cidade
plantada na moldura
ma/
dura
da cana verde
a cidade sustenta
a sua história
esquecida a fábula
perdeu-se o espelho
do amanhecer
o índio ex/
tinto
o negro misturado ao gozo do branco:
nova raça esmaecida em planto
suor e esperma na entrega escrava
e a vida fez-se em dádiva
em dúvida
em dívida
a sustentar na sombra do caminho
viva centelha de espera e ânsia
um rio que era peixe
corta seu dorso polu/ído
como espada fluída
em desuso de ferrugem:
urgente apelo de aquática fome
nessa cidade aflita
o tempo se fez espera
lenta
es/fera
a rodar gemidos
que o riso escandido esconde:
grito adormecido
a palha queimada da usina
espalha
negra fuligem
descorada sombra
do labor escuro
não revelado
em fotografria
cidade
(rapa/cidade)
descubro sua paisagem:
palácio casa choupana
asfalto pedra lama
avenida rua beco
cidade
(vera/cidade)
componho sua alegria:
carnaval baile fandango
jongo em terreiro batido
desfile jogo e corrida
cidade
(fero/cidade)
reinvento sua fé:
catedral templo terreiro
missa culto macumba e reza/dor
cidade
(morda/cidade)
surpreendo seu pesar:
uísque cerveja cachaça
clube bar buate e boteco
(espera que o mundo é um tombo
que a vida é um rombo)
cidade
(velo/cidade)
o tempo tem seu avesso
espera
Prata
Tavares
In Ato 5 – coletânea de poesia publicada em 1979 pelo grupo
UNI-VERSO, com poesias também de Artur Gomes, Antônio Roberto Góis Cavalcanti
(Kapi), João Vicente Alvarenga e Orávio de Campos
usina
usina:
usina são uns olhos
despertos antes do sol
a boca mal lavada
num gole de café
e um esfregar de mãos
para aquecer o dia
usina e uma longa
e curta
caminhada
inventada em carrocerias
carroças e bicicletas
ou um usar de pés
pra se fazer o dia
usina é um balé
de lenços de cabeça
camisa de xadrez
foice e facão
entre um gole e outro
de café
usina é um apito
de sol à pino
(feito de marmitas)
quando os olhos nada dizem
e as bocas são limpas
por mãos em conchas
usina é um gosto
(doce-amargo)
de uns caldos
escorrendo
ora nas moendas
ora nos moídos
é um fazer-de-conta
pós-apito
na birosca ao lado
com uns parceiros
um remedar de vida
depois
um mal dormir
de pais e filhos
(de fome de frio de medo)
para antes do sol
se tenha despertado
usina é usura
são olhos
que se estendem
quando em vez
a casa grande
são umas vidas
escapando
pela chaminé
Antônio
Roberto de Góis Cavalcanti(Kapi) – in Ato 5 – 1979
o tempo
tem seu avesso
para
Prata Tavares in memória
cidade
quando penso nela
lembro
nossas angústias
dormem em camas
de
ferro
madeira
ou
palha
nossas palavras
também são foices
facãos
ou
car/navalhas
nossos poemas
estiletes
canivetes
para rasgarem
o pano de luxo
das mortalhas
nossas mágoas
lavamos
nas águas do paraíba
enquanto eles
que pensaram
serem donos da cidade
com toda fero/cidade
assassinaram
e incineraram os corpos
na usina cambaíba
Artur
Kabrunco
https://fulinaimargem.blogspot.com/
imagem: Jean-Michel Basquiat
tontas vezes me re-par-to mul-ti-pli-co em 7
alegria dos noves fora nada tudo é baudelérico federico me dizia leonardo fez
80 afonso 84 na rede somos 3 quando ele vem já somos 4 em temporais escrevo e
sangro como boi antes da morte muitos outros já se foram e nem gozaram em 69 se
eu me lembrar 64 não posso esquecer 68 era uma noite de maio peguei o trem pra
são cristóvão depois avião para brasília quando voltei no espelho dédala já
estava dentro da tipografia
Artur Gomes
O Homem Com A Flor Na Boca
Editora Penaluxx – 2023
https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/
OUVINDO
A OUTRA VOZ DE QUE FALAVA OCTAVIO PAZ
por Rubens Jardim
Foi sepultado hoje (4), às 10h30, no Jardim da Colina, em São
Bernardo, o corpo do advogado, jornalista e escritor Antonio Possidonio Sampaio, autor de 14 livros e muitos artigos
para jornais. O poeta Tarso de Melo
escreveu e dedicou este belíssimo e comovente poema para ele.
COMPANHEIRO
água parada, sabíamos, não era sua vida
mais cedo ou mais tarde iremos, você iria
tantos anos, quase todo dia,
gostávamos tanto de falar
quanto de um não dizer que mais dizia
e assim estávamos sempre conversando
cada um lendo suas coisas
escrevendo suas coisas
mas num assunto sempre mesmo
ao nosso modo, fundo, mudos
e hoje, um hoje tão longo
passei o dia a dois metros da última conversa
certo de que ela não terminará
a milhas da coragem do último abraço
o corpo frio que não lhe cabe
o corpo frio que não nos cala
foda, amigo, foda
foi olhar da porta da sala
em que você sempre estava
as fotos das crias, das lutas, do que importa
e ver que até a cadeira chorava
e alguém, talvez um eu que juntos fizemos,
folheava um a um os seus livros
procurando o leitor que lhes falta
[para o APS, 3.6.16
ESPREITA
Mais mimética
que espera é espreita,
modo estrábico
de atar o simétrico,
corpo sem ossos
na emenda de fraturas,
modo reto de desatar
o oblíquo.
Desprovida é a espreita
em indigência desperta,
imóvel que se alastra
ao ruminar o encoberto,
ossos sem corpo
em tecidos disjuntos,
dinâmica do estático
no calor das sombras.
Cleber
Pacheco
Turista em sua própria terra
por Dalila Teles Veras
Diz o adágio popular que “ninguém é profeta em sua própria terra” ou a variante “nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra” e acredito que o provérbio também poderia ser aplicado em relação ao turista. Há uma ideia generalizada de que turismo para ser turismo só em terra alheia.
Gosto e pratico turismo em ambos os casos, terras alheias e a minha própria (que, afinal, nem sei bem qual seja, cidadã sempre dividida em pátrias), mas admitamos que a “própria” seja aquela terra onde vivo.
Não é a primeira vez que falo das minhas aventuras radicais na cidade de São Paulo, cidade onde não vivo propriamente, mas onde vou semanalmente e onde também, volta e meia, vou “a turismo”.
Esclareço: uma coisa é sair de casa, pegar o carro e ir ao teatro, ao cinema, ver uma exposição ou jantar, ali mesmo, a 22 ou 23 km de distância. Outra coisa é sair na sexta-feira ou no sábado pela manhã, uma ou duas mudas de roupa na sacola e, meia hora depois (quando não há congestionamento), deixar o carro na garagem de um hotel previamente selecionado e reservado, fazer um early check-in já negociado e, logo a seguir, flanar pela cidade, olhando-a como quem a vê pela primeira vez.
Neste último fim de semana fiz turismo em minha própria terra e, como sempre, foi uma (re)confirmação do fascínio que essa cidade exerce sobre mim. A região escolhida (uma vez mais) foi a da Paulista, o nervoso centro financeiro e cultural, onde palpita um coração universal.
Primeiramente, da janela do 15º andar, olhar a cidade que não se vê, adivinhar-lhe as entranhas.
Depois, caminhar pela Paulista e arredores, sentar num café, entrar numa livraria, visitar uma exposição, ir ao teatro ou ao cinema, deparar-se com o mundo.
Anoto (sem ordem cronológica):
No Café da Casa das Rosas, um casal
conversa: - “tudo bem, pode ser que eu seja mesmo um sujeito desprezível, mas
eu queria falar com você, dizer tudo isto só pra você, entende?”
No Teatro do Centro Cultural Fiesp, três senhoras na fileira da frente conversam enquanto esperam o início do concerto (Quarteto Clássico, no projeto Música em Cena): - "não, nesse não vai camarão, só coentro, salsa, cebola, alho, todos os temperos".
No restaurante: uma família numerosa, constituída, presumivelmente pelos avós (o casal aparentando mais idade), uma bisavó (aparentando mais idade ainda), tias, tias avós. Todos eles se revezam em volta de um garoto com idade presumível de 5 anos. Beijos, carícias e comida em seu prato (que permaneceu cheio até o fim do almoço). O menino grita, quer correr por entre as mesas, e os adultos o beijam e acariciam e ele só quer fugir... Um casal mais jovem, após beijinhos e tchauzinhos, sai. Logo a seguir a matriarca, irada, começa a falar, gesticulando muito: eles perceberam mesmo o meu descontentamento, onde já se viu, o menino (possivelmente o rapazola, 15 anos presumíveis que os acompanhava) chegou a casa às sete horas da manhã! Sete horas da manhã! Não pode, não pode... Eles sabem que eu não concordo...
Serena, continuei a degustar o meu
peixinho...
Na sala de espera do cinema: uma bela jovem, (saia cinza até os joelhos, camisa branca e sapatos vermelhos de saltos altíssimos, única extravagância na sóbria vestimenta – típico uniforme das moças que trabalham na recepção de Seminários, Congressos e Feiras de negócios), quase ajoelhada, cobre seu acompanhante de beijos. Não há palavras, só gestos e carícias. Levanta-se e vai ao banheiro. Ato contínuo o acompanhante, meia idade, sapatos sem meias, ar de quem já passou da idade, mas tenta ser “garotão”, saca do celular e liga, presumivelmente, para um amigo. Fala e ri muito. Capto, entre frases desconexas, a seguinte: “mandei minha mulher para Curitiba”.
Um pouco depois de meia-noite de sábado, o taxi que tomamos para voltar ao hotel após assistirmos a peça “O Inferno sou Eu” (depois falarei dela) no Teatro Jaraguá, percorre a congestionada rua Augusta desde o seu início na Rua Martins Fontes até a Av. Paulista, ou seja, a parte mais, digamos, decadente da outrora (anos 70) elegante rua das butiques. Mulheres de biquíni à porta das casas com ofuscantes letreiros em neon, postam-se ao lado de travestis com não menos reduzido vestuário. Vendedores de pipoca, cachorro quente e outras iguarias aproveitam para faturar algum na multidão que ali circula e deixa a rua intransitável. Quase todos, homens, mulheres, crianças (crianças, sim, aos bandos, meninas e meninos imberbes, com latas de cerveja nas mãos) formam grupos ruidosos (alegria ou desespero?). Lembrei da “noite dos desesperados” (livro de Horace McCoy, “They Shoot Horses, Don’t They?”, traduzido no Brasil como “Mas então não se matam cavalos”? e filme de Sydney Pollack). Estaríamos nós à beira de uma “Depressão” semelhante à dos anos 30 nos Estados Unidos, só que, desta feita, ao invés de dinheiro, trocando qualquer coisa por qualquer coisa? Havia ali um desassossego no ar, como se essa multidão buscasse frenética e desesperadamente algo que preenchesse suas vidas, a excitação diante da roleta russa que está presta a decidir o destino.
Curiosamente, um difuso sentimento de irmandade me une de alguma maneira a esta espantosa fauna humana de 19 milhões de almas, que se movem, com seus sonhos, suas dores, suas fraquezas, suas taras, suas falhas, seus arrependimentos, seus recomeços. Reconheço-me (e me estranho) nos seus rostos, nos seus passos, multidão sem nome à qual pertenço, alma solitária e solidária.
dtv 22.03.2010
era só pedra da boa viagem
o mar fugiu do horizonte
e o carnaval está nos muros
e paredes que dançam
ao som dos maracatus
do mato
fotografei um retrato
nas ladeiras de olinda
mas não era linda a íris
na retina da menina
que pariu antes dos 15
Federika Lispector
https://fulinaimicamente.blogspot.com/
imagem: Felipe Stefani
Estou atrás
do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra.
ANA CRISTINA CÉSAR (1952 - 1983)
®
"Monturos"
© Tchello d'Barros
Poema visual integrante do projeto multimídia
"Convergências", formado p/ livro, vídeo, projeção em eventos,
exposição itinerante, curadorias, palestras oficinas e mesas-redondas.
A exposição já foi apresentada em 21 instituições
culturais no Brasil e também em Argentina, Chile, Espanha, Itália, México,
Portugal, Sérvia e Uruguay, por enquanto.
Diversos poemas visuais desta série estão
publicados em mais de 12 livros didáticos no Brasil e várias publicações no
Exterior.
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
® "Dumps"
© Tchello d'Barros
Visual poem integrating the multimedia project
"Convergences", formed for book, video, projection in events,
traveling exhibition, curatorships, workshop lectures and round tables.
The exhibition has already been presented in 21
culture instituitions at Brazil and in Argentina, Chile, España, Italia,
México, Portugal, Szerbia and Uruguay, for a while. Several visual poems in
this series are published in more than 10 textbooks in Brazil and several
publications abroad.
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Talvez essa imagem
grave do vazio,
suas lâminas de costura
detalham sombras,
definem-se luas,
firme ao destino
que segue; cada passo,
estribilho de ostra,
precipícios foram
abertos, restando-me,
loquaz e feroz,
joia ou escarlate,
a cada segundo.
.
Talvez possa dizer
sem propriedade
mantenho decerto
em primeira pessoa
frutas que jazem
libélulas de Tróia
outros ímpares
da palavra ‘verbo’:
este calendário
de metáforas
decidindo os
lábios, as texturas,
os furacões a
imprimi-los. Apenas
isso me contempla
e distrai: essa
palavra meio
boca de mulher
que os torna
leves (espessos
por seus medos)
mínimo que consiste,
sem estratégias.
André Luiz Pinto
In: "Primeiro de abril", Editora Hedra, 2004.
VARANDA
DE MEMÓRIAS
Concedo a liberdade aos meus apegos.
Busco livrar-me de vícios e desesperos,
revogar meus mandatos,
descosturar minhas bainhas,
desalinhavar as amarras,
despovoar a imensidão de habitantes
dos meus sonhos mal dormidos.
Quero um sono profundo,
vazio de tudo.
Uma beira de madrugada bem tecida,
um amanhecer ensolarado das antigas,
um orvalho pendurado
à janela de meus olhos sonolentos.
Minhas mãos preparadas ao cultivo
da horta de minh'alma mal passada.
Quero um suspiro de esperança
(quem espera sempre alcança),
não importa quanto dure essa dança!
Escolho uma verdade bem contada,
um faz de conta de outros mundos,
uma cantiga de ninar em revoada,
uma cadeira de balanço tão antiga
na varanda de minhas memórias adormecidas.
Quero desvencilhar-me de meus desejos,
livrar-me dos meus anseios e enredos,
revogar meu passado (e meus pecados),
rabiscar meu futuro em qualquer tempo
nas próprias asas deste momento.
Quero um sonho profundo,
desalinhado,
entregue ao vento.
(Nic
Cardeal, 29/01/2016 - * poema integrante do livro 'Sede de céu',
Penalux/2019, pp. 70/71)
o mundo vai acabar
eu sei
paguei o cartão
que estourei
com absoluta certeza
de nada
contratei a esperança
consignada
amanhã
comerei a raspa da panela
de macarronada
em molho
de universo particular
e fome para ostentar
mas assisti na tv
a nutri dizendo
que a verborragia
está liberada
a nova dieta das estrelas
sacrifica a emoção
pelo o anseio
de pertencimento à multidão
e migalhas de pão
na economia da gastronomia
redução
para acentuar sabores
de ilusão
a moda é comer
na mão dos que mandam
e desmandam
a intenção
a aceitação
com doses de usurpação
para garantir a boa forma
brigamos
pela opinião
que nos foi imposta
nos tornando seletivos
sem proposta
a receita está posta
em comemoração
desce outro big bang
garçom!
Flávia Gomes
DESTINOS
Na verdade, é o que dizes,
nasci passarinho e tu vieste
com a armação das raízes.
Apraz-te agarrar-te a terra,
teu destino não te leva ao léu,
enquanto eu, sou feito de asas,
minha casa é a vastidão do céu.
Fernado Leite Fernandes
não sou cristão
mas os preços
dos hortifrutes
e supermercados ontem
estavam assustando
qualquer ateu pagão
um susto assim
acredite
só com os músculos
elétricos
despejando volts
na caverna de Afrodite
Entulhos
tenho tudo guardado
grudados em meu sangue
a cômoda em verniz do meu pai
como seus sapatos lustrados
com cera poliflor
versos antigos, cachos da minha
infância
segredos que ninguém ousa saber
papéis rasurados, picados
com palavras insignificantes
que codificam minha mini existência
precária, confusa e heroica...
(Luiza Silva Oliveira)
eu sou um jazigo em desordem
uma necrópole ambulante
flores murchas,
vermes rastejantes ousam rasgar meu
ventre
mas cuspo em suas bocas fétidas
e preservo minha autoria...
Luiza Silva Oliveira
capibaribe & flamboyans (poesia, 2021)
risomar fasanaro
a chuva levou os cravos
as orquídeas
os gerânios da janela
a noite encobriu os lírios
minha dor, meus delírios
perdeste o melhor amigo
- nem percebeste –
teus pés pisaram as rosas
se feriram nos espinhos
- nem percebeste
não viste a primavera
não viste nunca
nem o orvalho da íris
que escorreu
da tela de van gogh
Esse livro é uma espécie de acerto
seu (Risomar Fasanaro) com o tempo.
A infância, a mulher, a opressão de 68, e seus desdobramentos... são temas
recorrentes para esse mergulho da autora. E tudo, tão atual, tão urgente, como
respirar! Risomar, que é de Recife, está, intrinsicamente, ligada ao rio
Capibaribe, que é uma espécie de continuidade das veias do corpo da autora - o
mesmo rio de João Cabral, que recebe Severino, fugindo da seca, em “’Morte e
Vida Severina”, e presencia o nascimento de uma criança (Para alguém, que até
então só conhecera a morte, o Capibaribe, é sinal de vida, esperança). E isso,
Risomar, nesses três momentos do livro, como numa guerra de guerrilha, está
sempre indo e vindo (nesses temas), tecendo suas incursões para um mergulho
definitivo, naquela sua alma mais feminina, e também a mais aguerrida, imagino.
- Cacá Mendes
Risomar Fasanaro nasceu entre dois rios: Beberibe e Capibaribe na cidade do Recife,
Pernambuco, no dia 1 de março, sob o signo de Peixes, com ascendente em Leão.
Saiu de Pernambuco com onze anos para
Osasco - São Paulo, acompanhando a família. É formada em Letras pela USP.
Lecionou Língua e Literaturas brasileira e portuguesa na rede estadual de
ensino do estado de São Paulo e na FITO - Fundação e Instituto Tecnológico de
Osasco. Escreve desde adolescente, mas só aos dezoito anos começa a mostrar
seus textos. Participou do movimento estudantil contra a ditadura e depois pela
Anistia e pelas Diretas. Recebeu vários prêmios em concursos de contos e poesia
e em festivais de música. Neste último como letrista. É autora do livrete de
poesia “Casa Grande e Sem Sala” e tem alguns de seus contos e poesias em
antologias e apostilas de cursinhos
pré-vestibulares. Fez parte dos poetas independentes da geração 70.
Capa Brochura - formato 14x21 cm - páginas 128
Claudinei Vieira – Desconcertos Editora
creio
até em quem
não cria
essa crença
me sustenta
nessa
maresia
https://porradalirica.blogspot.com/
as vezes penso outras vezes me distraio quando em vertigem
ou desmaio penso nela lua nua e crua quando beija rua no mar de arcozelo rúbia
irina serafina vestida serpentina beleza fulinaímica em delírios de carnaval
Artur Gomes Fulinaíma
com os
dentes cravados na memória
em 1994 a Ex-Cola de Samba Curitibana Unidos do Botão,
homenageou Artur Gomes, em seu desfile na Rua 24 horas. Para quem não sabe essa fabulosa agremiação carnavalesca
foi criada pelo multiartista Hélio Letes
e o desfile de 1994, com seu enredo
chu chu rei no kinder ovo desenvolvido em carros alegóricos criados com
carretéis de linha puxados pelos 3 componentes da comissão de frente e costa: Hélio
Letes, Kátia Horn e Artur Gomes.
nunca mais voltei a capital paranaense, mas esse desfile continua fazendo um tremendo alvoroço nas minhas massas cefálicas.
entre os anos de 2000 a 2015 tinha desistido de itabira e fui
para pedra dourada, pacata cidade entre as montanhas de minas que na época,
tinha apena 4 mil habitantes, mas pela fato de estar situada em um vale banhado
por muitas cachoeiras, tinha um enorme potencial turístico.
nesta foto estou levando um grupo de turistas para um café orgânico do outro lado da montanha
Federico Baudelaire
https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/
EuGênio Mallarmè
https://braziliricapereira.blogspot.com/
Em 28 de janeiro de 2019 eu escrevia:
a vale não vale um talo
da planta que a lama levou
a vale não vale um grão
da terra que a lama arrastou
a vale não vale o que vale
se vale nessa lama gananciosa
e não nos venha com rosas
de chorumes
porque também esqueceram
de delas retirar os espinhos.
Luís
Avelima
teus olhos me convidam para o mar
o mar me convida pros teus olhos
ondas líricas em alta voltagem de
água e sal
enquanto a carne em êxtase
mergulhada onde o sol não sai
Pastor
de Andrade
https://secretasjuras.blogspot.com/
Maria
do Rosário PEDREIRA
O meu amor não cabe num poema - há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitetura
ou quartos que os gestos não preenchem.
O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto -
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha
as baías
nem a candura da mão que protege a chama que
estremece.
O meu amor não se deixa dizer - é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de
outro corpo.
O meu amor anda por dentro do silêncio a formular
loucuras
com a nudez do teu nome - é um fantasma que
estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em
metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. Nenhum poema
podia ser o chão da sua casa.
"Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem
mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de
visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!"
Carlos Drummond de Andrade
Do livro SENTIMENTO DO MUNDO.
embriague-se
já me dizia Charles Baudelaire
hoje estou em estado de vinho
só venha comigo quem flor acaso
bem-me-quer
Artur Fulinaíma
Pequeno grande poema de Eucanaã Ferraz.
À
Legítima estupidez a minha (a dos que amam):
deixar o mel à tona.
Melancolia previsível
que agora moscas o comam.
In Escuta. São Paulo: Companhia das Letras, 2015,
p. 122.
CUÁHEU, ONTEM-AMANHÃ (Romance, 2021)
Paulo D´Auria
“Logo após o misterioso ataque a
Cádiz, na reunião com seus capitães, Isabel e Fernando decidiram enviar dois
homens de confiança para a cidade com a tarefa de apurar os detalhes do
assalto. Dias depois, receberiam estranhas notícias: Cádiz havia sido invadida
por um povo não muçulmano, falantes de uma língua desconhecida. Homens de
cabelos longos, colares, brincos e outros adereços feitos de sementes, pedras
coloridas, preciosas talvez, e penas. Grande parte deles tinha dentes de
animais selvagens saindo do entorno da boca, outros traziam colares de dentes
humanos. Haviam chegado em meia-dúzia de barcos movidos a velas, parecidos com
caravelas, porém muito maiores. Não eram barcos europeus e tampouco se pareciam
com embarcações mouras. Mais de dois mil homens tinham desembarcado na cidade,
a mais antiga da Europa [...] ... as tropas de Don Rodrigo estavam fora,
empenhadas na Guerra de Granada, e, num ataque relâmpago, esses homens, apenas
com seus arcos, flechas, machados, bordunas e lanças, mas em grande número e
bravura, acabaram por dominar os soldados que a protegiam.”
-
Um dos mais instigantes romances dos
últimos tempos, Paulo D´Auria cria, imagina, constrói ( ou, simplesmente,
redescobre, relembra?) uma epopeia, uma saga no século XV, onde povos nativos
tomaram seu destino nas mãos.
D´Auria vira de cabeça para baixo
nossa história, a história das Américas, a Europa tomada pelo furor dos povos
americanos. aqui não são os europeus que chegam às Américas, mas sim os povos
nativos americanos que invadem a Europa. O ano é 1486 e a nações Mura, Aparai e
Tupinambá, navegadores formidáveis e guerreiros temidos, tendo construído uma
grande frota de navios, chega à costa espanhola, saqueiam a cidade de Cádiz e desembarcam
em Málaga, de onde partem para firmar uma aliança estratégica com Al Zagal, o
sultão de Granada.
Sensível, divertido, emocionante, por
baixo de uma escrita aparentemente simples, o impacto desse livro em nossa
imaginação e sentimentos é permanente. Obra contemplada pelo PROAC – São Paulo
- 2021
-
Paulo D’Auria está nos Poetas do Tietê desde 2008,
coletivo com o qual promove saraus de rua, saraus em bibliotecas e escolas
periféricas, Fundações CASA e penitenciárias adultas. Formado em História pela
FFLCH-USP, é autor de 10 livros, entre eles “As Novas aventuras de Guaracy”, um
dos 10 semifinalistas da categoria juvenil do Prêmio Jabuti 2019.
Capa Brochura - formato 13X20 cm - páginas 152
Claudinei Vieira – Desconcertos Editora
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