domingo, 24 de abril de 2022

Artur Gomes - Pátria A(r)mada

 


 No universo paralelo

Tenho mestrado Bíblico

Em chá de cogumelo

 

Pastor de Andrade

Pássaros Elétricos

Vivem a vida por um fio

 

Federika Lispector

 

Patético 27

 

ABC 
Aqui 
4 santos me rodeiam 
Santo André 
São Bernardo 
São Caetano 
São Paulo

 

e um outro Paulo me incendeia 
Freire e o seu pensar objetivo 
que me fez chegar até aqui 
Vivo 
para escrever 
criar 
sobre-viver  da Arte 
consciente de ser 
fulinaímico  ind/gesto
:

para o teu governo 
:
juro que não presto

 

Federico Baudelaire

 

- Mestre Sala da Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba O-Culta no In-Consciente Coletivo




 

Couro Cru & Carne Viva

terra de santa cruz

ao batizarem-te
deram-te o nome:
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
ouro
prata
rios
peixes
minas
mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme

 

salgado mar de fezes
batendo na muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
só pode ser canalha
na certa se esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de Tiradentes


salve lindo pendão que balança
entre as pernas abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendez-vous de impérios atrás

 

meu coração
é tão hipócrita que não janta
e mais imbecil que ainda canta:
ou
viram

no Ipiranga

às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta

só desfraldando

a bandeira tropicalha
é que a gente avacalha
com as chaves dos mistérios
dessa terra tão servil
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza

com a pátria mãe que nos pariu

Pátria A(r)mada

bem no centro do universo
te mando um beijo ó amada
enquanto arranco uma espada
do meu peito varonil
espanto todas estrelas
dos berços do eternamente
pra que acorde toda essa gente
deste vasto céu de anil
pois enquanto dorme o gigante
esplêndido sono profundo
não vê que do outro mundo
robôs te enrabam ó mãe gentil!

1º de Abril

 

telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava  contra a escuridão

na rua sob patas
tombavam homens indefesos

esperei-te 20 anos
ate hoje não vieste à minha porta

 

- foi um puta golpe!


o poeta estraçalha a bandeira
raia o sol marginal quarta feira
na Geléia Geral brasileira
o céu de abril não é de anil
nem general é my Brazyl

minha verde/amarela esperança
Portugal já vendeu para França
e coração latino balança
entre o mar do dólar do norte
e o chão dos cruzeiros do sul

o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal sexta feira
nesta porra estrangeira e azul
que há muito índio dizia:

- foi gringo que trouxe no cu

meu coração marçal tupã
sangra tupy & rock and roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná

o sangue rola no parque
o sonho ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
e muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank


 ó baby a coisa por aqui

não mudou nada
embora sejam outras

siglas no emblema

espada continua a ser espada
poema continua a ser poema

 

Artur Gomes

Pátria A(r)mada

Editora Desconcertos – 2019

Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio - 2020



 

Fulinaíma MultiProjetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com

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