DEMARCAÇÃO
É UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA –
Wilson Coêlho
Há que se pensar um Brasil nunca pensado antes.
Para se fazer do Brasil um país soberano, as pautas dos indígenas, dos
quilombolas e da reforma agrária são prioritárias e urgentes e, obviamente, vêm
com um atraso de mais de cinco séculos, desde a invasão dos colonizadores. E
como dizia Enrique Dussel, não foi um descobrimento, mas um "encobrimento
do outro", sem nenhum respeito ou consideração à alteridade. Por esse
motivo e por tantos outros, não há espaço de conciliação no inconciliável.
Apesar de ter me referido a três prioridades, agora vou me ater à primeira e
mais urgente, a questão indígena. Em próximos momentos exploro os quilombolas e
a reforma agrária.
Retomando o tema indígena: Demarcação já! A terra
aos seus legítimos donos. Conforme o IBGE, desde 1872, houve 11 Censos no
Brasil e, o mais recente foi realizado em 2010, o que significa, para muitos
pesquisadores e formuladores de políticas públicas, que alguns dados
brasileiros estão desatualizados em mais de uma década. Mas de acordo com esse
último Censo, de 2010, a população indígena no Brasil era de aproximadamente
817 mil pessoas, organizadas em 270 etnias falantes de 180 línguas distintas e
quase 100 dialetos. Mas voltando aos primórdios, segundo dados publicados pela
Funai, a população indígena em 1500 era de aproximadamente 3.000.000 habitantes
divididos entre 1.000 povos diferentes, sendo que aproximadamente 2.000.000
estavam estabelecidos no litoral do país e 1.000.000 no interior. Esses dados
provam o quanto desses povos foram exterminados e como até hoje esse projeto
genocida continua em voga. E o genocídio não se limita apenas à questão do
extermínio físico, mas também o da memória.
É muito comum qualquer idiota se referir a uma
atitude insana como "programa de índio", ou mesmo, até com pessoas
consideradas cultas se referirem ao Tupiniquim como algo depreciativo. Em 2010,
estive em Roraima e fiz contato com Yanomami, Macuxi, Wapichana, Igaripó e
Wai-wai. Muitos jovens/adolescentes Macuxi estavam vivendo e trabalhando entre
os chamados civilizados ou, conforme Darcy Ribeiro, "sifilizados". O
mais deprimente é que muitos deles não queriam ser reconhecidos como indígenas,
pois no processo de "educação/alfabetização, em todos os livros, eles eram
interpretados como idiotas, como "sem cultura". Essa é a arma do
colonizador, depreciar o colonizado para que até ele mesmo seja condicionado a
aceitar essa criminosa justificativa dos dominantes.
Mas quando me refiro à demarcação, significa o
reconhecimento dos legítimos donos da terra. Uma área ocupada pelos indígenas
não dever ser considerada propriedade do estado brasileiro, mas um território
dessas nações que ali vivem.
Os territórios indígenas devem ser respeitados
como pertencentes às nações que os ocupam. Nenhum garimpeiro, latifundiário ou
qualquer aventureiro deveria adentrar a esses territórios sem permissão, sem um
"passaporte". Nem o presidente da república que, se quisesse entrar,
deveria estabelecer uma relação diplomática entre nações.
Quando os portugueses chegaram aqui, olharam para
esses povos e os chamaram de índios e, depois, fizeram uma cerca em volta deles
e batizaram a terra de Brasil. Mas eles não tem nada a ver com isso. Eles não
são índios e nem brasileiros. Eles são povos, nações, com língua, história e
cultura, cada um com sua interpretação de mundo, sua cosmogonia.
Demarcação já e respeito a esses povos originários
e que, graças a eles, o Brasil não se transformou num Saara, pois são os grande
defensores e preservadores da natureza.
A demarcação não se trata de uma dádiva divina ou
um favor do governo, mas uma questão de justiça e de humanidade.
FulinaímaMultiProjetos
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