Cordel Filho da Puta 
Era uma vez
no Reino do São Nunca
um Festival de Palavras 
que de doce não tinha nada
mas tinha muita fartura 
e muita cana queimada
mas mal sabia a Rainha 
que naquele reino fajuto 
havia um pimenta do reino
um poeta escaralhado
botava fogo nas meninas 
tocava incêndio no reinado
o Rei proclamou na Corte 
para a Rainha cansada
nessa cama aqui ele não deita
nesse palco aqui ele não canta
nem meu quintal atravessa
nem o meu pão ele janta
mas o poeta muito astuto
não quis saber de reinado
pegou seu Boi Pintadinho
foi cantar lá no Mercado
e desse dia em diante
o Rei perdeu seu reinado
a Rainha perdeu sua cama
enquanto isso o poeta 
começou a ganhar fama 
com sua espada de ouro
com sua língua de lata
foi marcando gol de letra
desbravando a língua nata
até que um dia um juiz
daquele falido reinado
determinou em decreto 
praquele povo mallarmado 
que daquela data em diante 
o poeta escaralhado
passou a ser diamante 
King Artur Rei coroado
 
Rúbia Querubim 
FULINAIMICAMENTE
www.fulinaimargem.blogspot.com
mensagem da minha querida amiga Karla Julia
Queridos amigos
Finalmente, nosso site trilíngue está
pronto. Bem - vindos a este espaço cultural! 
Karla Julia Dallale e Paula Gonzaga
de Sá
O link do site: www.portemanteaubr.wordpress.com
Artur Gomes 
www.arturfulinaima.blogspot.com
Porque a Vida Não Basta 
                      Ferreira
Gullar 
- uma cidade sem poesia 
é uma cidade doente - 
                    Artur Gomes
a coincidência mineira
deputados cínicos e fascistas 
travestidos de democratas
insuflados por escravocratas
como um mineiro das Neves
apalavrado por Bicudo
transformam dignidade
em uma lata de lixo
ao bel prazer: impunimente 
articulando um um GOLPE
descaradamente
como se o Brasil fosse habitado 
exclusivamente por dementes
e não percebesse que a trama
no bastidor foi engendrada
pelo seu vice-presidente
como a idêntica traição
que esquartejou Tiradentes
Federika
Lispector
www.brazilicapereira.blogspot.com
A coisa
Braulio Tavares 
 
Eu quero inventar uma coisa, uma coisa viva, uma coisa que se
desprenda de mim e se mova pelo resto do mundo com pernas que ela terá de
crescer de si própria;    e que seja ela
uma máquina viva, uma máquina capaz de decidir e de duvidar, capaz de se
enganar e de mentir. Uma coisa que não existe. Uma coisa pela primeira vez.Uma
máquina bastarda feita de dobradiças e enzimas e metonímias e quarks e
transistores e estames e plasma e fotogramas e roupas e sopa primordial...     Quero apenas que seja uma coisa minha, uma
coisa que eu inventei numa madrugada enquanto vocês dormiam e quando a vi
recuei, e quando a soube pronta duvidei, e vi a eletricidade do relâmpago
abrindo seus olhos e martelei seu joelho temendo-a, e mandando-a falar, e
gritei: "Levanta-te e anda!"- e a coisa era uma galáxia tremeluzindo
no centro da folha branca, me olhando com meus olhos de homem, me sorrindo com
tantas bocas de mulher, me envolvendo com sua sintaxe de coisa nova que força o
mundo a mover-se, fincando uma cunha no Real e se instalando naquela fenda,
como um setor a mais invadido um círculo já completo. Eu quero que essa coisa
existisse, assim como      eu quis que eu
seja. Quero vê-la brotar desarrumando. Coisa criada, cobra criante, serpente
criança, criatura sentiente, 
existinte,  sente, pensante,
cercada pela linha brusca do seu até-aqui Essa coisa me conhecerá e não me
reconhecerá     como seu Criador. Essa
coisa terá poder de me destruir,     e de
me recompor, e me mandar pedir-lhe a bênção. Então pedirei. Sairei pelo mundo.
Com minhas próprias pernas. Finalmente leve e livre, tendo parido algo maior do
que eu mesmo, e disposto a me abraçar ao mundo, como quem desce do ônibus na
rodoviária da cidade onde nasceu. Mas o mundo! O que é esse mundo onde eu ando
agora? Olha a cor das casas, o rosto do povo, o som da fala, a manchete dos
jornais, o cheiro do vento... que mundo é esse para onde retornarei depois de
livre? Fico parado, o coração pulando, e só daqui a pouco perceberei, com uma
surpresa antiga — que aquilo não é mais meu mundo: e o mundo da coisa, é o
mundo da minha Coisa.
FULINAIMAGEM

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