quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

A Traição Das Metáforas : Uma Outra

 


A Traição Das Metáforas

:

                            Um Outra

 

para Celso de Alencar, César Augusto de Carvalho e Federico Garcia Lorca em memória

 

há tempos

não escrevo

um poema como esse

:

a formiga carregando folhas lembra-me a máquina de terraplanagem que vez em quando passa na minha rua a carrocinha puxada por um cachorro imagem cibernética estética não é o que me move pra o abstrato do outro lado do espelho atrás da porta do meu quarto ainda guardo teu retrato em Nova Granada conheci um presépio com duas mil imagens humanas criado pelo mestre Guima que cultivava em sua cabala cento e sessenta e três imagens de Santo Antônio que Hygia Ferreira guardava para o casamento com ela aprendi que o amor mora muito além da casa dos soldados Federika rasgou o vestido de Macabea quando Lady Gumes enfiou a faca no monstro ontem mesmo sonhei com Afrodite tive um surto de desejo gozei no espelho era Cecília quem estava do outro lado  

 

Artur Gomes

Na trilha do fogo

https://braziliricapereira.blogspot.com/

página oficial no face

https://www.facebook.com/arturgomespoeta



 Dia 31 vamos dançar

pra Yemanjá e Olorum

na hora da partida

de 2021 para em 2022

acabar com o genocida

 

Rúbia Querubim

na trilha do fogo




 quarta-feira de cinzas

 

a janela estava entreaberta

dela desejei as costas nua

do pescoço até a bunda

para penetrar-lhe o anus

até o amanhecer do outro dia

era madrugada quarta-feira de cinzas

de um carnaval

que há dois anos não havia

 

Federico Baudelaire

https://www.facebook.com/federicoduboi



curuminha

para Rúbia Querubim

 

tua pele clara de pêssego

ou mesmo de manga fosse

lembra-me frutas tropicais

com sal e mel agridoce

intenso   sabor tupiniquim

       Clarice Beatriz que fosse

ou mesmo esse anjo SerAfim

que dorme em praias distantes

              e acorda dentro de mim  

 

Artur Gomes Fulinaíma

www.fulinaimicamente.blogspot.com




ainda que seja assim

ainda que seja assado

 

não tenho papas na língua

não tenho  língua nas papas

 

quando me descobri ainda menino saltando muros para roubar mangas no quintal do vizinho ou quando o tasquei fogo no paiol de milho percebi a vida nos trilhos

 

tudo gira tudo rola

pomba gira no terreiro

trepada em pé de carambola

 

e lá vai terminando mais um ciclo ao redor do sol meu pai cavaleiro de Ogum

na terra girou 67 por onde anda não sei deve estar pelas galáxias nas festas de São João Xangô Menino

 

ela vinha

com um copo de vinho

na boca uma língua

de fome

no corpo a carne

sedenta

seis anos para ceder

aos instintos

e dar-me em camas

ela veio vestida de nada

enquanto pra ela escrevia

um bolero blue

 

no poema nada cabe

nem o que sei

nem o que não se sabe

 

que seja por um risco

que seja por um triz

a mulher que sempre amei

não era atriz

era aprendiz de arquiteta

sempre andou em linha torta

apesar de sempre ereta

 

teu corpo

é carne de manga

em meu pênis viril

enquanto sangra

quando beijo tua boca

enfurecido

rasgando por trás

o teu vestido

 

 se tiver que me matar

que seja

se eu tiver que te matar

que morra

em cada beijo que te der

amando

só vale o gozo

quando for eterno

infernizando os céus

e santificando

a boca do inferno

 

com espada em riste

galopamos velozmente

por dois segundos e meio

tua fúria era tanta

que agarrei-me

em tuas crinas

para não cair na lama

mas o amor era tanto

e tanto era o prazer

que quando fomos pra cama

não tinha mais o que fazer

 

ainda que seja assim

ainda que seja assado

a carne seca com farinha

anda muito cara no mercado

 

nasceu uma erva santa em meu quintal nem sei quem jogou a semente se foi algum vizinho ou se foi trazida por passarinho

 

algumas coisas dançam na memória

outras passeiam ou passam e vão desfilar em outras vitrines no tempo do esquecimento

 

enquanto a bahia

se afoga

o genocida nada

 

quando escrevo

com enxada

o poema é mais real

 

uma mistura de cerveja campari vodka com limão picanha assada assim foi meu natal de 2021 para fechar esse ciclo em torno do sol vamos dançar para                  Olorum no dia 31  

 

Ogum não permitiu

que Yansã doasse o coração

                           para Xangô

e deu-se num trovão

pela manhã o seu amor

Oxossi em cada um

 

moram dentro o mar

dois olhos florescentes

por trás desta paisagem

não são olhos de peixe

são dois feixes de luz

dois faróis brilhantes

que olham infinito

desde um tempo outro

mar de outras eras

nem era primavera

aquela vez primeira

nem era quarta feira

na sala de ensaio

diante dos espelho

dois olhos como raios

dentro os olhos meus

que acenderam o fogo

como queima agora

neste mar de Zeus

 

a lavra da palavra quero

quando for pluma

mesmo sendo espora

 

felicidade uma palavra

onde a lavra explora

se é saudade dói

mas não demora

e sendo fauna linda como a Flora

lua Luanda vem não vá embora

 

se for poema fogo do desejo

quando for beijo que seja como agora

 

a poesia é meta física

meta quântica

Itaipu é uma paraíso

dentro do que sobrou

da Mata Atlântica

 

o que existe

por trás da poesia

língua de sal

lambendo a pele  

do amor à flor da pele

toda pele maresia

 

Diador-in

avessa em mim

branquinha como a neve

me leve

para dentro da tua casa

a poesia é o infinito da pessoa

te empresto minhas asas

pare de caminhar  - e voa

 

Afiando a CarNAvalha

 

cocada agora

só se for de coco

paçoca de amendoim

 

cigarro só se for de palha

cacique só se for da mata

linguagem só tupiniquim

 

bala só se for de prata

água só se aguardente

tônica só se for com gim

 

estado só se for de surto

eleição só se for sem furto

brilho só no camarim

 

golaço só se for de letra

Ronaldo só se for Werneck

malandro só se mandarim

 

política só se for decente

partido só sem presidente

governo eu que mando em mim

 

batismo só se for de pia

Congresso só de Poesia

Reinaldo pode ser Valinho

ainda melhor se for Jardim

 

ela me chega assim bailarina

como um tarde de música

envolta em física quântica

etérea qual labirinto

 

para dizer o que sinto

e desvendar teu endereço

procuro em teu livro secreto

palavras que não conheço

 

 

Artur Gomes

na trilha do fogo

www.porradalirica.blogspot.com




ARTUR GOMES – mini Bio

Artur Gomes é poeta, ator, videomaker e produtor cultural. Tem diversos livros publicados, sendo os mais recentes SagaraNAgens Fulinaímicas (Edições Du Bolso – 2015), Juras Secretas (Editora Penalux, 2018) O Poeta Enquanto Coisa (Editora Penalux – 2020 ) e Pátria A(r)mada (Editora Desconcertos, 2019). Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio – 2020 – Tem inédito: O Homem Com A Flor Na Boca e Da Nascente A Foz : Um Rio De Palavras (livro de memória)

Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do Instituto Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes-RJ de 1975 a 2002.

Em 1983, criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira e, em 1993, idealizou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira Mário de Andrade — 100 Anos — realizada pelo SESC São Paulo.

Em 1995 criou o Projeto Retalhos Imortais do SerAfim Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim, executado pelo SESC-SP em várias unidades na capital e pelo Estado.

Em 1999 criou o FestCampos de Poesia Falada, realizado até 2019 pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, em Campos dos Goytacazs-RJ

Em 2002 lançou o CD Fulinaíma Sax Blues Poesia , com seus parceiros Dalton Freire, Luiz Ribeiro, Naiman e Reubes Pess.

Em 2021 lançou dois e-books – Poesia Para Todas As Horas e O Homem Com A Flor Na Boca ou O Poeta Enquanto Coisa.

Desde 2007 produz performances poéticas com videopoemas. Em 2021 fez curadoria para a Mostra Cine e Vídeo De Poesia Falada. realizada pelo SESC Piracicaba-SP. Mantém na sua página Studio Fulinaíma de Produção Aidiovisual no facebook o Festival Cine Vídeo de Poesia Falada

https://www.facebook.com/studiofulinaima

Com seu videopoema  Goytacá Boy é um dos poetas que integram a Mostra Virtual de Videopoemas do Projeto Bossa Criativa, Arte de Toda Gente, realizado pela FUNRTE Rio.

Em 2021 integrou a Comissão Julgadora do Festival Cine Urutu, realizado pela Prefeitura de Pindamonhangaba-SP e fez curadoria para o Festival Ecos – Videopoemas, realizado pelo Instituto Federal Fluminense.





 fulinaimicamente 

www.fulinaimargem.blogspot.com 

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