quinta-feira, 7 de março de 2024

clara baccarin

 

"lavo minhas mãos

viro as costas, apesar de ainda

olhar para trás

tiro o corpo fora

a alma deve vir depois

 

lavo minhas mãos

essas que estiveram sempre sujas

sempre cheias

na empreita de restaurar canteiros

de terras de autoabandono

 

lavo minhas mãos

condicionadamente

minhas teimosas

e domesticadas mãos

que ainda não sabem

guardar os tempos para si

 

lavo minhas mãos cansadas

de cuidar do que não tem cuidado

guardo nos bolsos

meus gestos ansiosos

aprendendo a ver o outro passar

sem achar que posso abrir caminhos

aprendendo a ver o outro olhar

sem achar que eu detenho a luz

e que por isso posso receber

as trevas

 

lavo minhas mãos devagar

reestabelecendo as fronteiras

entre os nossos destinos"

 

Clara Baccarin


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