"lavo minhas mãos
viro as costas, apesar de ainda
olhar para trás
tiro o corpo fora
a alma deve vir depois
lavo minhas mãos
essas que estiveram sempre sujas
sempre cheias
na empreita de restaurar canteiros
de terras de autoabandono
lavo minhas mãos
condicionadamente
minhas teimosas
e domesticadas mãos
que ainda não sabem
guardar os tempos para si
lavo minhas mãos cansadas
de cuidar do que não tem cuidado
guardo nos bolsos
meus gestos ansiosos
aprendendo a ver o outro passar
sem achar que posso abrir caminhos
aprendendo a ver o outro olhar
sem achar que eu detenho a luz
e que por isso posso receber
as trevas
lavo minhas mãos devagar
reestabelecendo as fronteiras
entre os nossos destinos"
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