Porque hoje é dia de lembrar Pessoa!
PESSOA E SUAS PESSOAS
Há pessoas
que não sabem
quem é Pessoa.
Como é possível
alguma pessoa
não saber quem é Pessoa?
Que pessoa
foi Pessoa?
Pessoa não foi pessoa,
é Pessoa!
Pessoa e seus heterônimos.
"Pessoa inventava poetas inteiros".
Ou meios.
Pessoa foi pessoas,
várias pessoas!
Pessoa e seus inteiros:
ao longo,
o médico
- e poeta -
Ricardo Reis.
Ao largo,
um estrangeiro
- e poeta -
o alter ego e sua tabacaria,
Álvaro de Campos.
Ao vento,
o mestre ingênuo
- e poeta -
guardador de rebanhos,
Alberto Caeiro.
Pessoa e seus meios:
à margem,
em seu desassossego,
- o ajudante de guarda-livros -
Bernardo Soares.
Pessoa
e suas muitas pessoas:
entre o dia de seu nascer
e o de seu morrer,
todos os dias
foram seus.
Você sabe
quem foi(é) Pessoa?
Uma pessoa
que queria ser
o poeta Pessoa
- inteiro -
("o eu profundo e os outros eus")
sem condições
de outras pessoas!
(Nic Cardeal, em 13.06.2017 )
qual o nome daquela mulher sem nome
sentada na calçada, na porta do restaurante,
pedindo que uma boa alma pague
um prato de comida para seus filhos
— um de colo, outro de uns 4 anos?
será que aquela mulher tem um endereço
onde possa receber cartas?
será que tem um perfil no facebook
para contatar velhas amigas de escola?
será que vai ao supermercado fazer compras?
será que algum homem se importa
com aquela mulher sem nome?
será que alguma mão, mesmo áspera,
faz carinhos naquela mulher?
será que alguém beija aquela mulher?
será que aquela mulher sem nome
alguma vez ouviu falar em clitóris?
será que gosta de sexo oral?
será que teve algum prazer nas noites
em que engravidou daquelas crianças?
certamente aquela mulher sem nome
tem um nome, e foi criança, algum dia.
será que ganhou presentes de natal?
será que era coberta nas noites de frio?
será que viu desenho animado na TV?
ou sempre pediu dinheiro nas ruas?
ou sempre se vestiu com roupas velhas?
ou sempre foi tratada aos bofetões?
ou sempre comeu o pão seco, duro,
embolorado e encontrado no lixo?
como aquela mulher sem nome chegou ali,
na calçada, na porta do restaurante?
será que nunca teve sorte na vida?
será que nunca teve juízo?
será que perdeu o pai numa briga de faca?
será que perdeu uma criança num incêndio?
aquela mulher sem nome, de olhos tristes,
muito tristes, parece amar suas crianças.
talvez nem saiba mais, ou nunca soube,
o que é aquilo que atende pelo nome de amor.
mas se você olhasse, bem de perto, veria
ternura, além de tristeza, naquele olhar.
se você olhasse, bem de perto, veria,
por detrás da sujeira, da dureza ou
da desesperança daqueles olhos tristes,
alguma ternura, sim, alguma ternura,
o que deixava ainda mais triste o olhar
de quem olhava aquela mulher sem nome
sentada na calçada, na porta do restaurante,
pedindo que uma boa alma pagasse
um prato de comida para seus filhos
— um de colo, outro de uns 4 anos
(Ademir Assunção)
do livro Risca Faca
Selo Demônio Negro (2021)
(Da série: Poeta Artur Gomes, nosso avatar, seu Vilmar)
MARIA BOCA DE POESIA
Retirem as crianças da rua,
vai passar a Poesia despudorada,
desencarnada, é só osso luminoso e ofício,
a que não domina sua língua de fogo,
navalha flamejante.
Vai descer a avenida central,
se benzer na catedral,
insana matrona
de filhos mortos
dos dilacerantes abortos
em nome do pai que sumiu.
Freme os quadris
como se fizesse sexo grupal,
ao sol da via pública.
Potra,
pútrida,
puta,
contudo, é Poesia seminal.
Literatura do caos.
Sua risada estrala,
parece taça de vidro
jogada contra o mármore
do altar-mor.
Riso que revela dentes de animal,
dissolvida pastilha de sonrisal,
grossa espuma no canto da boca,
que avisa a hora do vômito,
alerta indômito
da praga rouca:
- aos que roubam nossa saúde,
defuntos no fundo do açude,
que violam a consciência das crianças,
e as deixam desmaiadas nas carteiras escolares,
tumulares.
cavaleiros da política,
guias da resignada cegueira
da grande malta servil,
desejo-lhes o grande inferno de Dante
e antes que me assassinem,
vão te à puta que lhes pariu!
(Fernando Leite Fernandes)
foto: Alice Lira –
Geleia Geral - Revirando A Tropicália - Dia 24 - junho - 19h - Santa Paciência - Casa Criativa - Rua Barão de Miracema, 81 - Campos ex-dos Goytacazes
Lembrando do querido e saudoso Uilcon Pereira:
“Avelima, maninho, Avelimaninho saiu Nova tiragem,2 para amigos nossos, fora da patota já tão conhecida Não gosto do azedamento cê/Flô talvez cê tenha razões de sobra, às vezes ele endurece o jogo
vou cuidar de fazer a paz e começo por você, mais doce, flexível, meigo, soft ôh, ôh, que elogio heim?
terminei Livro de Biute e saio à procura de uma editora, não aguento mais esse lance de marginal, alternativo, out –sei lá o nome, sei lá qual o rótulo
o João foi experiência terminal, agora é no tip-top, vai ou racha
quero ser editado, enfim
e que tal? isso de Batatais, Tomatolândia. Couve city --- haja ubeé, para levar tanta paciência assim---
“expandir a mente do pessoal”, ô, Dylan
abração de bom 87 procê
Ulicon
7-jan-87
dentro da noite veloz
quando estive em Ubatuba
não era junho de chuva
lágrimas de Oxum menina
encharcaram minha íris – viúva
dentro da noite veloz
e na vertigem do dia
aquela prova dos nove
não foi nenhuma alegria
muito pelo contrário
me deu angústia agonia
a menina dos meus olhos
que beijei na algaravia
dentro da noite veloz
e na vertigem do dia
Artur Gomes
Geleia Geral
Revirando a Tropicália – Roteiro de Poesia
Leia mais n blog
https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/
florbela
florbela as vezes espanca
florbela as vezes espanha
florbela as vezes arranha
os músculos da minha cara
com suas unhas amarelas
e minha alma então dispara
lendo este poema que é dela
:
Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."
Federico Baudelaire
https://fulinaimagens.blogspot.com/
imagem: Jose Cesar Castro
marginalha
os caranguejos explodem no meu crânio
mariposas pousam mas não cantam
borboletas voam mas não falam
os papagaios estão mudos
desde o grito de Cabral: o Terra à Vista!
a amazônia é exterminada por moto-serras ruralistas.
mas juro que não sou correto
juro que não sou decente
poesia é faca entre os ossos
navalha entre os dentes
desde todo tempo as milícias
des(matam) nas favelas
e todo Dia é Dia D Todo Dia É Dia Dela
vivo num brasil subvertido
na cadeia esteve preso um presidente
e os palácios são os covis desses bandidos.
Artur Fulinaíma
Juras Secretas - Editora Penalux – 2018
Pátria A(r)mada - Editora Desconcertos - 2019
O Poeta Enquanto Coisa – Editora Penalux- 2020
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 - whatsapp
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