sexta-feira, 5 de novembro de 2021

A Arte Existe Porque A Vida Não Basta

 


                        Cordel Filho da Puta

 

Era uma vez

no Reino do São Nunca

um Festival de Palavras

que de doce não tinha nada

 

mas tinha muita fartura

e muita cana queimada

mas mal sabia a Rainha

que naquele reino fajuto

havia um pimenta do reino

um poeta escaralhado

 

botava fogo nas meninas

tocava incêndio no reinado

o Rei proclamou na Corte

para a Rainha cansada

nessa cama aqui ele não deita

nesse palco aqui ele não canta

nem meu quintal atravessa

nem o meu pão ele janta

 

mas o poeta muito astuto

não quis saber de reinado

pegou seu Boi Pintadinho

foi cantar lá no Mercado

e desse dia em diante

o Rei perdeu seu reinado

a Rainha perdeu sua cama

enquanto isso o poeta

começou a ganhar fama

 

com sua espada de ouro

com sua língua de lata

foi marcando gol de letra

desbravando a língua nata

 

até que um dia um juiz

daquele falido reinado

determinou em decreto

praquele povo mallarmado

que daquela data em diante

o poeta escaralhado

passou a ser diamante

King Artur Rei coroado

 

Rúbia Querubim

FULINAIMICAMENTE

www.fulinaimargem.blogspot.com



mensagem da minha querida amiga Karla Julia

Queridos amigos

Finalmente, nosso site trilíngue está pronto. Bem - vindos a este espaço cultural!

Karla Julia Dallale e Paula Gonzaga de Sá

O link do site: www.portemanteaubr.wordpress.com



 sala de ensaio

 

moram dentro o mar
dois olhos florescentes 
por trás desta paisagem
não são olhos de peixe
são dois feixes de luz
dois faróis brilhantes
que olham infinito
desde um outro tempo
mar de outras eras
nem era primavera 
aquela vez primeira 
nem era quarta feira
na sala de ensaio
diante dos espelhos
os olhos como raios

 

encontraram os meus 
nem brilhavam ainda 
como brilham agora
neste mar de Zeus

 

Artur Gomes 

www.arturfulinaima.blogspot.com

 

 A Arte Existe

Porque a Vida Não Basta

                      Ferreira Gullar

 

- uma cidade sem poesia

é uma cidade doente -

                    Artur Gomes

 

                    a coincidência mineira

deputados cínicos e fascistas 
travestidos de democratas
insuflados por escravocratas
como um mineiro das Neves
apalavrado por Bicudo
transformam dignidade
em uma lata de lixo
ao bel prazer: impunimente 
articulando um GOLPE
descaradamente
como se o Brasil fosse habitado 
exclusivamente por dementes
e não percebesse que a trama
no bastidor foi engendrada
pelo seu vice-presidente
com a idêntica traição
que esquartejou Tiradentes

Federika Lispector

www.brazilicapereira.blogspot.com



A coisa

 

Braulio Tavares

 

Eu quero inventar uma coisa, uma coisa viva, uma coisa que se desprenda de mim e se mova pelo resto do mundo com pernas que ela terá de crescer de si própria;    e que seja ela uma máquina viva, uma máquina capaz de decidir e de duvidar, capaz de se enganar e de mentir. Uma coisa que não existe. Uma coisa pela primeira vez.Uma máquina bastarda feita de dobradiças e enzimas e metonímias e quarks e transistores e estames e plasma e fotogramas e roupas e sopa primordial...     Quero apenas que seja uma coisa minha, uma coisa que eu inventei numa madrugada enquanto vocês dormiam e quando a vi recuei, e quando a soube pronta duvidei, e vi a eletricidade do relâmpago abrindo seus olhos e martelei seu joelho temendo-a, e mandando-a falar, e gritei: "Levanta-te e anda!"- e a coisa era uma galáxia tremeluzindo no centro da folha branca, me olhando com meus olhos de homem, me sorrindo com tantas bocas de mulher, me envolvendo com sua sintaxe de coisa nova que força o mundo a mover-se, fincando uma cunha no Real e se instalando naquela fenda, como um setor a mais invadido um círculo já completo. Eu quero que essa coisa existisse, assim como      eu quis que eu seja. Quero vê-la brotar desarrumando. Coisa criada, cobra criante, serpente criança, criatura sentiente,  existinte,  sente, pensante, cercada pela linha brusca do seu até-aqui Essa coisa me conhecerá e não me reconhecerá     como seu Criador. Essa coisa terá poder de me destruir,     e de me recompor, e me mandar pedir-lhe a bênção. Então pedirei. Sairei pelo mundo. Com minhas próprias pernas. Finalmente leve e livre, tendo parido algo maior do que eu mesmo, e disposto a me abraçar ao mundo, como quem desce do ônibus na rodoviária da cidade onde nasceu. Mas o mundo! O que é esse mundo onde eu ando agora? Olha a cor das casas, o rosto do povo, o som da fala, a manchete dos jornais, o cheiro do vento... que mundo é esse para onde retornarei depois de livre? Fico parado, o coração pulando, e só daqui a pouco perceberei, com uma surpresa antiga — que aquilo não é mais meu mundo: e o mundo da coisa, é o mundo da minha Coisa.






Artur Gomes

FULINAIMAGEM

www.fulinaimagens.blogsot.com

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