segunda-feira, 13 de junho de 2022

Coletânea Poetas Vivos

 

Porque hoje é dia de lembrar Pessoa!

PESSOA E SUAS PESSOAS

 

Há pessoas

que não sabem

quem é Pessoa.

Como é possível

alguma pessoa

não saber quem é Pessoa?

Que pessoa

foi Pessoa?

Pessoa não foi pessoa,

é Pessoa!

Pessoa e seus heterônimos.

"Pessoa inventava poetas inteiros".

Ou meios.

Pessoa foi pessoas,

várias pessoas!

Pessoa e seus inteiros:

ao longo,

o médico

- e poeta -

Ricardo Reis.

Ao largo,

um estrangeiro

- e poeta -

o alter ego e sua tabacaria,

Álvaro de Campos.

Ao vento,

o mestre ingênuo

- e poeta -

guardador de rebanhos,

Alberto Caeiro.

Pessoa e seus meios:

à margem,

em seu desassossego,

- o ajudante de guarda-livros -

Bernardo Soares.

Pessoa

e suas muitas pessoas:

entre o dia de seu nascer

e o de seu morrer,

todos os dias

foram seus.

Você sabe

quem foi(é) Pessoa?

Uma pessoa

que queria ser

o poeta Pessoa

- inteiro -

("o eu profundo e os outros eus")

sem condições

de outras pessoas!

 

(Nic Cardeal, em 13.06.2017 )


AQUELA MULHER SEM NOME

 

qual o nome daquela mulher sem nome

sentada na calçada, na porta do restaurante,

pedindo que uma boa alma pague

um prato de comida para seus filhos

— um de colo, outro de uns 4 anos?

 

será que aquela mulher tem um endereço

onde possa receber cartas?

será que tem um perfil no facebook

para contatar velhas amigas de escola?

será que vai ao supermercado fazer compras?

 

será que algum homem se importa

com aquela mulher sem nome?

será que alguma mão, mesmo áspera,

faz carinhos naquela mulher?

será que alguém beija aquela mulher?

 

será que aquela mulher sem nome

alguma vez ouviu falar em clitóris?

será que gosta de sexo oral?

será que teve algum prazer nas noites

em que engravidou daquelas crianças?

 

certamente aquela mulher sem nome

tem um nome, e foi criança, algum dia.

será que ganhou presentes de natal?

será que era coberta nas noites de frio?

será que viu desenho animado na TV?

 

ou sempre pediu dinheiro nas ruas?

ou sempre se vestiu com roupas velhas?

ou sempre foi tratada aos bofetões?

ou sempre comeu o pão seco, duro,

embolorado e encontrado no lixo?

 

como aquela mulher sem nome chegou ali,

na calçada, na porta do restaurante?

será que nunca teve sorte na vida?

será que nunca teve juízo?

será que perdeu o pai numa briga de faca?

será que perdeu uma criança num incêndio?

 

aquela mulher sem nome, de olhos tristes,

muito tristes, parece amar suas crianças.

talvez nem saiba mais, ou nunca soube,

o que é aquilo que atende pelo nome de amor.

mas se você olhasse, bem de perto, veria

ternura, além de tristeza, naquele olhar.

 

se você olhasse, bem de perto, veria,

por detrás da sujeira, da dureza ou

da desesperança daqueles olhos tristes,

alguma ternura, sim, alguma ternura,

o que deixava ainda mais triste o olhar

de quem olhava aquela mulher sem nome

 

sentada na calçada, na porta do restaurante,

pedindo que uma boa alma pagasse

um prato de comida para seus filhos

— um de colo, outro de uns 4 anos

 

(Ademir Assunção)

do livro Risca Faca

Selo Demônio Negro (2021)


(Da série: Poeta Artur Gomes, nosso avatar, seu Vilmar)

 

MARIA BOCA DE POESIA

 

Retirem as crianças da rua,

vai passar a Poesia despudorada,

desencarnada, é só osso luminoso e ofício,

a que não domina sua língua de fogo,

navalha flamejante.

Vai descer a avenida central,

se benzer na catedral,

insana matrona

de filhos mortos

dos dilacerantes abortos

em nome do pai que sumiu.

Freme os quadris

como se fizesse sexo grupal,

ao sol da via pública.

Potra,

pútrida,

puta,

contudo, é Poesia seminal.

Literatura do caos.

Sua risada estrala,

parece taça de vidro

jogada contra o mármore

do altar-mor.

Riso que revela dentes de animal,

dissolvida pastilha de sonrisal,

grossa espuma no canto da boca,

que avisa a hora do vômito,

alerta indômito

da praga rouca:

- aos que roubam nossa saúde,

defuntos no fundo do açude,

que violam a consciência das crianças,

e as deixam desmaiadas nas carteiras escolares,

tumulares.

cavaleiros da política,

guias da resignada cegueira

da grande malta servil,

desejo-lhes o grande inferno de Dante

e antes que me assassinem,

vão te à puta que lhes pariu!

 

(Fernando Leite Fernandes)

foto: Alice Lira –


#VIU! 

https://www.portalviu.com.br/arte /geleia-geral-06-no-mes-de-santo-antonio-esta-faltando-antonio-roberto-cavalcante-kapi


Geleia Geral - Revirando A Tropicália - Dia 24 - junho - 19h - Santa Paciência - Casa Criativa - Rua Barão de Miracema, 81 - Campos ex-dos Goytacazes


Lembrando do querido e saudoso Uilcon Pereira:


“Avelima, maninho, Avelimaninho saiu Nova tiragem,2 para amigos nossos, fora da patota já tão conhecida Não gosto do azedamento cê/Flô talvez cê tenha razões de sobra, às vezes ele endurece o jogo

vou cuidar de fazer a paz e começo por você, mais doce, flexível, meigo, soft ôh, ôh, que elogio heim?

terminei Livro de Biute e saio à procura de uma editora, não aguento mais esse lance de marginal, alternativo, out –sei lá o nome, sei lá qual o rótulo

o João foi experiência terminal, agora é no tip-top, vai ou racha
quero ser editado, enfim

e que tal? isso de Batatais, Tomatolândia. Couve city --- haja ubeé, para levar tanta paciência assim---
“expandir a mente do pessoal”, ô, Dylan
abração de bom 87 procê

Ulicon
7-jan-87


dentro da noite veloz

 

quando estive em Ubatuba

não era junho de chuva

lágrimas de Oxum menina

encharcaram minha íris – viúva

dentro da noite veloz

e na vertigem do dia

aquela prova dos nove

não foi nenhuma alegria

muito pelo contrário

me deu angústia agonia

a menina dos meus olhos

que beijei na algaravia

dentro da noite veloz

e na vertigem do dia

 

Artur Gomes

Geleia Geral

Revirando a Tropicália – Roteiro de Poesia

Leia mais n blog

https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/




florbela

 

florbela as vezes espanca

florbela as vezes espanha

florbela as vezes arranha

os músculos da minha cara

com suas unhas amarelas

e minha alma então dispara

lendo este poema que é dela

:

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida

Meus olhos andam cegos de te ver!

Não és sequer razão de meu viver,

Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...

Passo no mundo, meu Amor, a ler

No misterioso livro do teu ser

A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...

Quando me dizem isto, toda a graça

Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:

"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,

Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

 

Federico Baudelaire

https://fulinaimagens.blogspot.com/

imagem: Jose Cesar Castro


BARDO Solista

 marginalha

 

os caranguejos explodem no meu crânio

mariposas pousam mas não cantam

borboletas voam mas não falam

os papagaios estão mudos

desde o grito de Cabral: o Terra à Vista!

a amazônia é exterminada por moto-serras ruralistas.

mas juro que não sou correto

juro que não sou decente

poesia é faca entre os ossos

navalha entre os dentes

desde todo tempo as milícias

des(matam) nas favelas

e todo Dia é Dia D Todo Dia É Dia Dela

vivo num brasil subvertido

na cadeia esteve preso um presidente

e os palácios são os covis desses bandidos.

 

Artur Fulinaíma

Juras Secretas - Editora Penalux – 2018

Pátria A(r)mada - Editora Desconcertos - 2019

O Poeta Enquanto Coisa – Editora Penalux- 2020




Fulinaíma MultiProjetos

portalfulinaima@gmail.com

(22)99815-1268 - whatsapp

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