terça-feira, 29 de março de 2022

demarcação é uma questão de justiça



DEMARCAÇÃO É UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA –

Wilson Coêlho

Há que se pensar um Brasil nunca pensado antes. Para se fazer do Brasil um país soberano, as pautas dos indígenas, dos quilombolas e da reforma agrária são prioritárias e urgentes e, obviamente, vêm com um atraso de mais de cinco séculos, desde a invasão dos colonizadores. E como dizia Enrique Dussel, não foi um descobrimento, mas um "encobrimento do outro", sem nenhum respeito ou consideração à alteridade. Por esse motivo e por tantos outros, não há espaço de conciliação no inconciliável. Apesar de ter me referido a três prioridades, agora vou me ater à primeira e mais urgente, a questão indígena. Em próximos momentos exploro os quilombolas e a reforma agrária.

Retomando o tema indígena: Demarcação já! A terra aos seus legítimos donos. Conforme o IBGE, desde 1872, houve 11 Censos no Brasil e, o mais recente foi realizado em 2010, o que significa, para muitos pesquisadores e formuladores de políticas públicas, que alguns dados brasileiros estão desatualizados em mais de uma década. Mas de acordo com esse último Censo, de 2010, a população indígena no Brasil era de aproximadamente 817 mil pessoas, organizadas em 270 etnias falantes de 180 línguas distintas e quase 100 dialetos. Mas voltando aos primórdios, segundo dados publicados pela Funai, a população indígena em 1500 era de aproximadamente 3.000.000 habitantes divididos entre 1.000 povos diferentes, sendo que aproximadamente 2.000.000 estavam estabelecidos no litoral do país e 1.000.000 no interior. Esses dados provam o quanto desses povos foram exterminados e como até hoje esse projeto genocida continua em voga. E o genocídio não se limita apenas à questão do extermínio físico, mas também o da memória.
É muito comum qualquer idiota se referir a uma atitude insana como "programa de índio", ou mesmo, até com pessoas consideradas cultas se referirem ao Tupiniquim como algo depreciativo. Em 2010, estive em Roraima e fiz contato com Yanomami, Macuxi, Wapichana, Igaripó e Wai-wai. Muitos jovens/adolescentes Macuxi estavam vivendo e trabalhando entre os chamados civilizados ou, conforme Darcy Ribeiro, "sifilizados". O mais deprimente é que muitos deles não queriam ser reconhecidos como indígenas, pois no processo de "educação/alfabetização, em todos os livros, eles eram interpretados como idiotas, como "sem cultura". Essa é a arma do colonizador, depreciar o colonizado para que até ele mesmo seja condicionado a aceitar essa criminosa justificativa dos dominantes.

Mas quando me refiro à demarcação, significa o reconhecimento dos legítimos donos da terra. Uma área ocupada pelos indígenas não dever ser considerada propriedade do estado brasileiro, mas um território dessas nações que ali vivem.

Os territórios indígenas devem ser respeitados como pertencentes às nações que os ocupam. Nenhum garimpeiro, latifundiário ou qualquer aventureiro deveria adentrar a esses territórios sem permissão, sem um "passaporte". Nem o presidente da república que, se quisesse entrar, deveria estabelecer uma relação diplomática entre nações.

Quando os portugueses chegaram aqui, olharam para esses povos e os chamaram de índios e, depois, fizeram uma cerca em volta deles e batizaram a terra de Brasil. Mas eles não tem nada a ver com isso. Eles não são índios e nem brasileiros. Eles são povos, nações, com língua, história e cultura, cada um com sua interpretação de mundo, sua cosmogonia.
Demarcação já e respeito a esses povos originários e que, graças a eles, o Brasil não se transformou num Saara, pois são os grande defensores e preservadores da natureza.

A demarcação não se trata de uma dádiva divina ou um favor do governo, mas uma questão de justiça e de humanidade.


FulinaímaMultiProjetos

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