me
 avisando-me que vinhas
na noite 
uma estrela ainda brigava 
contra a escuridão
na rua sob patas
 tombavam homens indefesos
esperei-te vinte anos 
e até hoje não vieste 
à minha porta.
o poeta estraçalha a bandeira
raia o sol marginal quarta-feira
na geléia geral brasileira
o céu de abril não é de anil
nem general é mãe brazil.
minha verde e amarela esperança
portugal já vendeu para a frança
e o coração latino balança
entre o mar de dólares do norte
e o chão dos cruzeiros do sul.
o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal sexta-feira
nesta zorra estrangeira e azul
que há muito índio dizia:
meu coração marçal tupã
 sangra tupy e rock’n’roll
meu sangue tupiniquim
 em corpo tupinambá 
samba jongo maculelê 
maracatu boi bumbá
a veia de curumim 
é coca cola e guaraná.
o sonho rola no parque 
o sangue ralo no tanque
nada a ver com tipo dark 
muito menos com punk
meu vício letal é baiafro 
com ódio mortal de ianque.
ó baby a coisa por aqui 
não mudou nada
embora sejam outras
 siglas no emblema
espada continua a ser espada
poema continua a ser poema.
Do cd Fulinaíma – Sax, Blues e Poesia
Edição do autor, 2002
"Terra de Santa Cruz " é foda, um épico, como poucos, muito poucos, da desgraça dessa nossa terra tão violentada. Para quem conhece a versão gravada, na voz de Artur Gomes, cruzada com o blues Noite Escura, de Reubes Pess, a publicação do poema no silêncio da escrita é uma redução drástica, mesmo que mantenha sua contundência cristalina e triste. Porra, ouça isso. As imagens são simples, a impressão é de que foi o que deu pra fazer. O que importa é a força do poema lançada como lava de vulcão bem dentro dos nossos ouvidos. Eis o link: https://www.facebook.com/studiofulinaima/videos/1366124026815847/?hc_ref=PAGES_TIMELINE
Artur Gomes
FULINAIMICAMENTE
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