Da Cacomanga para o mundo passando pela Tapera Ururaí Lagamar Ibitioca pulando feito pipoca para se equilibrar na corda bamba em terreiros nem sempre de samba quando o jongo e capoeira eram defesa na luta com as palavras nem sempre amenas pacíficas cordiais muitas vezes tão ásperas que o jeito mesmo era o silêncio para não xingar o próprio vento que apertava o calcanhar na vida nem sempre mar de rosas quase sempre espinhos furando a sola dos sapatos
Dia 27 agosto – 20h
Carioca Bar – Rua Francisca Carvalho de Azevedo, 17 – Parque São Caetano – Campos dos Goytacazes-RJ
Goytacá Boy
musicado e cantado por Naiman
no CD fulinaíma sax blues poesia
2002
ando por São Paulo meio Araraquara
a pele índia do meu corpo
concha de sangue em tua veia
sangrada ao sol na carne clara
juntei meu goytacá teu guarani
tupy or not tupy
não foi a língua que ouvi
em tua boca caiçara
para falar para lamber para lembrar
da sua língua arco íris litoral
como colar de uiara
é que eu choro como a chuva curuminha
mineral da mais profunda
lágrima que mãe chorara
para roçar para provar para tocar
na sua pele urucum de carne e osso
a minha língua tara
sonha cumer do teu almoço
e ainda como um doido curuminha
a lamber o chão que restou da Guanabara
Artur Gomes
Juras Secretas
Editora Penalux – 2018
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Artur Gomes
A bio.grafia de um poeta Absurdo
:
com os dentes cravados na memória
*
cacomanga
ali nasci
minha infância era só canaviais
ali mesmo aprendi
a conhecer os donos de fazenda
e odiar os generais
poema do livro Suor & Cio
MVPB Edições - 1985
*
Nasci numa madrugada do dia 27 de agosto de 1948 na Fazenda
Santa Maria de Cacomanga, nas proximidades da Tapera, à época mapeada como 1º
Sub-distrito de Campos dos Goytacazes.
Meus pais: Arthur Ribeiro de Abreu, era o administrador da
Fazenda, e a minha mãe: Cinira Gomes, semi/analfabeta cabia a missão de cuidar
da casa e da educação dos filhos. Meu pai era bem humorado e divertido,
responsável pela organização das grandes festas/juninas que aconteciam na
Fazenda. Já minha mãe era rígida e
severa no trato com os filhos.
Tenho cinco irmãos, filhos de pai e mãe: Ana Maria Gomes,
Regina Lucia Gomes, Vicente Rafael Gomes e Ricardo Gomes. Tive dois outros
irmãos filhos do meu pai: Francisco
Antônio Abreu, com quem convivi até o seu falecimento, e Rubens, que não chegamos
a conhecer, pois faleceu com 8 anos de idade, vítima de tétano.
Não cheguei a conhecer meus avós paternos. Mas os maternos
sim: minha avó era chamada de Dona Moça,
e nós a chamávamos de Mãe Dindinha, e meu avô chamava Leandro Gomes, morava
próximo a nossa casa, trabalhava na capina e era fã de uma boa cachacinha.
Tivemos uma convivência
próxima, com vários primos, que moravam na mesma Fazenda Santa Maria de
Cacomanga, filhos da nossa tia Julita, irmã da minha mãe e os sobrinhos filhos
do nosso irmão Francisco.
Até os meus 7 anos minha vida era brincar no quintal de casa,
com bola de gude, futebol com bola de meia, futebol de grama, soltar pipa,
pique/bandeira e pique esconde e amarelinha e como cia tínhamos sempre os
primos e sobrinhos e alguns colegas e amigos de infância moradores próximos da
nossa casa, que fomos aglutinando durante todo o tempo que permaneci morando na
Cacomanga.
Além das atividades brincantes, tínhamos também a ocupação de
varrer o quintal, cuidar dos cães, dos porcos(que o meu pai criava para consumo
da família), cuidar da pequena hora e do
jardim e a partir da minha criação de preá da índia.
Outras atividades costumeira que tínhamos na
infância/adolescência era caçadas, principalmente de preá do mato, e passarinhos, (rolinhas, quero quero,
marreca), além das pescarias de piaba nos rios da Olinda e Ururaí.
Próximo a Cacomanga , além da Tapera, tínhamos também uma convivência com outras localidade como Olinda,
Morro Grande, Lagoa de Cima, Espinho,
Boca do Mato, Ururaí, Lagamar e Ibitioca.
Sempre tive e tenho uma atração pela aterra e pelo fogo,
depois descobri que essa atração é exercida também pelo mar desde que o vi pela primeira
vez em Atafona, lá pelos idos de 1953.
Em 1955 aos 7 anos de botei fogo no paiol de milho do meu pai.
O paiol era uma construção de madeira, o milho seco ali era guardado para
alimentar os porcos. O prédio tinha dois andares, e no térreo era guardada a
palha seca, que era transformada em adubo orgânico. Esta em cia do meu amigo
Ziel, filho de dona Isabel que trabalhava como copeira na casa de Olivier Cruz,
o proprietário da Cacomanga. Quando o fogo levantou e começou a atingir o
segundo andar, apavorado saltei para o abismo secular da poesia.
Ali estudei até 1957 as 3 séries primárias. Lembro-me que havia apenas uma sala, onde se reunia todos os alunos de cada turno, e a nossa professora se chamava Mercedes. Ali tivemos aulas de Matemática, Português, Ciência e Geografia.
Como nessa época ainda morava na Cacomanga fazíamos uma longa caminha para pegar o ônibus na Tapera. Em Campos o ponto do ônibus ficava ao lado do Mercado Municipal, onde hoje é o Camelódromo. Não foram poucas vezes que enfrentávamos bravias tempestades nos trajetos de casa até a Tapera, na ida ou na volta muitas vezes noite já fechada, o que tornava o momento mais dramático.
De 1958 a 1960 meus estudos primários foram complementados no Grupo Escolar XV de Novembro, onde comecei as minhas primeiras incursões pela cidade propriamente dita de Campos dos Goytacazes. O colégio estava instalado em um prédio centenário na Praça da República, próximo a Rodoviária Roberto Silveira. Ali além de estudarmos, português, matemática, ciências, geografia, história e educação física, desfrutávamos de um imenso pátio com chão de barro e imensas mangueiras, onde deitávamos e rolávamos em jogos de bola de gude, peladas de futebol e basquete. Em 1960 fui preparado pela saudosa professora Maria Gomes, para o exame de admissão para a Escola Técnica de Campos, onde ingressei no Ginásio Industrial em 1961.Na ETC cursei o Ginásio Industrial de 1961 a 1964. Ali muitas
mudanças começaram a se metamorfosear, primeiro a chegada da adolescência e
suas implicações, e a diferença tamanha das
Escolas que tinha estudado até então para aquela que agora começava a fazer
parte da minha travessia, principalmente a convivência com os colegas, quase
todos com idade bem maior que a minha. O período de estudos era manhã e tarde,
além das novidades relacionadas ao esporte, integrados a cadeira de educação física, futebol de
grama, basquete e futebol de salão. Além disso, a integração, ainda se dava na
hora do lanche, manhã e tarde, e do almoço. Além da grande novidade: a Banda Marcial,
famosa em toda a cidade pelos seus grandes desfiles no dia 7 de setembro, muitas
vezes, com ensaios pelas ruas da cidade, que começavam em junho. Tínhamos ainda cerradas disputas de tênis de mesa.
Além das matérias normais ao ensino fundamental: português,
matemática, ciências, geografia, história, literatura, nos 2 primeiros anos, passávamos
por Oficinas de Tipografia, Marcenaria, Sapataria, Alfaiataria, Fundição,
Serralharia e Mecânica. No terceiro ano escolhíamos a Oficina que qual gostaríamos
de nos especializar, e sair da ETC depois de concluído o Ginásio com um Ofício.
O Ensino Industrial foi criado em 1909, pelo campista então
Presidente da República Nilo Peçanha. Campos foi a única cidade na época, sem
ser capital a receber uma Escola de Aprendizes Artífices, primeiro nome dado a
então ETC (Escola Técnica de Campos.
A ETC tinha como Diretor o professor Francisco Pandolfo, e
como vive o professor Edmundo Chagas. Dos professores das matérias de humanas,
lembro-me de quase todos e todas: Alice Nogueira(português), Alceste Peres Pia(canto),
Dulce(matemática), Conceição Ferreira(ciências), Dorâmia(geografia), Antônio
Carlos Carvalho(história).
Das Oficinas: Wilson Monteiro, José Leitão, Thierri
Pires(tipografia), Rosalvo, Adalberto, Walter Freitas, (marcenaria), José Cruz,
Salvador Agminal de Sousa, mais conhecido na cidade por sementinha(sapataria)
exímio jogador de sinuca e apostador em corridas de cavalo. Martinho, José Roque(alfaiataria),
Agnelo(Fundição), José Fagundes(Seralharia) e Hélio Freitas(Fundição). Esse
alguns anos depois se tornou Diretor.
Em 1963, quando cheguei ao terceiro ano do Ginásio Industrial, sem nem mesmo até hoje definir o porque, escolhi a Oficina de Tipografia (Artes Gráficas) e acabei me tornando Linotipista. Minha primeira profissão. Mesmo desde os 12 anos ter trabalhando como lavador de peças de automóveis e caminhões na Oficina da Fazenda Cacomanga, para ajudar o meu irmão Francisco.
O nosso relacionamento com os inspetores: Edmundo Chagas, Élcio Peralva e alguns anos depois Eraldo Ferreira, um ex-aluno, que além de inspetor foi também regente da Banda Marcial, foi sempre divertido. Principalmente com Edmundo Chagas, que comandava as chamas para os lanches e o almoço, de uma forma muito particular com alegria imensa pela missão que desempenha. Tanto el como Eraldo, se tornaram nosso companheiros das cervejadas que pelos bares da cidade, a partir do momento em que a cerveja começou a fazer parte dos momentos de prazer e diversão.
*
Durante todo esse período de 1961 a 1964, dentro da ETC pouco se
falava, em política, governos, e questões sociais, não tínhamos informação
alguma além do que nos era passado nas salas de aulas e nas Oficinas. Mas nas aulas de história com o
professor Antônio Carlos Carvalho começamos a perceber eu algumas coisa
estranha estava acontecendo fora da Escola. Ele era uma figura cômica, que chegava
na Escola pedalando, entrava em sala de de aula todos suado, com paletó todo
entanguido de suor, tirava do bolso um lenço mais amassado que o paletó, e
limpava o rosto, enquanto rezava um padre nosso, ritual cumprido sagradamente
todos os dias.
É dele o momento mais hilário que testemunhei na ETC em 1964.
No dia 31 de março ao meio dia, já estávamos na sala, o aguardando para aula de
história, ele chegou da mesma forma como
chegava todos os dias, só que um detalhe nos chamou a atenção de imediato.
Depois de enxugar os rosto suado, com o seu lenço todo
amarrotado, tirou do bolso do paletó um radinho de pilha, ligado enquanto ele
iniciava a aula que era sempre calcada em passagens bíblicas, como ele mesmo
gostava de afirmar.
- “e aí Jesus gritou para a serpente”: “porei inimizade entre
ti e a mulher, a tua descendência e a descendência dela, e um dia haverá um que
te esmagará a cabeça.”
Dito isto colou o ouvido ao radinho de pilha e de repente soltou um grito:
“meus amigos estamos livres do comunismo”! O exército acabara
de consumar o Puta Golpe!
Em 1965 trabalhei como linotipista(minha primeira profissão),
no Jornal A Cidade, em Campos dos Goytacazes. A jornada de trabalho
estabelecida era das 2oh a 1 da madrugada, mas quase sempre ultrapassava às 5
horas da manhã.
Neste ano, estudei contabilidade na Escola Técnica do Comércio, que era situada na Av. Alberto Torres, acredito que o local hoje é o Bar do Cabeça.
Em 1966 tem início os cursos técnicos a nível de segundo grau na ETFC, Eletrotécnica, Edificações e Mecânica. Eu ingresso no curso de Eletro. Passo a trabalhar no Escritório da Cerâmica Cacomanga, como aprendiz de escriturário e me alisto para servir o Exército.
Em 1967 numa noite fatídica, sou atropelado por um caminhão da Cerâmica São Sebastião, na Beira Valão, em frente ao Mercado Municipal de Campos dos Goytacazes-RJ. Fui socorrido por um motorista de uma caminhonete que passava pelo local. Levado para o SAMDU da Rua Saldanha Marinho, sou imediatamente levado para a Santa Casa, onde passo por uma cirurgia que me deixa em coma por 58 dias.
Mesmo ainda me recuperando, da cirurgia, em maio de 1967 sigo de trem para o Rio de Janeiro servir o exército no Quartel de Cavalaria de Guardas - Dragões da Imdependência, situado na Rua Pedro II esquina com Figueira de Melo, em São Cristóvão, onde permanecemos até o mês de dezembro daquele mesmo ano. A passagem por esses 7 meses de quartel no Rio, não foi nada fácil, sofriámos opressão de todas as formas dos oficiais: Tenentes, Capitães, Major e do coronel comandante João Batista de Oliveira Figueiredo.
Em setembro de 1967, meu pai, Arthur Ribeiro de Abreu, faleceu, e só dois dias depois consegui licença para vir em casa, e acabei não vendo o seu sepultamento.
Em dezembro deste mesmo ano de 1967, o quartel foi transferido para Brasília, lá a missão foi terminar a construção do Quartel cuja obra estava inacabada. Cada soldado, que permaneceu incorporado trabalhou até maio de 1968 na profissão havia aprendido em sua adolescência. Eu como sabia datilografia fui trabalhar no Escritório do segundo esquadrão, pelotão onde fui lotado.
Como os fundo do quartel dava para o cerrado, e não havia muro, descobrimos uma trilha que ia até Taguatinga, foi a nossa grande válvula de escape para as fugas noturnas até os bares da referida cidade satélite. Dentro do quartel o discurso era um só: éramos os patriotas na missão de salvar o Brasil do comunismo. Triste ilusão.
Durante todo o tempo que permanecei no exército, no Rio, recebia visita do meu primo Antônio Abreu, e muitas vezes passava os finais de semana na casa dele em Deodoro, onde ele mantinha o seu arsenal de Tubos Plásticos, que ele comercializava. E sua intenção era que quando eu saísse do exército viesse a ser um de seus gerentes de loja.
Em maio de 1968, recebi baixa e viajei de ônibus de Brasília para o Rio, e de lá para Campos para re-ver minha família na Cacomanga. A ideia era matar a saudade de casa e seguir para o Rio para assumir o trabalho de Gerente de alguma loja do meu primo Antônio Abreu, o que a minha mãe era totalmente contra. E eis que, depois de uma semana revivendo a Cacomanga, recebo a visita de um jeep, lotado de colegas do Ginásio Industria da ETC, com um recado do professor José de Oliveira Leitão, que foi quem me ensinou a trabalhar na linotipo, para que eu comparecesse à Escola, para assumir na Tipografia a vaga de linotipista, o que aconteceu em julho de 1968, e até janeiro de 1970, trabalhei na Oficina de Tipografia da ETFC, pelo regime de serviço prestado.
Em primeiro de janeiro de 1970, minha carteira de trabalho foi assinada por Renato Marion de Aquino, o então Diretor da ETFC, sendo regido a partir de então pela CLT.
Durante o meu período de atuação como linotipista na tipografia da ETFC, que durou de 1970 a 1986, tive os amigos de trabalho: Edmundo Chagas Filho, Salvador Ferreira, Josias de Souza, Paulo Moura, Thierry Pires e José de Oliveira Leitão tendo como chefe o professor Wilson Monteiro.
Até 1973, os anos transcorreram em paz, trabalhava intensamente para dar conta do material da Escola que chegava às minha mãos para linotipar, ou de alguma outra instituição da cidade que a Tipografia prestava serviços de impressão.
Como O Ofício da Escrita Entrou em Minha Vida
Não sei exatamente quando, em que ano, comecei a escrever, lembro-me que enquanto servia o exército escrevia carta para os meus familiares.
Mas sei que durante todos os anos de 1971, 1972 e 1973, o hábito de escrever compulsivamente já me acompanhava, sem ter a mínima noção de estética, domínio ou técnica de linguagem, fosse verso prosa fosse, o impulso era o de despejar palavras no espaço branco do papel, como quem estivesse desenhando uma porta de saída para a prisão imaginária onde me encontrava.
E desse transe nasceram os livros : Um Instante no Meu Cérebro, 1973. Mutações em Pré-Juízo, 1975 e Além da Mesa Posta, 1977. Ambos escritos compostos por mim na linotipo e impressos na Tipografia da Escola Técnica Federal de Campos.
Um Instante no Meu Cérebro, ganhou prefácio de Renato Marion de Aquino, o Diretor da ETFC, a primeira pessoa dentro da Escola a incentivar minhas habilidades poéticas. Além de me presentear com o papel para a impressão do livro, ainda ofereceu um belo coquitel no lançamento dia 23 de setembro de 1973. Há 52 anos exatamente.
Em 1973 o fidelense, Carlos Castilho, um estudante do Curso Técnico de Mecânica na ETFC, musicou um poema meu, e fomos selecionados para um Festival de Música Anti-Drogas em São Fidélis-RJ.
Em 1974 ganho um outro parceiro fidelense, Paulo Celso Rodrigues de Araújo - Ciranda, Que musicou o poema Tema de Encontro do livro Um Instante no Meu Cérebro. Ciranda na época estudava no Colégio Salesiano em Campos, o que possibilitou estarmos constantemente envolvidos no ato de compor, algumas parcerias também surgiam quando não estávamos juntos, ele me trazia um canção para letrar, ou eu oferecia uma letra para ser musicada.
E assim nasceu Caminho de Paz, música nossa vencedora do IV Festival de Música de São Fidélis-RJ, em 1974. Na época eu estava completamente apaixonado pelas músicas do Taiguara, e muitas letras/poemas escrevi ouvindo-o no rádio, pois em casa na Cacomanga não existia Televisão. A parceria com Paulo Ciranda se consolidou e permanece até os dias atuais.Em 1974, depois da nossa vitória no IV Festival de Música de São Fidélis, Antônio Roberto de Góis Cavalcanti - Kapi, produz e dirige o musical Gotas de Suor, realizado no Teatro de Bolso, com a nossa banda A Turma do Campo, que em seu elenco tinha mais dois componentes ligados a ETFC: Deneval Apollinário (baixista), aluno do Curso Técnico de Eletrotécnica, e Maria Inês(fofinha), aluna do Curso Técnico de Edificações(vocalista) e na época minha namorada. Antes do Teatro de Bolso, fizemos uma apresentação no Clube de Regata Campista, logo depois que voltamos do Festival em São Fidélis, a convite do radialista Ismael Luis(Bolinha), foi quando pisei no palco pela primeira vez, falando poesia.
Em 1975 lanço Mutações Em Pré-Juízo, com prefácio de Marcos Wagner Coutinho, poeta, e professor de Letras na ETFC, nesse livro a minha escrita beirava o simbolismo e o misticismo, já com alguma noção de estética e de linguagem, a técnica e o domínio já podia ser medido nos versos e na prosa. Por se tratar uma temática aparentemente religiosa, o livro causou um certo incômodo na cidade, principalmente dentro da ETFC, onde a maioria de professores e funcionários pertenciam a ala tradicional da igreja católica.
Em 1975 mesmo, Deneval Siqueira Filho, um ex-aluno do curso técnico de Edificações da ETFC, adapta textos e poemas de Mutações em Pré-Juízo, e do ainda inédito Além da Mesa Posta para o Teatro, e nasce o espetáculo/drama: Judas - O Resto da Cruz, para espanto ainda maior dos professores e funcionários da Escola Técnica Federal de Campos.
Não resta nenhuma dúvida, que atuar em Judas - O Resto da Cruz foi o que me levou a encontrar definitivamente a minha vocação de ator e transformá-la em profissão. Em 1975 mesmo movido por todas as emoções vividas na encenação crio na ETFC a Oficina de Teatro, e monto uma outra versão de Judas - O Resto da Cruz, realizada no SESC, com um elenco formado por estudantes do Curso Técnico de Química da ETFC, direção de Ronaldo Pereira. Acrescento mais textos do livro Além da Mesa Posta, e atuo interpretando o Judas.
Em 1975 acontece a minha primeira experiência com Teatro do
Absurdo, atuo ao lado de Maria Helena Gomes na peça Fando e Lis, de Fernando
Arrabal, montagem dirigida por Orávio de Campos Soares, no SESC Campos. Por
conta da minha interpretação sádico/dramática, de Fando, perdi minha namorada Zulmira, sobrinha
de Josélia Addad, na época gerente do SESC Campos.
Em 1975, sou convidado a compor a Comissão Julgadora do Festival de Poesia Falada, em Santa Maria de Madalena-RJ. Onde conheci Eurídice Hespanhol Macedo, a melhor intérprete do Festival.
Em 1976 arisco o meu primeiro espetáculo de teatro/solo com a montagem de "25 Anos de Sonho & Sangue" no SESC Campos. Inspirado na música Apalo Seco, de Belchior, que ouvia por todos os lugares que estivesse.
"se você vier me perguntar por onde andei no tempo em que você sonhava de olhos aberto lhe direi amigo eu me desesperava". Apalo Seco, passeava por toda a encenação na trilha sonora, impulsionando a minha interpretação. Quase todo texto da montagem estava focado nos poemas do livro Além da Mesa Posta.
Em 1976, volto a Santa Maria Madalena para apresentação do monólogo: "25 Anos De Sonho & Sangue", a convite do grupo de estudantes que movimentavam arte e cultura .a cidade. Eurídes era uma das integrantes desse grupo, e depois da apresentação, como já trocávamos uma intensa correspondência, começar um namoro, foi natural e permanecemos namorando até o final de 1977.
Em 1976 Balada Pros Mortais, música em parceria com Paulo Ciranda, vence o Festival de Música de Itaocara-RJ, e posteriormente o Festival Universitário no Rio de Janeiro, promovido pela Universidade SES-Rio, onde o Ciranda cursava Engenharia.
Em 1977, lanço o livro Além Da Mesa Posta, com textos de apresentação de Celso Cordeiro, um grande jornalista e amigo e de Orávio de Campos Sorares, e profetiza, que o seguimento da minha obra poÉtica iria se debruçar no sócio/político, questões que ele já vislumbrava mesmo que de forma tímida, no Além Da Mesa Posta.
Em 1997 Ave da Paz, uma música em parceria com Paulo Ciranda, foi finalista no Festival de Música de Itaocara-RJ e atuo interpretando o Arauto, na montagem do "Auto da Vila de São Salvador" concebida e dirigida por Winston Churchil Rangel, nas escadarias do Ginásio de Esportes da Escola Técnica Federal de Campos. Com esta atuação estava sacramentada a minha condição de ator na cena campista.
Em 1978 com o poema "Canta Cidade Canta" venci o Festival de Poesia Falada, criado pelo jornalista e poeta Amaro Prata Tavares, realizado no Teatro de Bolso pelo Departamento Municipal de Cultura da Secretaria de Educação de Campos dos Goytacazes-RJ.
Em 1978 atuo pela primeira vez como Diagramador no Jornal Folha da Manhã, o primeiro jornal com impressão off-set na Região Norte-Fluminense. Além de atuar na diagramação assinava na Folha 2, um coluna sobre música e cultura aos domingos, e produzi várias entrevistas com os músicos do estrelato nacional que se apresentavam na cidade. Uma das melhores entrevistas que fiz, foi com Milton Nascimento, por ocasião do seu show no Grussaí Paia Clube.
Em 1979, participo da Antologia Ato-5, editada pelo Grupo Uni-Verso, que era composto pelos poetas: Amélia Alves, Joel Mello, Prata Tavares, Eloisa Flac e Luiz Sérgio Azevedo dos Santos.O livro fo composto por mim na linotipo e impresso na tipografa da ETFC, a capa com ilustração de Edinho Estrobel, foi impressa em off-set na gráfica Damadá em Itaperuna-RJ, com poesia dos poetas: Antônio Roberto de Góis Cavalcanti-Kapi, Artur Gomes, João Vicente Alvarenga, Orávio de Campos Soares e Prata Tavares.
Nele a profecia de Orávio de Campos, começava a se cumprir e todos os meus poemas inseridos em Ato-5, são de cunho sócio.político como este:
Poema Para O Povo
Em Tempo de Abertura
quando você descobvrir
que no meu quarto moram
exilados e subversivos
perceberá o perigo que corre
de dormir comigo
numa cama fria de uma "Frei Caneca"
ou se manda de vez
para a esquerda de Jesus!
quando nas grades,
paredes e muros descobrir amor,
o povo estará liberto
e poderá seguir: Fidel,
Guevara, Pablo, Neruda ou "Luther King".
- sem precisar pedir esmola -
basta lembrar que o aborto
da manhã perdida
é uma menina/nua iconsciente e tesa
E para o que foi deposto:
mais vale o céu, a estrela,
o mar,
que o punhal ou sabre,
ou mesmo a bomba/besta
que de uma vez arrasa
mas não basta por si só
Pois se os sinais dos templos
ainda não ruíram
é porque alguma coisa ainda existe
por detrás das crenças
ou mesmo desse Deus
em Quem acreditamos.
e para o que foi detido:
mais vale a terra,
o trigo,
o grão,
que a navalha ou corda -
que amarra prende e corta;
mas não basta.
não reforça
e nem destrói tudo de uma vez.
- porque renasce e continua...
E para a morte:
não é preciso golpes,
nem estrelas,
nem estradas.
e para o povo:
não é preciso o golpe
nem promessas nem palavras
É preciso pão!
Com esse poema no mesmo ano de 1979 venci mais uma vez o Festival de Poesia Falada de Campos e por sua interpretação na Semana de Cultura Popular no SESC da Tijuca Rio, em 198o foi preso pelo Dops e levado para o Batalhão da PM para averiguação.
Em 1979 ainda, lanço o poema de cordel Jesus Cristo Cortador de Cana. Poema que no final de 1983 ilustra uma matéria de capa, no Suplemento Cultural do DO de São Paulo, sobre a Mostra Visual de Poesia Brasileira, e em 1989 me serve de espinha dorsal para a criação de um espetáculo teatral, sobre o TCC de 9 Estudantes da Escola de Serviço Social da UFF em Campos, sobre pesquisa realizada com mulheres de cortadores de cana, da Usina de Outeiro.
Em 1980 totalmente mergulhado nas questões sócio/políticas que envolviam o Brasil como um todo, com as circunstâncias provocadas pelo Golpe de 1964 e os já 20 anos de Ditadura Militar, escrevi o livro O Boi-Pintadinho, com prefácio de Osório Peixoto, o nosso grande mestre da cultura popular em Campos dos Goytacazes-RJ e responsável por minhas participações na Semana de Cultura Popular, criada pelo professor Ivan Cavalcanti Proença, realizadas no SESC da Tijuca Rio, pelo Colégio Metodista Bennett onde Ivan, era coordenador da matéria Cultura Popular.
levanta meu boi levanta
que é hora de levantar
acorda boi povo todo
povo e boi tem de lutar
Com a repercussão que o livro imediatamente ganhou pelo Brasil, montei com os alunos da Oficina de Teatro da ETFC, o Auto do Boi-Pintadinho, espetáculo de Teatro de Rua com o qual balancei as estruturas pela ruas da cidade de Campos dos Goytacazes até 1987.