UM IDIOTA NO
MEIO DO CAMINHO
não havia uma pedra no meio do
caminho
havia um idiota completo com seu
olor de ódio
um idiota completo que relinchava
— sem a elegância dos
cavalos
um idiota completo com seu fedor
de coisa pútrida
babando bílis, bebendo pus,
peidando, defecando
sobre bandeiras verdes sem matas
sobre bandeiras azuis de céus
sufocantes
sobre bandeiras amarelas de raiva
sobre bandeiras brancas manchadas
de sangue
um idiota completo regurgitando e
resfolegando
violência, tortura, ameaças,
assassinatos
um idiota completo e mentiroso
com seu pau hasteado
numa selva escura e sem saída,
sem onça-pintada
sem lobo-guará, sem tatu-peba,
sem rola-bosta
um idiota completo que berra nos
ouvidos de madalena
eu não te estupro porque você é
feia!
meu filho não te come porque você
é preta!
um führerzinho mal ajambrado em
talho tosco
gritando morte aos veados! morte
aos vermelhos!
morte aos que ouvem essa música
barulhenta!
morte aos montes! morte em marte!
marche! marche!
e a turba trevosa e tenebrosa
entra em transe
e afia as facas e estala as
esporas e engatilha as armas
revelando às crianças uma face
dura e rude
sem leveza, sem beleza, sem
delicadeza alguma
um idiota tão maligno e digno de
pena
que nem vale o esforço de um
poema
Ademir Assunção
Risca Faca – Selo Demônio Negro
2021
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